Depois de 1900, Peirce esteve empenhado no desenvolvimento de sua teoria dos signos, particularmente na teoria dos interpretantes, e, ainda mais especificamente, na teoria dos interpretantes lógicos, pois nestes estaria a pedra de toque para a unificação do pragmatismo com a teoria dos signos. Em 1907, ele declarou que o problema do significado de um conceito intelectual só poderia ser resolvido com o estudo dos interpretantes, ou efeitos propriamente significados dos signos. Foi nesse contexto que Peirce elaborou sua famosa subdivisão dos interpretantes em emocional, energético e lógico. Em 1968, Peirce havia afirmado que o interpretante de um pensamento é outro pensamento e que esse processo é teoricamente infinito. Muitos autores impressionados com essa afirmação, sem se darem ao trabalho de seguir o desenvolvimento desse conceito ao longo da obra de Peirce, concluíram pela tão citada semiose infinita. Umberto Eco, por exemplo, foi um dos autores a tirar partido dessa noção de infinitude. O objetivo deste trabalho é discutir a transformação por que esse conceito de interpretante passou na obra peirceana, especialmente depois de 1907, quando Peirce introduziu sua noção de interpretante lógico. Essa noção mudaria a idéia – que infelizmente continua sendo tão propalada – de que a semiose é um processo infinito abstrato, sem conexão com o agir humano. Se assim fosse, a semiose não teria conexão com o pragmatismo. Quando descobriu o papel do interpretante lógico no hábito e do interpretante último na mudança de hábito, Peirce aliou a natureza processual da semiose com o pragmatismo. Dessa síntese resultou o caráter evolucionista do seu pragmatismo.