“Si conceptualizamos mal, politizamos mal” e o esvaziamento do conceito “liberdade” em traduções visuais

Autores

  • Amanda Monteiro Gonçalves Universidade do Estado de Minas Gerais
  • Sérgio Antônio Silva Universidade do Estado de Minas Gerais

Palavras-chave:

liberdade, pragmatismo, linguagem visual, conceito

Resumo

Percebemos a pós-modernidade tratando conceitos como um adversário a se despir de contornos na busca por um ideal de fluidez – o resultado dessa abstração é a vagueza. Conceituar, no entanto, encontra raízes no pragmatismo peirciano; ou seja, na aplicabilidade da ideia no real. Esvaziar conceitos fundamentais em prol de subjetividades dispersas dificulta a comunicação, o que tende a aumentar a despolitização: a partir daqui, trazemos a citação da filósofa Celia Amorós que compõe o título. Reconhecemos que conceituar é uma referência importante para conhecer. É uma maneira de compreender nosso entorno, e negá-lo só faz aumentar o sofrimento no processo de nos entendermos no mundo. Aprender a dar contornos a termos e ideias continuadas é também reconhecer-se na linguagem, tornando possível o compartilhamento de sistemas sígnicos, algo imprescindível para que a comunicação aconteça; afinal, os repertórios dos sujeitos devem se tangenciar para possibilitar um diálogo (Torres, 2006, p. 105). A partir do pressuposto de que esse esvaziamento se reflete na comunicação visual, influenciando nosso repertório e, consequentemente, na maneira como propagamos ideias, direcionamos nosso olhar para imagens que buscam representar um conceito polissêmico, familiar, alvo de muitas torções: liberdade, em torno de padrões retóricos, utilizando da pesquisa por palavras-chave em plataformas de busca por imagens. Iniciamos o artigo tratando da função de conceitos como um contraponto ao ideal de vagueza e, em especial, sua importância na comunicação e no design, onde marca um dos pontos iniciais do processo criativo. Levantamos alguns dos sentidos que o termo “liberdade” carrega: etimologicamente, na filosofia, na política, na sociologia. Em seguida, partimos para a coleta de imagens gráficas, capas de livros e iconografias. Por fim, verbalizamos o que cada imagem tende a retratar a fim de classificá-las e compará-las com as informações recolhidas a respeito do conceito “liberdade” e organizamos os resultados em quadros de padrões retóricos. Com essa triagem e posterior comparação dos resultados, pareando-os com alguns dos sentidos levantados, apontamos como o esvaziamento do conceito pode se refletir em suas traduções visuais, influenciando nossa capacidade crítica, e de que maneira a máxima pragmática de Peirce pode nos auxiliar na produção e leitura de signos visuais simbólicos; isto é, na significação dos conceitos, objeto da análise pragmática. Comparamos alguns dos sentidos de liberdade e sua tradução intersemiótica para avaliar a abertura semântica que tende a ser incorporada. De maneira mais profunda, procuramos perceber nas sutilezas das repetições as tendências de esvaziamento e tensionamento da linguagem e tratar pontos conceituais cruciais de maneira despreocupada e acrítica, dificultando a elaboração em cima de certos termos e ideias.

Biografia do Autor

Amanda Monteiro Gonçalves, Universidade do Estado de Minas Gerais

Mestre em Design (Escola de Design/UEMG) e bacharela em Design Gráfico (2018) pela mesma instituição. Cursando a especialização em Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia (PUC/RS). Na pesquisa, tenho dois grupos de interesse: a semiótica como perspectiva para a contemporaneidade, a produção de sentido e percepção da realidade; e a estética com seus desdobramentos, em especial, para noções de utilidade, valor e credibilidade. Outros tópicos de investigação são processos criativos, crítica de processos, design da informação e design editorial. Atuo como designer com foco nas áreas de editorial, design da informação e produção gráfica.

Sérgio Antônio Silva, Universidade do Estado de Minas Gerais

Professor, pesquisador e atual coordenador (2023-2025) do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais PPGD/UEMG. Atua com disciplinas, orientações e pesquisas ligadas à à tipografia, à escrita e ao design gráfico. Líder do grupo de pesquisa grafia: estudos da escrita. Coordenador (2022-2023) da Rede Latino-americana de Cultura Gráfica. Graduado em Letras, com mestrado em Literatura Brasileira e doutorado em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários da UFMG. Pós-doutorado em História da Cultura pela Universidade Nova de Lisboa. Diretor da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais ED/UEMG, nos anos de 2019-2020. Autor dos livros A hora da estrela de Clarice e Papel, penas e tinta: a memória da escrita em Graciliano Ramos, e organizador do Livro dos tipógrafos, entre outros.

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Publicado

2025-06-30

Edição

Seção

Artigos Cognitio-Estudos