Um palpite sobre o enigma de Schultes
Palavras-chave:
Artefatos Cognitivos, Estética, Etnobotânica, Kant, PeirceResumo
Entre 1941 e 1953, Richard Evans Schultes, considerado o principal nome da etnobotânica, realizou intensa pesquisa de campo entre comunidades indígenas na Amazônia colombiana, peruana e brasileira. Durante esse período, catalogou mais de 1.200 novas espécies botânicas e investigou profundamente os usos culturais e medicinais de plantas com potencial de alteração da consciência. Seu principal interesse de estudo esteve relacionado à Banisteriopsis Caapi, uma videira nativa usada na preparação da Ayahuasca. Em um artigo de 1986, Schultes relatou um enigma intrigante: como os informantes indígenas conseguiam identificar, à distância e sem hesitação, o quimiotipo de diferentes variantes dessa espécie? Neste trabalho, examinamos o enigma de Schultes sob a perspectiva da filosofia da cognição, especialmente a partir das contribuições de Kant e Peirce. Propomos um roteiro investigativo que, através da análise de conceitos-chave da proposta filosófica destes dois autores, nos permita especular possíveis hipóteses para resolução do enigma. No decorrer deste roteiro, consideramos diferentes abordagens sobre a cognição humana, a estética, as possibilidades de expansão cognitiva por meio de artefatos biológicos e divergências e convergências de diferentes concepções epistemológicas. Como conclusão, propomos que, no contexto analisado, a Ayahuasca pode ter sido utilizada por nativos ameríndios como artefato cognitivo com potencial de ampliação das capacidades perceptivas. Assim, em nossa abordagem, o enigma de Schultes se revela não apenas como um desafio etnobotânico, mas como a porta de entrada para a investigação de questões mais amplas sobre o conhecimento humano e suas possibilidades.
Referências
ADAY, J. S. et al. Increases in aesthetic experience following ayahuasca use: a prospective, naturalistic study. Journal of Humanistic Psychology, v. 0, n. 0, 2024. https://doi.org/10.1177/00221678241230609
BAUMGARTEN, A. G. Aesthetica. [S.L]: Kleyb, 1750.
CARHART-HARRIS, R. L.; GOODWIN, G. M. The therapeutic potential of psychedelic drugs: past, present, and future. Neuropsychopharmacology, v. 42, p. 2105-2113, 2017. https://doi.org/10.1038/npp.2017.84
CLARK, A. Being there: putting brain, body, and world together again. Cambridge: MIT Press, 1997.
CLARK, A.; CHALMERS, D. The extended mind. Analysis, v. 58, n. 1, p. 7-19, 1998. https://doi.org/10.1093/analys/58.1.7
CLARK, A. Natural born cyborgs: minds, technologies, and the future of human intelligence. Oxônia: Oxford University Press, 2003.
GRIECO, S. F. et al. Psychedelics and neural plasticity: therapeutic implications. Journal of Neuroscience, v. 42, n. 45, p. 8439-8449, 2022. https://doi.org/10.1523/JNEUROSCI.1121-22.2022
IBRI, I. Kósmos Noetós: a arquitetura metafísica de Charles S. Peirce. 1. ed. São Paulo: Perspectiva e Hólon, 1992.
HOFMANN, A.; SCHULTES, R. E. Plants of the Gods: their sacred, healing, and hallucinogenic powers. New York: McGraw-Hill, 1979.
KAAG, J. Thinking through the imagination: aesthetics in human cognition. New York: Fordham University Press, 2014.
KANT, I. Crítica da razão pura. Petrópolis: Vozes, 2015.
KANT, I. Crítica de la facultad de juzgar. Trad. J. L. Pérez. [S.L]: Editorial ABC, 1970.
PEIRCE, C. S. Collected papers of Charles Sanders Peirce. Ed. by: C. Hartshorne & P. Weiss (v. 1-6); A. Burks (v. 7-8). Cambridge, MA: Harvard University Press, 1931-58. Volume 8. CP, seguido dos números do volume e do parágrafo.
PIMENTA, F. J. P. Indeterminação; o “Admirável”; a Crescente Comunicabilidade. FAMECOS, Porto Alegre, v. 16, n. 38, p. 37-43, 2009. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2009.38.5299
PIMENTA, F. J. P. A hipótese da Comunicação também como ciência da vida. Questões Transversais, v. 3, n. 6, jul./dez., 2015.
PIMENTA, F. Ambientes multicódigos, efetividade comunicacional e pensamento mutante. 1. ed. São Leopoldo: Unisinos, 2016.
QUEIROZ, J. Peirce’s externalism and the semiotic mind: a pragmaticist approach to cognitive science. Signs, v. 1, n. 1, p. 37-50, 2021.
QUEIROZ, J.; FARIAS, P. Semiosis and pragmaticism: towards a peircean view of cognitive artifacts. Cognitive Semiotics, v. 10, n. 2, p. 32-48, 2017.
ROMANINI, V. A contribuição de Peirce para a Teoria da Comunicação. CASA, v. 14, n. 1, 2016, p. 13-56, 2018. https://doi.org/10.21709/casa.v14i1.8082
RUFFELL, S. et al. The pharmacological interaction of compounds in ayahuasca: a systematic review. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 42, n. 6, p. 646-656, 2020. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2020-0884
SALATIEL, J. P. Realismo escolástico e a continuidade em Peirce. Revista de Filosofia, v. 12, n. 3, p. 170-180, 2020.
SANTAELLA, L. Estética de Platão a Peirce. São Paulo: Experimento, 1994.
SANTAELLA, L. Os significados pragmáticos da mente e o sinequismo em Peirce. Cognitio, São Paulo, n. 3, p. 97-106, jan. 2002.
SANTAELLA, L. Por que a semiótica de Peirce também é uma teoria da comunicação. Cuadernos de la Facultad de Humanidades y Ciencias Sociales - Universidad Nacional de Jujuy, n. 17, p. 415-422, 2001.
SCHULTES, R. E. Recognition of variability in wild plants by Indians of the Northwest Amazon: an enigma. Journal of Ethnobiology, v. 6, n. 2, p. 229-238, 1986.
SCHULTES, R. E.; RAFFAUF, R. F. El bejuco del alma: Los médicos tradicionales de la Amazonia colombiana, sus plantas y sus rituales. Bogotá: Fondo de Cultura Económica, 2004.
SCHULTES, R. E. Hallucinogenic plants: a golden guide. Ilustrações de Elmer W. Smith. New York: Golden Press, 1976.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
