A mulher, a cidade e o deus de fora

A performance de Clitemnestra no espaço dionisíaco da tragédia grega

Autores

Palavras-chave:

Tragédia Grega, Gênero, Representações

Resumo

Este artigo analisa a construção de Clitemnestra na Oresteia de Ésquilo, investigando-a como a personificação do contra modelo feminino na Atenas clássica. A análise parte da premissa de que o teatro trágico é inseparável de suas origens no culto a Dioniso e sua função como espaço de debate cívico. O objetivo é demonstrar como a figura de Clitemnestra é articulada a esse espaço ritual para explorar as tensões da pólis. Suas ações centrais — o assassinato do rei Agamêmnon e a usurpação do poder — são examinadas como um ataque aos pilares da ordem patriarcal: o oîkós e a cidade. Argumenta-se que, longe de celebrar a insurreição, a encenação de sua monstruosidade cumpre uma função pedagógica e conservadora, ao expor as consequências caóticas da autonomia feminina. A tragédia utiliza o potencial subversivo de sua origem dionisíaca para, paradoxalmente, justificar o controle social e reafirmar os limites dos papéis de gênero no imaginário coletivo ateniense.

Biografia do Autor

Francisco Victor Ferreira Belmont, Universidade Estadual do Ceará

Graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Atualmente, é mestrando no Programa de Pós-Graduação em História, Culturas e Espacialidades (PPGHCE).

Silvia Márcia Alves Siqueira, Universidade Estadual do Ceará

Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, 2004) e pós-doutora pela Università degli Studi Roma Tre, Itália (2013). Atualmente, é professora do Programa de Pós-Graduação em História, Culturas e Espacialidades (PPGHCE) e líder do Grupo de Pesquisa ARCHEA (Narrativas, Experiências e Espaços no Mundo Antigo). Desenvolve pesquisas na linha "Espaços, Sociedades e Experiências", com foco em História das Mulheres, História do Cristianismo, memória e as representações no Mundo Antigo.

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Publicado

2025-08-05