História cultural e múltiplas temporalidades
Estratos temporais históricos e atropológicos no texto historiográfico
Palavras-chave:
Teoria da História, Historiografia, Multiplas Temporalidades, História CulturalResumo
As múltiplas temporalidades na narrativa historiográfica são analisadas à luz da reconfiguração epistemológica entre História e Antropologia, considerando as denominadas "novas metafísicas do tempo" na teoria da História. Este trabalho tem como objetivo demonstrar como a incorporação de fontes etnográficas na escrita histórica produz uma heterocronia constitutiva, marcada pela coexistência de múltiplos estratos temporais. Por meio da análise textual de O Diabo e a Terra de Santa Cruz (1986), de Laura de Mello e Souza, investigam-se os procedimentos que articulam evidências de temporalidades múltiplas e heterocronias do tempo histórico. Os resultados revelam a evidência de sobreposição de estratos temporais no diálogo com a Antropologia assim como camadas temporais heterogêneas que compõem a narrativa. Conclui-se que essa perspectiva não apenas abre novas possibilidades e desafios para a teoria da História, mas também reconfigura a compreensão da multiplicidade temporal como uma categoria constitutiva da historiografia.
Referências
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, o ofício de historiador. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BARROS, José D´Assunçao. Os usos da temporalidade na escrita da História. Saeculum, Revista de História nº 13; João Pessoa, jul./dez. 2005.
BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais: a longa duração. In: Escritos sobre a história. Trad. Maria Lúcia Machado. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 91-131.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2005.
BELIEIRO, Thiago Granja. A presença dos Annales no programa de pós-graduação em história da Universidade de São Paulo (1985-1994). Curitiba: Casa Publicadora, 2021.
CARDOSO JR., Hélio Rebello. An Overview of Time Studies in the Theory of History after the 2000s: Issues, Concepts, Trends, and Subtrends, with a Special Focus on the New Metaphysics of Historical Time. History and Theory, One More Thing, p. 1-20, 2024.
CARDOSO JR., Hélio Rebello; MUDROVCIC, Maria Inés; LANDWEHR, Achim. Times of History: An Overview of Time Studies Related to the Theory of History (Concepts, Issues, and Trends). História, São Paulo v. 42, p. 1-17, 2023.
CARDOSO JR., H. R. Varieties of Temporalization: Disciplinary Tasks Related to Historical Time. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1–26, 2023. DOI: 10.15848/hh.v16i41.2032. Disponível em https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/2032. Acesso em: 8 jul. 2025.
CERTEAU, Michel. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
FOUCAULT, Michel. Outros espaços. In: Ditos e escritos V. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. p. 415-432.
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais: Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
HELGESSON, Stefan. Radical Time in (Post) Colonial Narratives. In: The Ethos of History Time and Responsibility. Ed. By SVENUGSSON, Jayne and HELGESSON, Stefan. New York: Oxford, 2018.
HELGESSON, Stefan. Radicalizing Temporal Difference: Anthropology, Postcolonial Theory, and Literary Time. History and Theory, vol. 53, pp. 545-562, 2014.
KLEINBERG, Ethan. Introduction: The New Metaphysics of Time. History and Theory, n. 1. 2012.
KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro:Contraponto: PUC-Rio, 2014.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos.Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
KUUKKANEN, Jouni-Matti. Postnarrativist Philosophy of Historiography. London: Palgrave Macmillan, 2015.
LE GOFF, Jacques. História e memória. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 1990.
MÉTRAUX, A. A religião dos Tupinambás. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1950.
PROST, Antoine. Doze lições sobre história. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2014.
PRITCHARD, Evans. Witchcraft, oracles and magic among the Azande. London, Oxford University Press, 1950.
EVANS-PRITCHARD, E. E. Os Nuer: uma descrição do modo de subsistência e das instituições políticas de um povo nilota. Tradução de Ana M. Goldberger Coelho. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
REIS, José Carlos. Nouvelle Historie e Tempo Histórico: a contribuição de Febvre, Bloch e Braudel. São Paulo, Ática, 1994.
SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a terra de santa cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil Colonial. São Paulo: Cia das Letras, 2011.
THOMPSON, E.P. Costumes em comum: Estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
ZAMMITO, John. Koselleck’s Philosophy of Historical Time(s) and the Practice of History. History and Theory, vol. 43, pp. 124-135, 2004.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Gabriel Neto Piva, Thiago Granja Belieiro

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.