Tiago de Fraga Gomes
Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Contato: tiago.gomes@pucrs.br
Mariana Aparecida Venâncio
Doutoranda em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Contato: marianaavenancio@gmail.com
Resumo: A presente pesquisa, seguindo a metodologia teórico-bibliográfica, almeja apresentar o anúncio querigmático da fé cristã e sua relevância para a vida da Igreja, para além de sua presença nos processos catecumenais de Iniciação à Vida Cristã. Seguindo a linha eclesiológica da Conferência de Aparecida do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, considera-se o querigma como o eixo transversal de toda a ação pastoral e evangelizadora da Igreja, especialmente no que se refere à formação de discípulos missionários. O objetivo deste estudo consiste em propor que tal compreensão do querigma consiste em uma forma privilegiada de recepção da eclesiologia do Concílio Vaticano II que considera a responsabilidade batismal de cada fiel. A centralidade do querigma na ação evangelizadora da Igreja permite que cada cristão renove sua relação com a pessoa de Jesus Cristo. Essa experiência tem consequências, incidindo na renovação da vida eclesial.
Palavras-chave: Querigma; Ação Evangelizadora; Igreja; Concílio Vaticano II
Abstract: This research, following the theoretical-bibliographical methodology, aims to present the kerygmatic proclamation of the Christian faith and its relevance for the life of the Church, beyond its presence in the catechumenal processes of Initiation into Christian Life. Following the ecclesiological line of the Aparecida Conference of the Latin American and Caribbean Episcopate, the kerygma is considered as the transversal axis of all the pastoral and evangelizing action of the Church, especially with regard to the formation of missionary disciples. The objective of this study is to propose that such an understanding of the kerygma consists of a privileged form of reception of the ecclesiology of the Second Vatican Council that considers the baptismal responsibility of each believer. The centrality of the kerygma in the evangelizing action of the Church allows each Christian to renew his or her relationship with the person of Jesus Christ. This experience has consequences, affecting the renewal of ecclesial life.
Keywords: Kerygma; Evangelizing Action; Church; Second Vatican Counci
Este estudo pretende abordar a relevância do querigma para a ação evangelizadora tendo em vista a recepção da eclesiologia do Concílio Vaticano II. Considerando a proposta conciliar de restauração do catecumenato (SC 64), atualmente há um movimento de aggiornamento dos métodos catequéticos a partir de uma inspiração catecumenal. O querigma ganha, assim, uma nova relevância. Nesse sentido, o Documento de Aparecida apresenta o querigma como um fio condutor, e não apenas uma etapa, para a experiência do discípulo missionário. A partir do encontro com Jesus Cristo (DAp 226), o querigma leva a pessoa a acreditar, despertando a fé e impulsiona ao seguimento (DAp 278-279). Além disso, o querigma conscientiza sobre o amor vivificador de Deus, em Cristo (DAp 348). Em tempos de comunicação intensa e incessante, é imprescindível fazer recurso das mídias para a disseminação do querigma (DAp 485), com o intuito de fomentar novos contextos de encontro com Cristo.
A eclesiologia do Concílio Vaticano II, cristocêntrica e comunitária, ressalta a dimensão de Mistério e povo de Deus. A partir da centralidade de Cristo – mediador e plenitude de toda a Revelação (DV 2), núcleo do querigma –, e do protagonismo de todos os membros da comunidade de fé, tem-se em vista a comum dignidade batismal que leva à corresponsabilidade de todos pela missão da Igreja, conscientizando que toda a comunidade cristã é responsável pela tarefa evangelizadora. Através do batismo, os fiéis, pela água e pelo Espírito (Jo 3,5-6), são regenerados em Cristo e constituem o povo de Deus, enviado a ser luz do mundo e sal da terra (Mt 5,13-16) (LG 9), como sacramento universal de salvação (LG 48; AG 1). Para que os cristãos compreendam a extensão de significado de sua vocação batismal, necessitam do anúncio querigmático, para que assim, participem de maneira ativa e frutuoso (SC 11) da ação sacramental de Deus no mundo. Nesse sentido, uma catequese querigmática se faz necessária para a efetivação da ação missionária de toda a Igreja (RAMÍREZ; MARTINS, 2022, p. 209).
Anunciar o querigma consiste em partilhar uma grande graça: o dom da experiência da ressurreição. O anúncio da paixão, morte e ressurreição de Cristo é o querigma por excelência (VENÂNCIO; BARBOZA, 2024, p. 88). Fundamentalmente, o querigma desdobra-se em três etapas: presença e testemunho, despertar do interesse pelo Evangelho e tempo de busca e amadurecimento. Por isso, a catequese querigmática precisa assumir um estilo narrativo e existencial, destacando, sobretudo, o caráter salvífico e não tanto aspectos doutrinais (RAMÍREZ; MARTINS, 2022, p. 209). “É por uma catequese querigmática e mistagógica que a Igreja no Brasil está empenhada. Uma catequese bíblico-vivencial, e não pautada em meras repetições de conceitos doutrinários” (VENÂNCIO; BARBOZA, 2024, p. 92). A missão da Igreja se origina em uma experiência de Deus e se traduz no anúncio, em palavras e gestos (GOMES; FERREIRA; FACHIN, 2023, p. 8), de maneira a levar as pessoas a um encontro com Cristo. Por isso, na medida em que é acolhido, o querigma gera uma transformação na vida das pessoas.
Eclesiologicamente, o querigma tem um aspecto comunitário, pois o anúncio do Cristo, impulsionado pelo Espírito Santo, não só cria bons cristãos individuais, mas faz emergir eventos de comunhão (ZIZIOULAS, 2006, p. 5-6). É importante frisar que “a acolhida do querigma faz com que a pessoa seja inserida na vida da comunidade” (VENÂNCIO; BARBOZA, 2024, p. 91). Por isso, o querigma não pode ser entendido como um ato individual ou particular, mas como uma ação profundamente eclesial e comunitária (GOMES, 2023, p. 254). O querigma é um convite a pertencer e a perseverar na comunidade cristã. A comunidade é o lugar onde se transmite a fé. É na comunidade onde acontece o querigma e o aprofundamento da fé (GOMES; BARBOZA, 2022, p. 303). Sendo assim, a centralidade do querigma na ação evangelizadora da Igreja leva os cristãos a prescindirem de mentalidade individualistas ou intimistas.
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, afirma que o querigma, na medida em que proporciona uma experiência crística e trinitária, leva ao engajamento eclesial e social. A partir de uma experiência do Mistério pela via do querigma, os cristãos são provocados a trilhar um caminho formativo de maturação (EG 160) através de uma experiência comunitária (EG 161). Por isso, o querigma precisa estar no centro das atividades evangelizadoras da Igreja (EG 164), a fim de colaborar com a renovação eclesial, tão almejada pelo Concílio Vaticano II. Fazendo uso das novas linguagens da comunicação atual, o querigma precisa cultivar a proximidade, o diálogo, o acolhimento, a fraternidade, o sentido de comunidade e o compromisso social, próprios da fé cristã (EG 177-179). Como afirma o Concílio na Gaudium et Spes, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo (GS 1), pois as realidades humanas ecoam no coração da Igreja.
Na esteira de uma recepção criativa das reflexões propostas pelo Concílio Vaticano II, a presente pesquisa pretende abordar primeiramente o tema do querigma, tendo em vista a sua centralidade na ação evangelizadora da Igreja. Em seguida, o foco será a importância que o querigma exerce no processo catecumenal. Por fim, serão trabalhadas questões relacionadas ao amadurecimento da centralidade contemporânea do querigma.
Derivado do verbo grego kerisso, que significa pregar ou proclamar, o querigma[1] é o primeiro anúncio. “O querigma cristão primitivo tem sua origem na ação histórica de Jesus de Nazaré e em seu mistério pascal” (GOMES, 2020, p. 136). Não um anúncio introdutório anteposto a outros, mas o anúncio por excelência da fé cristã: o testemunho sobre Jesus Cristo, a partir do fundamental núcleo pascal e em horizonte trinitário. Devemos compreendê-lo, portanto, não somente como o primeiro em ordem cronológica, após o qual viriam outros anúncios, mas o primeiro em importância, que deve voltar a ser anunciado sempre, repetidas vezes, de modo perene. Segundo o Diretório para a Catequese (2020), diz respeito ao anúncio fundamental “que vai ao âmago da fé” (DC 2), pois está no centro como a pedra fundamental sobre a qual todos os outros anúncios se constroem e ganham sentido. Como afirma o Papa Bento XVI na Verbum Domini, é preciso ter presente que há uma “relação intrínseca entre comunicação da Palavra de Deus e testemunho cristão; disso depende a própria credibilidade do anúncio” (VD 97).
O Novo Testamento apresenta formulações variadas do conteúdo fundamental do querigma e dos testemunhos do amadurecimento da compreensão sobre a pessoa de Jesus. O Diretório para a Catequese indica os seguintes: Mt 1,23; Mc 1,15; Jo 3,16; 10,10; At 10,38; Rm 4,25; 1Cor 12,3; 15,3; Gl 2,20 (DC 58, nota). Em Atos dos Apóstolos, o anúncio querigmático e seus efeitos são retratados em textos como At 3,12-26; 7,1-54; 10,34-43; 13,16-41. De modo geral, as mais completas sínteses do anúncio querigmático costumam ser reconhecidas em At 2,14-39 e 1Cor 15,3-5. O Papa Francisco o formula da seguinte forma: “Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar” (EG 164). Nesse sentido, “para o Papa Francisco a doutrina cristã chama-se Jesus Cristo. É ele a chave de leitura para toda e qualquer renovação eclesial e é a partir dele que as verdades da fé são vividas e tornam-se fonte de vida” (CAUDURO; GOMES, 2024, p. 288). O conteúdo do querigma é, portanto, a pessoa de Cristo.
Sendo assim, se faz necessário um anúncio explícito de Cristo ao mundo inteiro (PICH; GOMES, 2015, p. 237). Contudo, é preciso ter presente que o querigma não é um conjunto de saberes intelectuais a respeito da fé, exigidos de quem pretende fazer parte da comunidade cristã. Pelo contrário, o querigma é um anúncio que tem como condição de realização a vivência de um processo de conhecimento de Cristo, abertura à fé e desejo por aprofundar a experiência desse encontro na comunidade cristã, expresso pela opção livre e pessoal por uma vida batismal. Acolher o querigma, não requer apenas acolher uma teoria, mas, sobretudo, uma vivência. Não basta a ortodoxia, mas é preciso uma ortopraxia.
A finalidade do querigma, portanto, é despertar a fé em Cristo e gerar a adesão à sua pessoa, o desejo por progredir no seu conhecimento e ingressar em um caminho discipular. Por isso, o querigma não é um simples ensinamento, ou um mero aviso, uma notícia corriqueira. O querigma é, ao mesmo tempo, anúncio e realização, esperança e experiência, memória e testemunho presente. Como anúncio de Cristo, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6), é a proclamação da salvação que a apresenta, a torna uma esperança e, de certo modo, já a realiza na vida daqueles que a ele aderem por meio da abertura à conversão. Nesse sentido, é necessário que cada cristão se decida por um caminho de comunhão referenciado no Mistério de Cristo que chama toda a Igreja à conversão (GOMES; LORENZETTI, 2021, p. 247), a fim de assumir a Cristo como o fundamento da própria existência (BRUSTOLIN; GOMES, 2018, p. 329). O querigma leva a um encontro pessoal e comunitário com Cristo, o qual, conduz a um processo contínuo de conversão pessoal e pastoral (Brustolin; Gomes, 2018, p. 343).
Sendo assim, o querigma leva a traduzir em gestos concretos de amor a Palavra escutada. O amor ao próximo é consequência radical do amor a Deus, é amor que se traduz em compromisso, o qual, também serve como meio de anúncio de Cristo (HACKMANN; GOMES, 2016, p. 297). Embora o objetivo principal do anúncio querigmático seja suscitar a fé em Jesus, há um conjunto de decorrências que expressam o adequado acolhimento deste anúncio. Ao conhecer Jesus e a salvação que o Pai nos dá por seu intermédio, o ouvinte finalmente se sentirá abraçado pelo amor do Pai – afinal, em Jesus está a plenitude desse amor, comunicado a nós de modo definitivo e mais claro que em qualquer outro momento da História da Salvação. Uma vez abraçado por esse amor, o ouvinte desejará progredir nesta experiência. Então, reconhecerá a necessidade de viver de uma forma nova: eis a abertura à conversão. Ao lado do reconhecimento da necessária conversão, o ouvinte sentirá a necessidade do amparo da graça que o sustentará no discernimento de uma vida batismal e reconhecerá o Espírito Santo como fonte desta graça, que a comunica por meio da comunidade cristã.
A diversidade das formulações do querigma evidencia que ele é mais que um conteúdo doutrinal a ser ensinado ou aprendido, mas é a comunicação de uma experiência que convida à escuta e à adesão pessoais e, portanto, deve ser comunicada também de forma pessoal. Assim como as comunidades do cristianismo primitivo progrediram na explicitação do conteúdo querigmático, progrediram também no desenvolvimento de formas novas para sua proposição, que o fizessem sempre mais atraente para os seus interlocutores. Por isso, o Diretório para a Catequese (2020) afirma a necessidade de que o anúncio querigmático seja enraizado na vida dos que o escutam para que possa alcançar seus objetivos e realizar suas potencialidades:
A Igreja deve poder encarnar o querigma para as exigências dos seus contemporâneos, favorecendo e incentivando que, nos lábios dos catequistas (cf. Rm 10,8-10), da abundância do seu coração (cf. Mt 12,34), numa dinâmica recíproca de escuta e diálogo (cf. Lc 24,13-35), floresçam anúncios credíveis, confissões de fé vitais, novos hinos cristológicos para narrar a cada um a boa nova (DC 58).
O anúncio querigmático, portanto, distancia-se do estilo da instrução para ser um tempo de acolhimento, escuta e partilha que a Igreja dirige aos que ainda não conhecem Cristo, por meio da experiência de alguém que já acolheu o querigma. O querigma é porta de acesso ao Mistério, é anúncio que necessariamente convida ao aprofundamento (DC 2), mas que já é a imersão no Mistério. Na reflexão eclesial a respeito da catequese de inspiração catecumenal, o querigma e a mistagogia estão sempre associados. O querigma gera a abertura para adentrar o Mistério e dispõe ao aprofundamento progressivo dessa experiência. A mistagogia da escuta e do anúncio é, portanto, imprescindível para que se passe da instrução introdutória a um efetivo anúncio querigmático que se faz, antes de tudo, na vida comunitária, na escuta da Palavra, na partilha do testemunho e no reconhecimento da ação salvífica de Deus nos sinais históricos da vida de cada sujeito. Sobre isso, o Papa Francisco afirma na Evangelii Gaudium:
Não se deve pensar que, na catequese, o querigma é deixado de lado em favor duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio. Toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne, que nunca deixa de iluminar a tarefa catequética, e permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema que se desenvolve na catequese. É o anúncio que dá resposta ao anseio de infinito que existe em todo o coração humano (EG 165).
O querigma é um anúncio transformador. Carrega em si o Mistério da Palavra profética que, anunciada, não volta a Deus sem antes realizar os efeitos pretendidos (Is 55,11). Anuncia uma pessoa e, por meio do kérix – seu mensageiro, seu arauto – é já o advento do Senhor ao que recebe o anúncio. Por isso, conforme nota Alves (2014), o querigma deve ter um efeito de choque, porque relança as bases da vida daquele que ouve a partir do encontro com Jesus Cristo. Convidando a uma nova vida, reconstrói e renova seus pressupostos e seguranças, substituindo todas as suas referências pela segurança única em Cristo. Assim, o querigma é um “anúncio-choque proclamado pelos arautos de Deus, que clamam à salvação” (ALVES, 2014, p. 65). Não é um anúncio que permita uma atitude passiva por parte daquele que ouve, pois gera uma inquietação, tem sempre um tom de solenidade íntima que provoca uma escolha (ALVES, 2014, p. 67). Quando a resposta ao querigma é de adesão a Jesus, esta adesão se expressa sempre por meio da abertura à conversão. Mas ninguém alcança a mudança de vida sozinho: a Igreja que anuncia o querigma deverá acompanhar aquele que aderiu à fé em seu caminho de progressivo amadurecimento e estreitamento dos laços com a pessoa de Cristo, no seu reconhecimento do pecado e no seu esforço pela conversão, a partir da graça do Espírito.
É importante observar que, embora a Igreja, por meio de seus kérix, esteja muito convicta de que o anúncio querigmático é o convite à Vida verdadeira (Jo 10,10), fora de quem não há vida que tenha sentido ou que possa conduzir à salvação, a liberdade é uma prerrogativa para a adesão verdadeira e a realização do querigma. Quaisquer condicionamentos que façam com que o querigma deixe de ser proposição para se tornar uma imposição, a partir da manipulação, desconfigura o anúncio querigmático, fá-lo ser um anúncio qualquer, ideológico, não pascal, não eclesial. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirma no Documento 107 que o querigma é sempre uma proposição, cuja resposta só será adequada se for livre, consciente e pessoal (Doc. 107, 159-162).
O querigma não é somente o anúncio de algo que está por vir, mas é também, e principalmente, sua realização no hoje dos seus ouvintes. É um kairós, um tempo da graça. Embora seja um anúncio pessoal, dirigido ao indivíduo, é também uma realização para a comunidade de fé. O querigma realiza sua potencialidade quando propicia o encontro com Cristo, expresso especialmente por meio da livre adesão à fé cristã. A fé então desejada pelo ouvinte – que será depois conhecida e aprofundada com o auxílio do catecumenato – representa, para a comunidade que anuncia o querigma, o novo advento de Cristo, a permanência de Cristo a sustentar sua Igreja e seus discípulos no anúncio do Evangelho. A dinâmica é a da acolhida: a comunidade acolhe o ouvinte, o ouvinte acolhe o querigma e, ao desejar a fé, demonstra o acolhimento perene de Cristo com relação à Igreja que, por meio do Espírito, continua a renovar a comunidade e estender a toda a humanidade o convite à salvação. Todo o processo culminará com o batismo: sacramento da acolhida dos neófitos na comunidade. A respeito dessa dimensão comunitária, Rahner e Vorgrimler afirmam:
en una nueva aplicación del término neotestamentario, es la palabra que, por razón de una delegación de Dios y de la Iglesia, se dirige a la comunidad creyente o al individuo (conduciendo o edificando), como palabra de Dios y de Cristo mismo, y de manera eficaz hace presente lo pronunciado en la situación del interpelado. Se trata, pues, del acontecer de lo pronunciado en la situación del oyente; acontecer históricamente perceptible en el decir y en el oír. Y esto como palabra eficazmente pronunciada en nombre de Dios, que es oída bajo la acción de la oferta de lo pronunciado (= gracia de la fe justificadora) (1966, p. 377).
O querigma, portanto, será favorecido se for possível enfatizar a relevância de uma mistagogia do anunciar e do ouvir. São imprescindíveis, pois, o contato, a presencialidade, o testemunho de vida, a criação de uma comunidade em que os ouvintes possam confiar na palavra anunciada pelo catequista introdutor, como alguém que anuncia uma Palavra que vem de Deus e, com o anúncio feito dessa forma, tornar já presente o que se anuncia – por isso o querigma não é um anúncio qualquer, mas configura-se em um momento-evento de encontro que transforma a vida daqueles que o acolhem com fé. Nesse sentido, cabe refletir sobre o contexto mais amplo em que se situa o querigma: o contexto do processo catecumenal.
Nos primeiros séculos, portanto, o querigma era o centro da pregação e do ministério dos apóstolos, como cumprimento do mandato de Jesus em Mt 28,19. À medida em que aumentava o número daqueles que ouviam a novidade de Jesus Cristo e desejavam o batismo, foi se tornando necessário que a Igreja estruturasse um processo de acompanhamento dos convertidos à fé cristã. Neste itinerário chamado catecumenato, a primeira etapa constituía o cumprimento do mandato missionário do anúncio querigmático do Senhor, que era já muito mais que instrução, mas uma forma de acolher a humanidade peregrina pelo mundo, ajudando cada pessoa a reconhecer sua busca mais íntima e descobrir Cristo como a resposta, aderindo a Ele e desejando expressar esta adesão com a conversão e a pertença à comunidade cristã. Após essa acolhida do querigma, o catecumenato e seus passos subsequentes auxiliavam para que a experiência cristã se tornasse cada vez mais profunda. No catecumenato antigo, o querigma tornou-se tarefa de um tempo introdutório, chamado pré-catecumenato, seguido pelas etapas de aprofundamento na fé cristã com vistas ao batismo e à participação nos sacramentos da Iniciação à Vida Cristã. Dessa forma, o querigma era o primeiro passo para que o catecumenato pudesse, na comunidade, realizar seus objetivos, a saber:
O catecumenato: 1) recorda constantemente a toda a Igreja a importância da função de iniciação, com os fatores básicos que a constituem: a catequese e os sacramentos correspondentes; 2) é responsabilidade de toda a comunidade cristã (cf. AG 14d): a instituição catecumenal acrescenta na Igreja a consciência de sua função maternal; 3) está impregnada pelo Mistério da Páscoa de Cristo, centro da mensagem cristã; 4) é lugar inicial de inculturação, em que os catecúmenos são acolhidos integralmente, com seus vínculos culturais. Uma catequese viva participa desta função de incorporar à catolicidade da Igreja as sementes da Palavra semeadas em indivíduos e povos; 5) proporciona à catequese pós-batismal dinâmica e características configuradoras: a intensidade e a integridade da formação; seu caráter gradual, com etapas definidas; sua vinculação a ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos; sua referência constante à comunidade cristã (cf. DGC 90) (SÁES, 2004, p. 131).
É importante observar que o querigma não ficava ultrapassado após essa primeira fase em que o ouvinte era acolhido até tornar-se um catecúmeno. Sendo o núcleo fundamental da fé, o querigma atrai a Cristo por meio da Igreja. Continua sendo o ideal de experiência que motiva toda a vida cristã – como algo conhecido, mas em cuja intimidade se pode progredir cada vez mais. Com o passar do tempo, a experiência do catecumenato foi sendo enfraquecida na Igreja em todo o mundo. Isso se deve, entre outras coisas, ao batismo de crianças e aos modelos de Cristandade medievais. A organização da comunidade cristã havia mudado e a sociedade era orientada pela mediação da Igreja, o que tornava Cristo aparentemente conhecido por todos e a pertença à Igreja era um dado presente na vida da maior parte das pessoas. Recentemente, com o advento da modernidade, a Igreja avaliou sua forma de lidar com o mundo e consigo mesma, incluindo seus processos iniciáticos, e redescobriu o valor do catecumenato nos tempos atuais. Especialmente a partir do Concílio Vaticano II (SC 64; AG 14), o esforço de recuperar o catecumenato em um formato que atendesse à realidade presente tornou-se uma das prioridades da reflexão eclesial.
O Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), reformado após o Concílio, é a principal referência, hoje, para compreendermos como o querigma se insere na dinâmica da Iniciação à Vida Cristã, especialmente no primeiro tempo, chamado pré-catecumenato. Segundo o RICA, o primeiro tempo é marcado pela primeira etapa quando o sujeito, “aproximando-se de uma conversão inicial, quer tornar-se cristão e é recebido como catecúmeno pela Igreja” (RICA, 6). O anúncio querigmático aparece, portanto, como o caminho para a conversão a Cristo, que se expressa objetivamente pela abertura à conversão e pelo desejo de tornar-se cristão, ingressando no caminho catecumenal. Esse é o tempo, então, da evangelização.
Ainda segundo o RICA, a passagem do pré-catecumenato ao catecumenato deve ser marcada pela celebração da entrada no catecumenato. O Ritual esclarece que esse rito é celebrado “quando as pessoas que desejam tornar-se cristãs, tendo acolhido o primeiro anúncio do Deus vivo, já possuem a fé inicial no Cristo Salvador. Por conseguinte, pressupõe-se que [...] haja um início de conversão, de fé e de senso eclesial” (RICA 68). Observa-se, portanto, que se espera como resposta ao anúncio querigmático, o desenvolvimento de um senso eclesial, sem o qual, o desejo pelo batismo, a instrução na fé em Jesus Cristo e a disposição à conversão.
Nessa perspectiva é que a Igreja, como recepção do Concílio Vaticano II, desenvolveu o que se chama de catequese de inspiração catecumenal. Dada as diferenças da época atual em relação ao cristianismo primitivo, não é possível reproduzir o modelo de catecumenato dos primeiros séculos, mas é possível e necessário recuperá-lo como inspiração para a tarefa catequética da Igreja de hoje. Por isso, o querigma não é apenas visto como o anúncio próprio do tempo introdutório do pré-catecumenato, mas como uma tarefa que deve ser perene na Igreja, desde a Iniciação à Vida Cristã estendendo-se a todos os processos eclesiais, perpassando, com transversalidade, todas as atividades, toda a reflexão e toda a ação evangelizadora e pastoral. Assim acena o Documento de Aparecida (2007) para a necessária perenidade do anúncio querigmático como fio condutor da formação dos discípulos missionários na Igreja:
Aqueles que serão seus discípulos já o buscam (cf. Jo 1,38), mas é o Senhor quem os chama: “Segue-me” (Mc 1,14; Mt 9,9). É necessário descobrir o sentido mais profundo da busca, assim como é necessário propiciar o encontro com Cristo que dá origem à iniciação cristã. Este encontro deve se renovar constantemente pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do kerygma e pela ação missionária da comunidade. O kerygma não é somente uma etapa, mas o fio condutor de um processo que culmina na maturidade do discípulo de Jesus Cristo. Sem o kerygma, os demais aspectos deste processo estão condenados à esterilidade, sem corações verdadeiramente convertidos ao Senhor. Só a partir do kerygma acontece a possibilidade de uma iniciação cristã verdadeira. Por isso, a Igreja precisa tê-lo presente em todas as suas ações (DAp 278).
É importante que a comunidade eclesial enquanto “porção do povo de batizados, reunida pelo anúncio do Evangelho” (Gomes; Fernandes, 2024, p. 437), cresça na consciência de que o anúncio querigmático, embora tenha o objetivo de transformar a vida do ouvinte, é também fundamental para que a Igreja se renove pelo sustento de Cristo que marca sua presença por meio do querigma que vai sendo anunciado, de geração em geração. A comunidade que acolhe o ouvinte desde a proclamação querigmática, o acompanhará no caminho de aprofundamento e explicitação do conteúdo e da experiência desses desejos inicialmente despertos pelo anúncio querigmático. Sendo assim, se faz necessário situar e aprofundar a centralidade do querigma na evangelização contemporânea.
No contexto eclesial contemporâneo, há que se reconhecer que a esterilidade dos esforços evangelizadores se deve à fragilidade da semeadura que representa o anúncio do querigma (Biemmi, 2014, p. 513). O processo fragilizado de iniciação à fé exige que a Igreja hoje se dedique a um novo processo, que se pode denominar de “segundo anúncio” e que constitui o anúncio querigmático aos já iniciados na vivência sacramental.
Por “segundo anuncio” podemos, pues, entender las propuestas que tratan de reavivar la fe de personas que la viven como una costumbre o que se han distanciado de ella [...]. El primer anuncio, de hecho, así como el segundo “primer anuncio”, constituye siempre una experiencia inaugural, provoca un nuevo comienzo, despierta el asombro adormecido. Pero nada más difícil que assombrar a cristianos praticantes o acostumbrados a crer (BIEMMI, 2014, p. 576).
Há que se cuidar, porém, que não sendo possível um caminho catecumenal aos que já participam dos sacramentos, um acompanhamento comunitário personalizado deverá suprir a necessidade pelo aprofundamento adequado da fé nesses casos. O número 226 do Documento de Aparecida explicita os quatro eixos que devem caracterizar a comunidade cristã. São eles: a experiência religiosa, a vivência comunitária, a formação bíblico-doutrinal e o compromisso missionário de toda a comunidade. A respeito da experiência religiosa, o documento afirma:
Em nossa Igreja devemos oferecer a todos os nossos fiéis um “encontro pessoal com Jesus Cristo”, uma experiência religiosa profunda e intensa, um anúncio querigmático e o testemunho pessoal dos evangelizadores, que leve a uma conversão pessoal e a uma mudança de vida integral (DAp 226).
Lima (2005) nota que a palavra catequese vem do grego cataekheo, que significa fazer eco, fazer ressoar. Como tarefa comunitária, o autor pergunta: o que a comunidade é chamada a fazer ecoar como sua tarefa catequética? (Lima, 2005, p. 152). Pode-se dizer, que se trata do eco do primeiro anúncio, que não necessariamente deverá ser repetido sempre numa mesma formulação, mas com métodos criativos e com linguagens adaptadas ao contexto e aos ouvintes para quem a comunidade deve fazer conhecido Cristo. Para o Diretório para a Catequese (2020), o anúncio do querigma é também o momento para que a comunidade retome, na contemplação e na vivência conjunta, a mística da escuta: “Na verdade, tudo isto interroga a própria Igreja, chamada a ser a primeira a redescobrir o Evangelho que anuncia: o novo anúncio do Evangelho pede à Igreja uma escuta renovada do Evangelho, juntamente com os seus interlocutores” (DC 59).
O anúncio querigmático tem por primeiro objetivo suscitar a fé em Cristo. Esse anúncio iniciar-se pela apresentação histórica da pessoa de Cristo, mas não se limita a essa apresentação, como se a salvação em Cristo pudesse ser acolhida apenas por meio do estudo histórico e literário dos Evangelhos. O querigma deve configurar-se como uma experiência de encontro: na acolhida do catequista introdutor, o ouvinte sente-se acolhido pelo próprio Cristo que, na comunidade dos seus discípulos, continua a apresentar-se e convidar: “Vinde e vereis” (Jo 1,39). O catequista introdutor, ao fazer ecoar o chamado de Cristo, deve ser necessariamente alguém que já fez a experiência de acolhida do querigma e pode afirmar, como André a Pedro: “Encontramos o Messias” (Jo 1,41). Esse anúncio deverá partir sempre do anúncio do amor, que se antepõe e sustenta todas as exigências morais, doutrinais e de conduta que caracterizam a pertença à comunidade cristã. Por isso, o querigma é experiência do amor de Deus que conduz o ouvinte ao desejo por uma vida batismal, que reconhece como o terreno fértil onde o encontro com Cristo pode ser cultivado e crescer. O Diretório para a Catequese (2020), ao apontar para a centralidade do querigma, orienta que a catequese:
“exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas”. Os elementos que a catequese, como eco do querigma, é convidada a valorizar são: o caráter de proposta; a qualidade narrativa, afetiva e existencial; a dimensão de testemunho da fé; a atitude relacional; a tonalidade salvífica (DC 59).
O anúncio querigmático constitui os primeiros passos dos discípulos que, ouvindo Cristo, reconhecem a profundidade de sua pessoa – não porque tenham já sistematizado o caminho discipular, mas porque sentiram que o anúncio da pessoa do Filho, de alguma forma correspondeu às suas buscas interiores, mais profundas. Por isso, o catequista ou introdutor ou qualquer pessoa, em sua missão batismal, jamais pode renunciar à esperança de que em todos há uma sede profunda pelo encontro com Cristo. O anúncio querigmático deve buscar responder a essa sede profunda, encontrá-la no mais profundo da pessoa e apresentar Cristo como a resposta tantas vezes procurada. Por isso, o anúncio querigmático sempre deverá considerar a situação histórica dos seus ouvintes, sendo feito a partir do princípio de interação entre fé e vida, em que a vida se torna princípio hermenêutico para a fé e vice-versa (DC 196). Nos Atos dos Apóstolos, o querigma é anunciado aos pagãos de modo diferente do anúncio feito aos judeus, porque a plenitude da Verdade em Cristo, sendo sempre a mesma e única, manifesta-se a cada qual segundo a forma como poderá ser percebida e acolhida.
Seria muito bom se pudéssemos oferecer o querigma em um tempo inicial e depois seguir para o aprofundamento da fé, nos tempos subsequentes do catecumenato. No entanto, esse itinerário completo tem sido realizado com um pequeno grupo de pessoas em nossas comunidades. A descontinuidade dos processos é significativa, sendo cada vez mais urgentes itinerários personalizados de catequese que nem sempre permitem a execução dos tempos conforme um planejamento ideal. Assim, é necessária uma inspiração querigmática transversal em todo processo catequético, como expressão de uma inspiração catecumenal que vá além da reprodução da estrutura do catecumenato – aliás, esse querigma transversal valerá muito mais que seu anúncio em um tempo determinado. A essa inspiração querigmática perene na ação catequética servirá a centralidade de Cristo em todas as ações, inclusive na necessária leitura querigmática das Escrituras: sempre é necessário partir de Cristo, mas em um movimento mais profundo que o simples estudo dos Evangelhos. A serviço disso está a leitura querigmática das Escrituras. Perroni reconhece que é assim que o Papa Francisco interpreta os textos bíblicos:
Para Francisco, em suma, a referência à Biblia tem, antes de tudo, uma finalidade querigmática, é o terreno do encontro sobre o qual a palavra se torna anúncio, mas também interpelação, inicia um processo que é, conjuntamente, exegético (exhghsis = conduzir para fora), que deveria garantir a compreensão, porque extrai do texto escriturístico os elementos que estabelecem os seus significados, e hermenêutico (literalmente ermhneutikh = arte da intepretação, da tradução), que exige a faculdade de fazer compreender, porque busca a explicação do texto, também, em força do seu potencial de atualização. Para Francisco, a Bíblia é oráculo profético, chama em causa, julga e consola, destrói e constrói. Perseguir uma finalidade querigmática com ímpeto profético significa querer favorecer naqueles que escutam um processo de maturação progressiva da fé como adesão sempre mais consciente à pessoa de Jesus de Nazaré. É isso que Francisco quer. Para a Igreja e para cada fiel (PERRONI, 2019, p. 33).
Em suma, o anúncio querigmático, como método de apresentação da pessoa de Cristo e sustento dessa experiência de encontro, é muito mais que um conteúdo do qual partir, mas é o eixo a partir do qual toda a tarefa evangelizadora e catequética se realizará, bem como a experiência mistagógica de encontro constante com Cristo, configurando-se, assim, como um desafio para a ação evangelizadora da Igreja atual.
Propor a centralidade do querigma na ação evangelizadora da Igreja nos tempos atuais, enquanto recepção e expressão da eclesiologia do Concílio Vaticano II, favorece trabalhar na comunidade cristã caminhos proféticos de testemunho e anúncio de comunhão e participação. Em tempos de pontificado de Francisco, corresponde aos anseios de uma Igreja sinodal e missionária que abre a vida pastoral da Igreja para a escuta e para um discernimento afinado com as expectativas dos interlocutores da Palavra de Deus diante dos desafios hodiernos. Uma retomada renovada do querigma possibilita que a Igreja toque a realidade da vida das pessoas, a partir dos apelos emergentes da sociedade, com seus desafios e complexidades.
Em meio aos Fake News e às superficialidades sobre a mensagem do Evangelho e sobre a vida da Igreja, se faz necessário um novo anúncio que desperte um desejo real pelo encontro com a pessoa de Jesus Cristo e pelo discipulado missionário. Um novo anúncio sintonizado à perspectiva de aggiornamento conciliar pode ser ocasião para superar integrismos doutrinais e literalismos fundamentalistas que desnorteiam a experiência cristã hodierna. Um novo anúncio, esperançoso e propositivo, que desperte novos horizontes de sentido para a vida e para a conversão pessoal e comunitária, é fundamental para a ação evangelizadora da Igreja.
As atuais resistências e reações ao Concílio Vaticano II distanciam a Igreja do modelo eclesiológico conciliar, ameaçando a comunhão e a missionariedade. A orientação de toda a comunidade para a tarefa do anúncio querigmático, recupera a corresponsabilidade de todos os cristãos sobre a missão eclesial. A valorização da leitura das Sagradas Escrituras e do estudo dos Padres da Igreja como retorno às fontes da fé cristã, o fomento da inspiração catecumenal da catequese, a retomada da perspectiva querigmática e cristocêntrica da evangelização, são elementos basilares da eclesiologia conciliar, sendo estes, fundamentais para impulsionar uma catequese querigmática e mistagógica que a Igreja no Brasil tanto precisa.
Referências
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[1] Querigma e catecumenato são palavras que, relacionadas a movimentos e encontros no cenário eclesial contemporâneo, podem trazer consigo sentidos diversos dos que são trabalhados nesta pesquisa. É necessário atentar para o fato de que aqui estas palavras são trabalhadas segundo seu sentido fundamental, especialmente associadas aos processos de Iniciação à Vida Cristã: catecumenato como o processo catequético como um todo, que foi especialmente desenvolvido no período apostólico e hoje é retomado como inspiração; e querigma como o anúncio por excelência de Jesus Cristo.