O dilema racial nas grafias biográficas sobre Machado de Assis
Palavras-chave:
Machado de Assis, Biografia, Afrodescendência, RacismoResumo
Entre os anos 1908 e 1939, as leituras realizadas por diversos escritores e críticos sobre a vida de Machado de Assis revelavam um escritor avesso às questões raciais de seu tempo. Elas o acusavam de seu distanciamento dos temas sensíveis à época, tais como o Abolicionismo e a implantação da República. Os discursos de intelectuais e cientistas, motivados pelo espírito cientificista-racista no Brasil do século XIX, também influenciaram no apagamento da afrodescendência de Machado, que foi considerado branco em seu atestado de óbito. Somente no decorrer da década de 1930, a partir do bem-sucedido estudo crítico-biográfico de Lúcia Miguel Pereira (1988), começou-se a reivindicar a identidade negra do escritor. Isso posto, por meio dos estudos antropológicos, sociológicos e crítico-ensaísticos, situaremos os modos pelos quais o racismo científico, concomitantemente com fim da escravidão e com novo projeto político, influenciaram a consolidação de leituras brancas sobre a memória de Machado.
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