Partindo da obra Warheit und Rechtfertigung (Frankfurt: Suhrkamp, 1999) de J. Habermas, e mais especificamente das explicitações dadas em sua “Introdução”, explicito a resposta dada por Habermas à questão epistemológica do realismo: como conciliar ao mesmo tempo o postulado de um mundo independente de nossas descrições, e idêntico para todos os observadores, e a descoberta da filosofia da linguagem, segundo a qual não temos um acesso direto, não mediatizado pela linguagem, à realidade “nua”. Ou seja, explicito como ele foi conduzido a proceder a uma revisão que liga agora o conceito de aceitabilidade racional a um conceito pragmatista de verdade, mas sem assimilar assim a “verdade” a uma “asseverabilidade ideal”. Trata-se, portanto, de explicitar o que Habermas já tinha elaborado em 1996, no seu ensaio sobre o neopramatismo de Richard Rorty (“Rorty’s pragmatische Wende”, Deutsche Zeitschrift für Philosophie, nº 44, p. 715-741), reimpresso aqui (capítulo 5 de Warheit und Rechtfertigung) e que foi publicado, em 1998, em sua tradução inglesa [“Richard Rorty’s Pragmatic Turn”], na coletânea de textos de HABERMAS, editada por Maeve COOKE, On the Pragmatics of Communication (Cambridge, Mass., The MIT Press), p. 343-382. A estratégia naturalista de Rorty, conclui Habermas, “conduz a um nivelamento das categorias de tal modo que as nossas descrições tornam-se insensíveis a certas diferenças que, na prática, fazem uma diferença”.