Vinicius Couto
Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Contato: prviniciuscouto@yahoo.com.br
Resumo: O presente ensaio discute o problema do sofrimento a partir da teologia do clérigo anglicano John Wesley (1703-1791). Em meio às adversidades da vida, como Wesley ajudaria a responder à questão: no sofrimento, quem é e onde está Deus? A hipótese deste texto é que o teólogo da Igreja da Inglaterra, por meio do que denominou de “tristeza solidária”, apresenta um caminho de cuidado aos que sofrem apresentando um Deus que é compassivo e imanente e que se manifesta em meio à compaixão e ao amor ao próximo. Nosso objetivo geral é apresentar um caminho wesleyano alternativo para o cuidado das pessoas em situação de vulnerabilidade e sofrimento. A pesquisa é bibliográfica, com metodologia exploratória. O pensamento de Wesley é extraído principalmente do seu sermonário, analisado a partir da versão bicentenária (WESLEY, 1984-1987).
Palavras-chave: Sofrimento; solidariedade; compaixão; John Wesley; teologia wesleyana
Abstract: This essay discusses the problem of suffering based on the theology of the Anglican clergyman John Wesley (1703-1791). In the midst of life's adversities, how would Wesley help answer the question: in suffering, who is and where is God? The hypothesis of this text is that the theologian of the Church of England, through what he called “solidarity sadness”, presents a path of care for those who suffer, presenting a God who is compassionate and immanent and who manifests himself in the midst of compassion and love the next. Our general objective is to present an alternative Wesleyan path for caring for people in situations of vulnerability and suffering. The research is bibliographic, with an exploratory methodology. Wesley's thoughts are extracted mainly from his sermon, analyzed from the bicentennial version (WESLEY, 1984-1987).
Keywords: Suffering; solidarity; compassion; John Wesley; Wesleyan theology
Este ensaio visa discutir o problema do sofrimento à luz das contribuições da teologia de John Wesley, um clérigo anglicano e líder do movimento metodista do século XVIII, que atuou em várias frentes de evangelização, amparando pessoas que enfrentavam inúmeros tipos de sofrimento. Quem é e onde está Deus enquanto as pessoas sofrem? Como Wesley ajudaria a responder essa problematização? Nossa perspectiva é que, enquanto um ministro do povo e para o povo, Wesley falou sobre auxiliar as pessoas em seus sofrimentos por meio do que ele chamou de “tristeza solidária”, destacando que esse é um caminho (dentre vários outros) para a práxis da compaixão e do amor ao próximo. Inicialmente, nosso texto contextualiza os sofrimentos na Inglaterra dos dias de Wesley e aponta algumas de suas ações intencionais perante tais problemas. Uma vez contextualizadas essas questões, pensamos sobre a “tristeza solidária” como sendo parte da imagem de Deus no ser humano e de que modo ela pode nos ajudar a responder à pergunta “Quem é e onde está Deus?”.
O sofrimento é algo que preocupa a todas as pessoas. Ao pensarmos no contexto britânico oitocentista, encontramos desafios similares aos nossos na América Latina no que tange a questões de saúde, pobreza, injustiças sociais e tantos outros. Thomas (2009, p. 13) mencionou que naquele período, “a pobreza, os problemas de saúde e a morte prematura atrofiaram inúmeras vidas.” Porter (1991, p. 13) acrescenta ainda outros desafios: a mortalidade infantil era altíssima. Cerca de 20% dos bebês morriam ainda no primeiro ano de vida e dos que sobreviviam, cerca de 33% não ultrapassavam os cinco anos de idade. Entre os adultos, a situação não amenizava tanto, pois a expectativa de vida girava em torno de 37 anos. As principais enfermidades letais eram tifo, disenteria, sarampo e gripe.
Além disso, havia outras doenças (que chamaríamos hoje em dia de ocupacionais) avassaladoras, como aponta Olson (2020): “a silicose atormentou os ceramistas, o câncer sucumbiu aos limpadores de chaminés, o envenenamento por chumbo afetou os pintores e o reumatismo prejudicou os trabalhadores agrícolas, enquanto os pobres sofriam de escorbuto e raquitismo.” Tracy (1992, p. 44) aponta que essa alta taxa de mortalidade entre os mais pobres nos Oitocentos estava associada à má alimentação, que, conforme explicou um periódico do século XVIII, “a péssima dieta que os pobres estavam obrigados a se alimentarem” provocava a queda do sistema imunológico das pessoas e favorecia que eles contraíssem inúmeras doenças, como diversos tipos de gripe e febres muito altas, dentre outras”.
Wesley não era o tipo de pessoa que simplesmente olhava para o status quo e ficava se lamentando. Sua teologia era prática. Vinha de uma perspectiva transformacional, que admitia uma antropologia pessimista e uma soteriologia otimista.[1] Por mais que o pecado original tenha trazido mazelas e problemas variados para a raça humana, Cristo é gracioso em sua obra salvífica e quer restaurar a imagem de Deus no ser humano. Tal restauração gera mudanças holísticas que transcendem a esfera espiritual, mas atingem a totalidade do indivíduo, cooperando para uma transformação social. Também influenciado pelo zeitgeist Iluminista[2] (o que não quer dizer que também não criticasse os extremos[3]), ele perseguia maneiras de contribuir para uma sociedade que dignificasse o ser humano, retirando-o de sua miséria. Não é à toa que seu ministério foi altamente focado nos mais pobres, marginalizados e em condição de vulnerabilidade. Meeks (2001, p. 42) afirmou que o “reavivamento metodista começou entre, com, para e por meio do pobre”.
Os problemas de seus dias mereciam um olhar atento e crítico. Wesley fez isso. Ele era alguém que queria o melhor para sua nação e seguia uma visão de patriotismo. No entanto, tal perspectiva não o fazia fechar os olhos para as mazelas que o poder político tinha responsabilidade e não resolvia. Como declara González (2003, p. 55), “a teologia prática de Wesley [...] lhe obrigava a colocar seu próprio patriotismo sob o juízo do que Deus está fazendo pelo mundo”. Várias são as críticas que Wesley fez nesse sentido. Os ingleses que atuavam na Índia a serviço da coroa britânica, por exemplo, são denunciados pelo clérigo anglicano em seu sermão #61, O mistério da iniquidade, uma vez que eles estavam “desolando regiões inteiras e entupindo os rios com corpos mortos” (WESLEY, 1985, vol. 2, p. 468 [§33]).
Sua nação estava alimentando um sistema de injustiças e desigualdades e Wesley não receia denunciar isso no sermão #111, Pecados e misérias nacionais: “Ultimamente, estendemos o império britânico quase ao redor do globo. Levamos nossos laureis para a África, para a Ásia, para os climas ardentes e gelados da América. E o que trouxemos de lá? Toda a elegância do vício que o mundo oriental ou ocidental podia pagar” (WESLEY, 1986, vol. 3, p. 574 [II, §5]). Oden (2021, p. 212-213) explica que neste sermão, “Wesley une muitos subtemas, incluindo pactos entre o governo e seus cidadãos, a natureza social do pecado, uma teodiceia do sofrimento social inocente, partidarismo político, a moralidade da lei e da revolução, os pecados do colonialismo e a crítica de colonialismo”.
Os preços altos da alimentação básica do povo também vinham da mesma origem: o pecado de querer lucrar abusivamente sobre a população, a fim de que os produtores mantivessem o alto padrão de vida luxuosa e extravagante. Wesley critica isso, alegando que a não intervenção da Coroa nessa prática de monopólio fez com que “a terra, que há alguns anos era dividida entre dez ou vinte pequenos agricultores e que lhes permitia proporcionar conforto para suas famílias, agora fosse guardada por um único e importante agricultor” (WESLEY, 1997, vol. 7, p. 93 [I, §6]).
A Coroa, ao invés de agir intencionalmente para mudar esse quadro, acabava favorecendo a situação com outras atitudes terríveis. A tributação era altíssima e Wesley apontou que as causas para isso envolviam corrupção e a má gestão dos governantes (com salários elevados e cargos desnecessários). De acordo com Wesley, a Coroa poderia mudar esse quadro “cancelando qualquer pensão inútil, [...] especialmente aquelas pensões ridículas que são concedidas a centenas de pessoas inúteis, como os administradores de fortes e castelos; fortes que foram inúteis por mais de cem anos, exceto para abrigar torres e corvos” (WESLEY, 1997, vol. 7, p. 97 [II, §8]).
Embora Wesley reconhecesse o problema da pecaminosidade humana e fosse um árduo defensor da doutrina do pecado original, ele não caía na armadilha teológica de pensar uma teodicéia que induz o cristão a uma postura inerte. Wesley estava consciente de que era necessário haver mudanças e o povo de Deus, portanto, deveria agir. Um dos grandes males de sua época era, ainda, o sistema escravista. No entanto, havia cristãos que eram a favor desse modelo econômico, o que seria uma grande contradição para Wesley. González (2003, p. 53) explicou que havia pessoas que queriam justificar a escravidão “por razões econômicas, porque sem ela a indústria e o comércio sofreriam”. Wesley, entretanto, alegou que: “melhor nenhum negócio do que negócio feito através de maldade”, pois “é muito melhor não ter nenhuma riqueza do que adquirir riqueza à custa da virtude. Melhor seria pobreza honesta que todas as riquezas trazidas pelas lágrimas, suor e sangue de nossas criaturas irmãs” (WESLEY, 2019, p. 137 [IV, §7]).
Finalmente, ainda podemos mencionar os vários problemas relacionados à saúde, que era outro grande descaso da Coroa. Devido à pobreza extrema, que impossibilitava a população de buscar atendimento e tratamento médico, os metodistas abriram clínicas médicas nas cidades de Bristol e Londres em 1746 para atender as pessoas em situação de vulnerabilidade social (MADDEN, 2010, 176-189). No ano seguinte, Wesley publicou a primeira edição de Primitive Physic, que era um guia prático de medicina popular para facilitar a vida das pessoas carentes. O livro trazia instruções gerais de saúde e tratamentos naturais para diversas doenças. Na primeira edição, Wesley tratou acerca de 93 doenças; na última edição, em 1791, o número subiu para 288 enfermidades, bem como 824 remédios.[4]
Como pudemos perceber, muitos eram os sofrimentos entre o povo britânico no século XVIII. Mas, quais poderiam ser suas causas? Em seu sermão #140, A promessa da compreensão, Wesley (1987, p. 285 [II, §1]) distinguia entre sofrimentos de ordem natural, moral e penal. O primeiro caso teria a ver com doenças e desastres naturais, por exemplo. O segundo caso envolve situações que as pessoas fazem de errado e acabam prejudicando a si mesmas, atraindo, como consequência o sofrimento. Já o terceiro caso, diz respeito às transgressões que precisam ser punidas juridicamente.[5] O sofrimento será inevitável na vida cristã. Edwards (2017, p. 130) explica que “Wesley estava convencido de que uma vida moral e espiritual é, no geral, uma vida feliz, mas isso não significa que não contenha dor, sofrimento ou infelicidade. A felicidade cristã nunca é felicidade pura ou absoluta; está sempre misturada com dor e sofrimento”.
Embora ser cristão não exima a pessoa de passar pelo sofrimento, também é verdade quem nem todo sofrimento é oriundo de pecados pessoais, diretamente, o que rompe com qualquer noção de “teologia da retribuição”.[6] Seguindo João Crisóstomo, ele disse que “o cristão tem suas tristezas, assim como suas alegrias. Mas sua tristeza é mais doce do que a alegria”,[7] e destacou que o cristão “pode sofrer acidentalmente perdas, pobreza, dor; mas em todas estas coisas ele é mais que vencedor” (WESLEY, 1986, vol. 3, p. 191 [III, §6]). Em alguns casos, soluções deveriam vir de medidas políticas, fugindo do poder do indivíduo ou da população; noutros casos, seria necessário haver conhecimentos técnicos específicos (como a noção medicinal de Wesley) acompanhados de uma doação benevolente de tempo e conhecimento ao próximo; finalmente, os recursos financeiros certamente fariam total diferença, afinal de contas, como Wesley declarou no sermão #50, O uso do dinheiro, se esse recurso for bem utilizado, promove “comida para o faminto, bebida para o sedento, vestimenta para o nu; dá ao viajante e ao estrangeiro onde reclinar a cabeça (WESLEY, 1985, vol. 2, p. 269-270 [§2 – introdução])”. Através dele, “podemos substituir o marido à viúva e o pai ao órfão. Talvez sejamos uma defesa para os oprimidos, um meio de saúde para os enfermos, um alívio para os que sofrem”, podendo “ser como olhos para o cego, como pés para o coxo; sim, um levantador dos portões da morte” (WESLEY, 1985, vol. 2, p. 269-270 [§2 – introdução]).
Mas, o que fazer quando não há políticas públicas, compartilhamento dos saberes em dons e talentos e tampouco misericórdia dos ricos e abastados? Na contramão dessa desesperança, Wesley destacou que um caminho para responder ao sofrimento dos aflitos é o que chamou de “tristeza solidária”, em seu sermão #84, A questão importante:
E o amor ao nosso próximo dará oportunidade à tristeza solidária: ele irá nos conduzir a visitar o órfão e a viúva em suas aflições, a estarmos ternamente preocupados por causa do angustiado e “a unir nossas lágrimas compassivas com esses que murmuram’” (WESLEY, 1986, vol. 3, p. 192 [III, §6]).
A “tristeza solidária” (sympathizing sorrow) é uma consequência do amor ao próximo. A palavra inglesa usada por Wesley, sympathizing, é formada pelo prefixo grego sym, que traz a ideia de algo em conjunto, em companhia, junto de ou com. Ademais, essa palavra também tem o radical grego pathos, que traz a noção de sofrimento, dor, infortúnio, calamidade, desastre, miséria, morte, paixão (no sentido do sofrimento). Trata-se, portanto, de se colocar no lugar do outro, de se comover com o sofrimento alheio, de se compadecer com os infortúnios do próximo.
Igualmente importante, é a palavra sorrow, que pode ser traduzida não apenas como tristeza, mas ainda como sofrimento, pesar, aflição, infortúnio etc. Amar ao próximo não é uma atitude teórica. Ela deve ser prática. Colocar-se no lugar do outro conduzirá o solidário aos órfãos e às viúvas em suas aflições. Fará com que quem se solidariza se preocupe com quem está angustiado, desejando verdadeiramente ajudar e a sofrer junto com quem sofre. Nem sempre teremos condições materiais para ajudar o próximo, mas muitas vezes, um ouvido amigo, uma palavra amiga, uma comunhão amiga, serão mais do que suficientes para quem está no sofrimento não caia na angústia da solidão. A tristeza solidária, nesse caso, nada mais é do que uma atitude de empatia, de se colocar junto da pessoa que sofre.
Edwards (2017, p. 131) comentou que Wesley concordou com o apóstolo Paulo ao afirmar que as pessoas que possuem amor são compassivas e que isso implica em compartilhar os fardos uns dos outros e empatizar com aqueles que estão sofrendo, ao mesmo tempo que se regozijam com aqueles que estão felizes. Nesse sentido, o sofrimento é fundamental para o próprio conceito de “compaixão”, pois como declarou Wesley em seu tratado A Plain Account of Genuine Christianity (Uma explicação clara do cristianismo genuíno), um cristão “se alegra com as virtudes de todos e participa nas suas felicidades, ao mesmo tempo que simpatiza com as suas dores e se compadece das suas enfermidades” (WESLEY, 1964, p.185 [I, §7]).
O comportamento empático de sofrer junto é um reflexo do que Deus faz com sua criação. Deus não é impassivo. Antes, sofre conosco e é presente em todas as vicissitudes de nossas vidas. No sermão #67, intitulado Sobre a providência divina, Wesley destaca que Deus está sempre conosco:
[Deus] declarou expressamente que seus “olhos estão sobre toda a terra” [cf. Sl 34:15; 83:18], pois ele “é amoroso com todos os homens, e sua misericórdia está sobre todas as suas obras” [Sl 145:9]. Consequentemente, ele está preocupado a cada momento com o que acontece com cada criatura na terra e mais especialmente com tudo o que acontece com qualquer um dos filhos dos homens (1985, vol. 2, p. 539-540 [§13]).
Sendo Deus, portanto, presente conosco e tendo compartilhado essa característica com sua criação, a empatia precisa ser destinada a todas e quaisquer pessoas, sem acepção. Nesse ínterim, e comentando sobre a resposta que Jesus deu ao doutor da lei a quem contara a parábola do samaritano, “vá e faça o mesmo” (Lc 10,37), Wesley ensinou:
Deixe‑nos ir fazer igualmente, considerando a todo homem como nosso próximo que precisa de nossa ajuda. Deixe‑nos renunciar aquele fanatismo e zelo partidário que encolheria nossos corações para uma insensibilidade por toda a raça humana, menos um número pequeno cujos sentimentos e práticas são como nossos próprios, em que nosso amor para eles é somente o amor próprio refletido. Com uma sinceridade honesta da mente, deixe‑nos sempre lembrar aquela afinidade entre homem e homem, e cultive aquele instinto feliz por meio de que, na constituição original de nossa natureza, Deus nos ligou fortemente um ao outro (WESLEY, 2020, p. 1213).
E Cristo é o melhor exemplo: Ele é o servo sofredor profetizado por Isaías. Edwards (2017, p. 131) explica que tal empatia faz parte da imagem de Deus no ser humano, e que “tal como Cristo, os cristãos [...] também são servos sofredores”. No entanto, ele alerta que “os prazeres associados à compaixão, ao amor, à gratidão, às relações justas e a outras virtudes nem sempre são puros”, de modo que “muitas vezes estão misturados com dores da alma, mas mesmo estas são parte integrante da felicidade genuína, da realização genuína da imagem de Deus dentro de nós, pois Deus sofre com aqueles que sofrem”.[8] Nosso Jesus sofre conosco “tristeza solidária”; os evangelistas narram que Ele foi movido por íntimas compaixões diversas vezes (Mt 9:36; 14:14; 15:32; 20:34; Mc 1:41; 6:34; 8:2; Lc 7:13). Como cristãos, devemos andar como nosso Senhor andou, afinal, como declarou Wesley, “a imitação de Deus é a única prova segura de que temos comunhão com ele” (2020, p. 1585).
O presente ensaio visou ajudar a refletir sobre a pergunta: “no sofrimento, quem é e onde está Deus?” no pensamento de Wesley. A partir dos excertos do sermonário deste clérigo anglicano, podemos dizer que Deus é um ser compassivo (não impassivo) e imanente (embora também transcendente). Onde ele está? Está conosco e em nós. Assim, quando um cristão ajuda alguém que está sofrendo, usando de tristeza solidária, empatia, está sendo um instrumento de Deus e canal divino para ajudar os aflitos e necessitados. Deus age por meio de nós. A tristeza solidária é parte integrante do que Wesley chamava de obras de misericórdia e promove o alívio imaterial quando oramos com e pelo angustiado, quando damos instrução ao desentendido, quando promovemos aconselhamento ao que está em dúvidas; ela promove alívio material quando alimentamos o faminto, saciamos a sede dos sedentos, vestimos os nus, abrigamos os desabrigados, visitamos os enfermos e encarcerados e apoiamos a todos os pobres e marginalizados, afinal, John Wesley declarou em seu sermão #92, Sobre o zelo, que se alguém “não tem compaixão dos seus conservos, nem o seu Senhor terá piedade” e “todo trabalho será uma abominação ao Senhor” (1986, vol. 3, p. 319-320 [III, §9]).[9]
Referências
BRYANT, Barry E. John Wesley On the Origins of Evil. Wesleyan Theological Journal, v. 30, n. 1, p. 111-134, 1995.
COUTO, Vinicius. A saúde integral do ser humano: apontamentos preventivos a partir da teologia de John Wesley. Caminhos de Diálogo, Curitiba, v. 7, n. 11, p. 211-225, jul./dez. 2019.
COUTO, Vinicius. Fé e obras: ortodoxia e ortopraxia em John Wesley. São Paulo: Reflexão, 2018.
COUTO, Vinicius. Obras de misericordia. In: WESLEY, John. Notas explicativas sobre o Novo Testamento. In: Bíblia de estudo John Wesley. [Ed. Centro de Estudos Wesleyanos]. Barueri: SBB, 2020, p. 1141.
COUTO, Vinicius. Pessimismo antropológico e otimismo soteriológico em John Wesley. Teologia brasileira, v. 98, n. 1, p. 23-26, 2023.
CHRYSOSTOM, John. Homilies on the Statues to the People of Antioch XVIII. In: CHRYSOSTOM, John. A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, vol. 9 – Series 1. Saint Chrysostom: On the Priesthood; Ascetic Treatises; Select Homilies and Letters; Homilies on the Statues. [editor: Philip Schaff]. Edinburgh / Grand rapids: T&T Clark / Eerdmans Publishing Company, 1889, p. 459-464.
EDWARDS, Rem B. Was Jesus ever happy? How John Wesley could have answered. Wesleyan Theological Journal, v. 52, n. 1, p. 119-132, 2017.
GONZÁLEZ, Justo. Juan Wesley: desafios para nuestro siglo. Buenos Aires: Cátedra Carnahan, 2003.
MACÊDO, Ewander Ferreira de. Wesley e a Modernidade: a teologia de John Wesley no contexto cultural do século XVIII. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Teologia, 2014 (Dissertação de mestrado).
MADDEN, Deborah. Wesley as advisor on health and healing. In: MADDOX, Randy L.; VICKERS, Jason E. (Eds.). The Cambridge Companion to John Wesley. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, 176-189.
MEEKS, M. Douglas. Economia global & economia de Deus. São Bernardo do Campo: Editeo, 2001.
NASCIMENTO, Amós. John Wesley, o Iluminismo e a educação metodista na Inglaterra. Revista de Educação do Cogeime, Piracicaba, v. 22, n. 12, p. 89-104, Junho de 2003.
ODEN, Thomas C. Os ensinamentos de John Wesley, vol. 4 – Ética e Sociedade. [trad. Vinicius Couto]. São Paulo: Reflexão, 2021.
OLSON, Mark K. Suffering and Becoming Holy: Insights from John Wesley’s Pastoral Counsel [s.l.]: Wesleyscholar, 2020. Disponível em: https://shorturl.at/dyEQU. Acesso em 7 mar 2024.
PORTER, Roy. English Society in the 18th Century, Revised Edition. London: Penguin Books, 1991.
THOMAS, Keith. The Ends of Life: Roads to Fulfillment in Early Modern England. Oxford: Oxford University Press, 2009.
TRACY, Wesley. Economic policies and judicial opression as formative influences on the Theology of John Wesley. Wesleyan Theological Journal, v. 27, n. 1, 1992.
WEETER, Mark L. John Wesley’s view and use of Scripture. Eugene: Wipf & Stock Publishers, 2007.
WESLEY, Jhon. Pensamentos sobre a escravidão. In: RENDERS, Helmut. John Wesley e a luta abolicionista. Com edição bilíngue dos seus Pensamentos sobre a escravidão e de seis cartas para abolicionistas, traduzidas e revisadas por Filipe Maia. São Paulo: ASTE, 2019, p. 90-157.
WESLEY, John. A Plain Account of Genuine Christianity. In: OUTLER, Albert C. (ed.). John Wesley. New York: Oxford University Press, 1964, p. 181-196.
WESLEY, John. Notas explicativas sobre o Novo Testamento. In: Bíblia de estudo John Wesley. [Ed. Centro de Estudos Wesleyanos]. Barueri: SBB, 2020.
WESLEY, John. Reflexiones sobre la presente escasez de alimentos. In: WESLEY, John. Obras de Wesley, vol. 7. [Editor: Justo González]. Henrico: Wesley Heritage Foundation, 1997, p. 89-97.
WESLEY, John. Sermon 111 – National Sins and Miseries. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 3 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1986, p. 564-576.
WESLEY, John. Sermon 133 – Death and Deliverance. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 4 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1987, p. 204-214.
WESLEY, John. Sermon 140 – The Promise of Understanding. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 4 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1987, p. 279-289.
WESLEY, John. Sermon 47 – Heaviness Through Manifold Temptations. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 2 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1985, p. 222-235.
WESLEY, John. Sermon 50 – The Use of Money. In: In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 2 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1985, p. 263-280.
WESLEY, John. Sermon 61 – The Mystery of Iniquity. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 2 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1985, p. 451-470.
WESLEY, John. Sermon 67 – On Divine Providence. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 2 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1985, p. 534-550.
WESLEY, John. Sermon 84 – The Important Question. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 3 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1986, p. 181-198.
WESLEY, John. Sermon 92 – On zeal. In: WESLEY, John. The Works of John Wesley, vol. 3 – Bicentennial Edition. [Editor: Albert C. Outler]. Nashville: Abingdom Press, 1986, p. 308-321.
WESLEY, John. The Works of the Reverend John Wesley, vol. 4. New York: B. Waugh & T. Mason, 1835.
------------
[1] Ver mais sobre isso em COUTO, 2023, p. 23-26.
[2] Veja mais sobre a ligação de Wesley e o Iluminismo em: COUTO, 2018; MACÊDO, 2014; NASCIMENTO, 2003.
[3] Veja, por exemplo suas críticas a céticos Iluministas e aos filósofos David Hume e Valtaire (WESLEY, 1835, vol. 4, p. 401 – cf. 3 de agosto de 1773); veja também sua crítica ao deísta Soame Jenyns e a sua obra Internal evidence of the Christian religion (Evidência interna da religião cristã) publicada em 1776, a respeito da qual Wesley questiona se o autor era deísta, cristão ou ateu por negar a inspiração das Escrituras (WESLEY, 1835, vol. 4, p. 459 – Journal, 24 de agosto de 1776; ver mais discussões sobre esse tópico em WEETER, 2007, p. 52).
[4] Veja mais sobre a preocupação de Wesley sobre a saúde em COUTO, 2019.
[5] Ver mais discussões sobre isso em BRYANT, 1995.
[6] Teologia da retribuição é a ideia de que, se alguém fizer o bem, receberá as bênçãos divinas, mas se praticar o mal, receberá a punição. Atualmente, encontramos muito desse ensino na teologia da prosperidade neopentecostal. Para um olhar sobre como John Wesley encarava o problema do sofrimento não numa perspectiva retributiva, ver WESLEY, 1987, vol. 4, p. 204-214; e WESLEY, 1985, vol. 2, p. 222-235.
[7] Trata-se de uma citação indireta de João Crisóstomo. O contexto dela é: “Você não ouve Paulo dizendo: Tenho grande tristeza e tristeza contínua em meu coração? [Rm 9,2] Isto, de fato, é algo para se admirar: que a tristeza trouxe um ganho e um prazer que resultou do ganho; pois assim como o flagelo não lhes trouxe angústia, mas alegria; assim também novamente a tristeza lhes proporcionou aquelas grandes coroas. E este é o paradoxo: que não só a tristeza do mundo, mas também a sua alegria, contém perdas extremas; mas no caso das coisas espirituais acontece exatamente o contrário; e não só a alegria, mas também a tristeza contém um rico tesouro de coisas boas! Mas, como passo a explicar: no mundo, uma pessoa muitas vezes se alegra ao ver um inimigo em apuros; e com essa alegria ele atrai para si um grande castigo. Novamente, outra pessoa chora ao ver um irmão cair; e por causa desta tristeza ele obterá para si muito favor de Deus. Você vê como a tristeza segundo Deus é melhor e mais proveitosa do que a alegria do mundo?” (CHRYSOSTOM, 1889, vol. 9 – Series 1, p. 461 (§8).
[8] EDWARDS, 2017, p. 131.
[9] Sobre as obras de misericórdia, veja, ainda, COUTO, 2020, p. 1141.