No final do século passado, tanto a hermenêutica quanto a filosofia analítica entraram em grave crise, preparando o terreno para uma “virada pragmática” que combina, respectivamente, um padrão metódico que evitou o irracionalismo ou o nilismo cru (Habermas), e um contexto interpretativo que evitou a análise infinita desprovida de qualquer significação, um horizonte ideal (Brandom, Marconi, Putnam). Este artigo acompanha a crise em uma base comum kantiana que demonstra sua insuficiência em vários campos: raciocínio hipotético, processos criativos, atos diários de verdade e crenças. Usando os insights peircianos, tentarei explorar crenças, porque elas possuem um raciocínio peculiar que a filosofia clássica e, a fortiori, críticos e seguidores de Kant têm negligenciado. Conforme veremos, a visão de Peirce sobre a crença decorre da continuidade entre realidade e pensamento, e abre um novo entendimento do raciocínio, para além da distinção kantiana entre analítico e sintético.