Anderson Batista Monteiro
Doutor em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Contato: abm2207@hotmail.com
Resumo: Com base no diálogo entre a teologia bíblica e a sistemática, inspirado pelas descobertas do Concílio Vaticano II, este estudo investiga como as ações simbólicas dos profetas de Israel e de Jesus fundamentam a compreensão teológica dos sacramentos. Esses atos manifestam a presença de Deus e a realização da salvação, antecipada pelos profetas e cumprida por Cristo. Jesus, reconhecido como profeta, não apenas anuncia o futuro, mas cumpre as antigas profecias e inaugura o Reino de Deus com gestos e palavras salvadoras. A partir de sua morte e ressurreição, a Igreja primitiva, impulsionada pelo Espírito Santo, continua a missão de Cristo, repetindo seus atos tornando-os presentes na história. Assim, este artigo ressalta o caráter profético do cristianismo, sustentado pela vivência sacramental, pela escuta da Palavra e pela comunhão fraterna, que deve servir de modelo para o exercício da missão profética da Igreja no mundo contemporâneo.
Palavras-chave: Sacramento, Profecia; Concílio Vaticano II; Teologia dos Sacramentos
Abstract: Based on the dialogue between biblical and systematic theology, inspired by the discoveries of the Second Vatican Council, this study investigates how the symbolic actions of the prophets of Israel and of Jesus underlie the theological understanding of the sacraments. These acts manifest the presence of God and the realization of salvation, anticipated by the prophets and fulfilled by Christ. Jesus, recognized as a prophet, not only announces the future, but fulfills ancient prophecies and inaugurates the Kingdom of God with saving gestures and words. From his death and resurrection, the early Church, driven by the Holy Spirit, continues the mission of Christ, repeating his acts and making them present in history. Thus, this article highlights the prophetic character of Christianity, sustained by the sacramental experience, by listening to the Word and by fraternal communion, which should serve as a model for the exercise of the prophetic mission of the Church in the contemporary world.
Keywords: Sacraments; Prophecy; Second Vatican Council; Theology of the Sacraments
No século XX, com efervescer dos movimentos litúrgico, bíblico, patrístico, pastoral e ecumênico no cenário eclesial, a Igreja foi impulsionada a realizar o Concílio Vaticano II. Inspirados pelas pesquisas desses movimentos teológicos, os padres conciliares redescobriram o aspecto bíblico e litúrgico da teologia. Ao beber das fontes da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja, eles encontraram um fecundo manancial capaz revitalizar a teologia e toda Igreja.
Como consequência deste processo de intensa investigação teológica e o advento das novas pesquisas na área da exegese bíblica, diversos exegetas católicos e protestantes dedicaram estudos sobre as ações proféticas dos profetas de Israel como uma maneira de anunciar a mensagem dada por Deus e a semelhança destes atos com as ações realizadas por Jesus. Na Sagrada Escritura, essas ações simbólicas são apresentadas sob o termo “sinal”, ´ôt no hebraico e semeîon no grego. Esta expressão aparece por cerca de oitenta vezes no Antigo Testamento e setenta vezes no Novo Testamento para indicar que Deus está presente e age constantemente no meio do seu povo (RENGSTORF, 1979, p. 38.90).
Nas ações simbólicas dos profetas de Israel, encontramos um campo fértil de estudo que as relaciona com a teologia sacramental. Essas ações revelam os fundamentos da noção de sacramentos a partir das ações proféticas dos profetas de Israel e de Jesus. Na teologia bíblica dos profetas, o “sinal” não apenas manifesta a intervenção divina, mas também anuncia o futuro do povo escolhido como redenção da humanidade. Esses atos proféticos, que prenunciam a salvação, encontram seu cumprimento pleno em Jesus Cristo. De fato, para muitos de sua época, Cristo era um profeta poderoso, que anunciou o reino de Deus por meio de obras e palavras que recordavam o modo de atuar dos profetas de Israel (Lc 24,19)
O núcleo de toda a mensagem evangélica é o anúncio do Reino de Deus. Por meio de suas palavras e ações, Cristo aproximava o ser humano de Deus e do próximo, gerando uma comunhão que expressa a totalidade da experiência de salvação. Nas curas e nos exorcismos de Jesus, experimenta-se de modo singular o poder divino. No ´ôt profético da última ceia, nos gestos de entrega do pão e do vinho, Cristo antecipa a sua morte que se concretizará no Calvário. Na cruz, Ele se entrega por toda a humanidade, sendo este o sinal profético por excelência. Com este gesto, Jesus reconcilia os seres humanos pelo sangue derramado na cruz. A força salvadora de Cristo é prolongada na história por meio dos apóstolos que repetem os atos proféticos de Cristo no mundo. Embora não acrescentem nada à mensagem profética, os apóstolos comunicam o poder de Jesus ao mundo.
Aprofundar essa relação entre profecia e sacramentos no campo da teologia é explorar o coração da vida cristã. A celebração dos mistérios de Cristo torna o fiel um sinal vivo da presença de Jesus em todos os lugares, encarregado de continuar os atos salvíficos de Deus ao longo da história. Nesta pesquisa, buscamos destacar a relevância teológica dos sinais proféticos que permeiam a revelação bíblica e abrir caminho para uma reflexão mais profunda sobre os sinais proféticos na história da salvação.
O profetismo bíblico se caracteriza pela comunicação direta entre Deus e o ser humano. A pessoa escolhida para receber a mensagem divina é chamada de profeta, e sua missão é transmitir fielmente ao povo de Deus a palavra que lhe foi confiada. Para garantir que a mensagem seja compreendida corretamente, o profeta recorre tanto a palavras quanto a sinais que simbolizam o conteúdo recebido.
Anterior ao relato veterotestamentário, o fenômeno profético já estava presente entre os povos do Antigo Oriente. Nessas culturas, havia uma busca por respostas para os enigmas, problemas e males que afligiam a sociedade. O desejo de entender os eventos futuros e, de certa forma, controlá-los motivava o interesse por formas de profetismo que pudessem revelar a vontade divina. Em regiões como Egito, Mesopotâmia, Mari e Canaã, havia indivíduos que se valiam de sinais para prever o futuro e encontrar maneiras de influenciá-lo. Para isso, desenvolveram métodos de adivinhação e práticas mânticas, com o objetivo de acessar as divindades e obter orientações sobre decisões e ações a serem tomadas (ALONSO SCHÖKEL; SICRE DIAZ, 1988, p. 26.)
Em Israel, a profecia como palavra de Deus ocupa uma posição central na vida do povo, impactando profundamente os aspectos culturais, sociais e religiosos. O profetismo bíblico não se baseia em técnicas ou rituais instrumentais. É Deus quem toma a iniciativa de se comunicar com os homens e estabelece uma relação pessoal com seu povo, construindo uma história compartilhada que se fundamenta em intimidade e pertença. Para isso, Ele se revela, permitindo que os homens O conheçam.
Quando Deus escolhe alguém para a missão profética, Ele age com total liberdade, chamando quem deseja, independentemente de condição social, profissão, grau de instrução, idade ou sexo. É no cotidiano dos homens que o profeta é chamado para a missão de comunicar a mensagem divina e no contexto de um povo ele é chamado por Deus para orientar seus irmãos no caminho da fé e da obediência ao Senhor.
A vocação do profeta geralmente está enraizada em uma experiência divina profunda e contínua. A vida do profeta não é marcada por uma única manifestação de Deus, mas por uma constante e permanente escuta do chamado divino ao longo de toda a sua vida. Essa relação contínua reflete um diálogo ininterrupto com Aquele que o escolheu para profetizar. Como expressa Sicre Diaz “Deus não irrompe na vida deles somente no princípio. Vão descobrindo a Deus dia por dia, e assim se completa essa imagem inesgotável do Santo ou da Glória de Deus” (2002, p. 119).
Na atualidade, poderíamos associar os profetas à figura dos místicos, segundo a compreensão contemporânea de que o místico é alguém que vive em proximidade com Deus. De fato, essa é uma das principais características do profeta: uma vida de intimidade com o Senhor, fruto de uma experiência transformadora e indescritível com Deus, que molda inteiramente sua existência. Nesse sentido, J. McKenzie (2017, p. 680) afirma que:
A experiência profética é, portanto, essa experiência mística e direta da realidade da presença de Deus. Os profetas não fazem mais do que revelar a natureza e o caráter de Deus, de quem tiveram uma experiência, e afirmam as implicações da natureza e do caráter de Deus com o modo e o agir dos homens.
Tudo isso acontece para que o profeta, a quem Deus confiou sua Palavra, se torne seu verdadeiro porta-voz, capaz de transmitir com profundidade o amor e a mensagem de Deus. A profecia em Israel não é uma mensagem exclusiva a um só homem, mas é destinada a todo povo. O profeta é aquele que viveu uma intensa experiência com o mistério de Deus, revelado a ele, ainda que de forma parcial, com o objetivo de guiar outros homens e mulheres no caminho para esse conhecimento. A profecia surge da vivência de fé do profeta, manifestada tanto por palavras quanto por ações. Ele é o "homem-palavra", que, com sua própria vida, encarna e proclama os desígnios de Deus, inspirado pela ruah, o Espírito de Deus. Por isso, o profeta pode ser chamado de "homem do Espírito e da Palavra".
Os profetas têm plena consciência de que a palavra que proclamam não é sua própria (Jr 1,9), mas provém de Deus; eles sabem que, por meio do Espírito, anunciam ao povo a mensagem divina (Ez 3,12). A palavra que eles proclamam é como um sopro de vida, capaz de reanimar os ossos secos (Ez 37), assim como o Espírito de Deus pairava sobre a criação no princípio, renovando a face da Terra. Esse mesmo Espírito, que inspira e conduz os profetas, é aquele que consumará a nova aliança, plenamente revelada no evento de Pentecostes.
O profeta, na tradição hebraica, é também o homem do dabar, que significa a palavra ativa e eficaz, capaz de realizar aquilo que expressa. Na concepção hebraica, a palavra não é uma realidade abstrata, mas uma força dinâmica e criadora. O dabar de Deus não apenas anuncia eventos, mas efetivamente os realiza. A palavra profética é, portanto, a força criadora da Palavra divina que não só proclama a salvação, mas a concretiza. Além disso, ela provoca uma resposta ativa no ouvinte, pois, como Isaías ensina, a palavra de Deus não retorna a Ele sem antes produzir frutos, gerar vida e transformação (Is 55,11).
Sendo uma realidade viva, a palavra confiada ao profeta tem o poder de realizar o que anuncia (Nm 23,19; Is 55,10-11). Jeremias, por exemplo, recebe essa palavra diretamente em sua boca (Jr 1,9), e Ezequiel a consome em um rolo (Ez 2,9 – 3,3). Essas experiências indicam que a palavra de Deus não é apenas ouvida, mas é uma vivência real e transformadora, um encontro com o próprio Deus, que é um fogo consumidor que não pode ser contido (Jr 20,7-9).
Por isso, J. McKenzie afirma que já no Antigo Testamento podemos avistar a palavra de Deus como sacramento, tendo em vista que cumpre o que significa (Ibidem, p. 624). A palavra profética é a presença viva de Deus no meio de seu povo, uma presença que age, cura e protege. O verbo criador de Deus (Gn 1; Sl 33,6.9; Sl 147,4; Is 40,26; Is 48,13) é a força que dá origem a todas as coisas e guia a história da salvação. No ato de profetizar, o profeta não apenas fala em nome de Deus, como se YHWH estivesse distante, mas revela a presença ativa de Deus entre o povo, fazendo-se presente através da palavra proferida.
Na Sagrada Escritura, o termo "sinal" ('ôt em hebraico e semeîon em grego) reflete a pedagogia de Deus, que constantemente se manifesta por meio de sinais no meio do seu povo. Este termo aparece cerca de oitenta vezes no Antigo Testamento e setenta vezes no Novo Testamento (RENGSTORF, 1979, p. 38.90). As ações simbólicas realizadas pelos profetas no Antigo Testamento possuíam uma capacidade singular de capturar a atenção dos destinatários, muitas vezes de maneira mais impactante do que a própria palavra falada. Através desses sinais, Deus prosseguia revelando seu plano de salvação. Esses 'ôt ou semeîon ocupam um lugar central na teologia dos profetas bíblicos. Os sinais proféticos revelam que a manifestação divina se deu tanto através de atos como de palavras. Eles tornam visível a intervenção de Deus na história do mundo. No Antigo Testamento, os sinais bíblicos são as maravilhas realizadas por Deus no meio do povo escolhido, apontam para a salvação definitiva que há de vir.
G. Von Rad aponta a dificuldade que muitos tiveram em reconhecer o valor desses sinais como instrumentos de revelação divina. Foi necessário um longo período para que os exegetas compreendessem o significado profundo dos sinais proféticos (2006, p. 531). As ações simbólicas dos profetas não eram meramente ilustrações pedagógicas, mas atos verdadeiramente proféticos que transmitiam a mensagem de Deus. Esse conceito se assemelha, de certa forma, ao valor dos sinais nas culturas antigas, onde o sinal não só ilustrava a realidade, mas tinha uma função criadora e, muitas vezes, exercia um papel mais significativo do que a própria palavra. Através dos sinais proféticos, a palavra era comunicada: Deus falava, agia e se revelava na história. Por meio da linguagem de atos simbólicos realizados pelos profetas, Deus convidava os homens a pautar sua vida de acordo com sua Palavra e preceitos.
A metodologia presente nos atos proféticos era bem conhecida pelo povo de Israel, que ao longo de sua história experimentou diversos sinais que revelavam a presença de Deus e despertavam a fé nas pessoas. Tanto por meio de palavras quanto de atos concretos, o Senhor se fazia presente no meio do seu povo. O primeiro sinal registrado na Sagrada Escritura encontra-se logo no início do livro do Gênesis. No relato da criação, a palavra de Deus se transforma em ato, assumindo um poder criador. Deus cria os luzeiros no firmamento para separar o dia da noite, e esses astros servem como sinais para marcar as festas e os dias do ano (Gn 1,14). No 'ôt da criação, tudo é criado pela palavra de Deus. Antes de sua intervenção, a terra era vazia e desordenada; o mundo visível foi formado como um sinal concreto da Palavra, que ao ser pronunciada, cria o que foi dito.
No Pentateuco, encontramos os primeiros sinais bíblicos da aliança. O povo de Deus interpreta os eventos salvíficos e a revelação divina por meio de sinais visíveis que se manifestam na história da humanidade. Cada aliança estabelecida no Antigo Testamento é acompanhada de um sinal específico: com Noé, o arco-íris (Gn 9,8-17); com Abraão, a circuncisão (Gn 17,2-11); com Moisés, o sábado (Ex 31,12-17). Outro sinal importante presente no Pentateuco é o da eleição divina. Deus chama Abraão pelo nome e, através dele, promete abençoar toda a terra (Gn 12,3). Segundo C. Rocchetta, a eleição bíblica é uma obra divina que não depende das ações humanas ou de suas capacidades, mas resulta essencialmente do amor gratuito de Deus, que se aproxima da humanidade para salvá-la (1991, p. 91). A eleição é um sinal porque aponta para um evento futuro. Assim, o chamado de Abraão não é apenas o de uma pessoa, mas a vocação de todo o Israel, que será estendida a todos os povos. “Um dia, Deus estenderá sua eleição a todas as nações da terra, delas fazendo um só povo (Is 55,3-5; 56; 60,3-9; 66, 18-21; Sl 87). Israel foi escolhido tendo em vista uma eleição mais ampla: a de todos os homens (Is 48,12-14; 51,16)” (Ibidem, p. 91).
Ainda, no Pentateuco, são descritos outros sinais fundamentais para a experiência de fé do povo de Deus. No livro do Êxodo vemos o sofrimento de todo Israel que vivia no Egito nas mãos do Faraó (Ex 1,8-14) e a resposta de Deus que ouve o clamor de seu povo e intervém a seu favor (Ex 3,7-14). Através de Moisés, por meio de sinais e prodígios (por exemplo: as dez pragas e a passagem do anjo exterminador), o Senhor realiza a libertação de seus eleitos (Ex 12,37-42). O êxodo tornou-se o grande sinal salvífico de Deus na história de Israel. Após a libertação do Egito, caminhando no deserto, o Senhor caminha com seu povo e se dá a conhecer através de sinais – o maná, a coluna de nuvem e a coluna de fogo.
Ao longo da história da salvação, os sinais assumem uma forma profética. Além de indicar a ação divina, eles passam a anunciar o futuro do povo eleito, que será a redenção da humanidade. Deus, que falou por meio dos profetas, também age por meio deles. Nas ações simbólicas “é o próprio Javé que age por intermédio dos profetas” (VON RAD, 2006, p. 531). Essas ações estranhas e incompreensíveis são sinais concretos da ação de Deus. Entre os profetas, o sinal recebe uma força do agir de Deus sobre o seu escolhido. “Eles têm por finalidade proclamar, por meio de gestos ou sinais visíveis, a mensagem profética transmitida geralmente por palavras” (AMSLER, 1992, p. 29). Nos profetas Isaías, Oséias, Jeremias e Ezequiel encontramos alguns exemplos de atos proféticos que revelam a mensagem de Deus ao povo de Israel, para comunicar o julgamento divino, a salvação ou a esperança.
Isaías utiliza seus filhos para transmitir mensagens proféticas. Em Isaías 7,3, leva seu filho Sear-Iasub, cujo nome significa “um resto voltará”, ao rei Acaz, prenunciando um remanescente que retornará da guerra ou se converterá a Deus. Já em Isaías 8,1-4, o nascimento de seu segundo filho, "pronto para o saque, preparado para o butim", anuncia a derrota iminente de Síria e Efraim pelos assírios. Outra ação simbólica ocorre em Isaías 20,1-4, quando o profeta anda descalço e nu por três anos para indicar a humilhação do Egito e da Etiópia diante da Assíria.
Oséias utiliza seu próprio casamento como símbolo do relacionamento entre Deus e Israel. Ele casa-se com uma prostituta (Os 1,2), representando a infidelidade do povo de Israel, e os nomes de seus filhos — “Jezrael”, “Sem-piedade” e “Não-meu-povo” — indicam o fim da aliança com Deus. No entanto, o perdão do profeta à sua esposa adúltera é um sinal do amor misericordioso de Deus, que busca a reconciliação com Israel (Os 3,1-3).
Jeremias, por sua vez, também realiza atos simbólicos para anunciar o julgamento divino. O cinto de linho desgastado representa a corrupção de Israel (Jr 13,1-11); sua renúncia ao matrimônio e aos lamentos nos funerais simbolizam o fim da aliança entre Deus e seu povo (Jr 16,1-9). Outro gesto significativo é quando ele quebra um vaso de barro, simbolizando a destruição iminente de Jerusalém (Jr 19,1-2.10-11).
Ezequiel, que frequentemente usa ações simbólicas, desenha o cerco de Jerusalém em um tijolo, deita-se de lado para representar o tempo do exílio e raciona alimentos para mostrar as condições que os israelitas enfrentarão (Ez 4,1–5,17). Além disso, após a morte de sua esposa, ele não demonstra luto, um sinal da destruição do templo e da ausência de lamentos pelo sofrimento de Israel (Ez 24,15-24).
Essas ações simbólicas revelam a profundidade do amor e da justiça de Deus. Mesmo diante da infidelidade do povo, os profetas transmitem a esperança de restauração, reconciliando o presente julgamento com a promessa de salvação futura. A existência do profeta é um “´ôt vivo” da ação Deus. Ele se torna testemunha de Deus em sua própria humanidade, refletindo o cumprimento da vontade divina no homem. Por meio de suas ações simbólicas, realiza-se a vontade de Deus na história humana. Os ´ôt proféticos manifestam a presença do Senhor que age para julgar e salvar o mundo; revelam quem é Deus e como ele conduz a sua obra de salvação neste mundo.
O fio condutor de todos os ´ôt do Antigo Testamento é a aliança que Deus faz com os homens: “Os profetas não só retomam frequentemente a ideia da aliança, nem apenas fazem ações externas, mas se tornam, eles mesmos, sinais personificados da aliança de Deus” (GUIMARÃES, 1998, p. 91-92). Desde o primeiro ´ôt, na criação, Deus tem em vista a sua aliança com os homens. Mesmo após a ruptura inicial causada pelo pecado, Deus não abandona seu plano. Através dos profetas, Ele anuncia o grande 'ôt da aliança eterna (Ez 37,15-28). Os sinais realizados pelos profetas do Antigo Testamento têm o propósito de proclamar e realizar a salvação de Deus, que se concretizará na plenitude dos tempos, no cumprimento das profecias.
Jesus foi amplamente reconhecido como um profeta poderoso, que, com obras e palavras, anunciou a vinda do reino de Deus, conforme mencionado em Lucas 24,19. Durante seu ministério, ele realizou inúmeras ações que ecoaram o modo de atuação dos profetas de Israel, levando muitos a professar que Ele era “verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo” (Jo 6,14). Assim como os profetas do Antigo Testamento, Jesus uniu palavras e ações de maneira profundamente simbólica, mas com uma dimensão ainda mais significativa: Ele não apenas anunciava o futuro, como também realizava esse futuro, de forma escatológica, através da presença já manifestada do Reino.
Jesus é o 'ôt (sinal) do Pai, revelando Deus ao mundo. Seus atos não são apenas simbólicos, mas ações salvíficas, repletas de força divina, como o próprio testemunho do Pai. Isso se torna evidente em diversos momentos de sua vida pública, começando pela ação profética de seu batismo no rio Jordão. Embora João Batista tenha ficado desconcertado com o pedido de Jesus para ser batizado, Cristo deixou claro que essa ação era necessária "para cumprir toda a justiça" (Mt 3,14-15). Ao se submeter ao batismo, Jesus não buscava a purificação de pecados, mas inaugurava sua missão messiânica e escatológica. Ele se unia simbolicamente aos pecadores, antecipando a obra redentora que culminaria na cruz.
A ação de Jesus no Jordão também remete à sua função profética ao associar-se com os penitentes que buscavam uma vida nova. Ao identificar-se com eles, Jesus assume o pecado da humanidade, preparando-se para a sua missão de cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29). Esse evento é uma antecipação de sua paixão e morte, já que o batismo aponta para a expiação final na cruz, onde o sacrifício de Jesus será consumado.
No batismo, vemos uma antecipação da cruz, onde Jesus toma sobre si os pecados do mundo. Como o batismo e o calvário são inseparáveis, o batismo no Jordão prefigura a descida de Cristo aos mortos e sua vitória sobre a morte pela ressurreição. O Espírito que desce em forma de pomba e a voz celestial que proclama "Este é o meu Filho amado" (Mt 3,17) apontam para a nova criação que será plenamente realizada na ressurreição, quando a humanidade será redimida e restaurada. Assim, Jesus, o profeta por excelência, realiza a Palavra de Deus de forma plena, sendo o cumprimento final dos 'ôt proféticos, tanto em palavras quanto em ações, trazendo a salvação ao mundo. Assim, P. Rosato (2006, p. 55) afirma que:
Jesus, unindo os injustos em seu gesto salvífico, convida-os a se sentir solidários com ele, a praticar a justiça e a crer no início real de sua inclusão futura no reino de Deus. Em outras palavras, Jesus realiza no Jordão um ato mais criador que figurativo, no sentido de que faz mais que apontar para um evento salvífico futuro; o seu ´ôt seria para os pecadores presentes uma experiência atual da justiça divina que é verdadeiramente definitiva ou escatológica, pois já na história o Servo de Deus, o Bem-amado por Deus, inclina-se sobre os abatidos.
Após o batismo no Jordão, Jesus inicia sua missão pública proclamando a Boa Nova do Reino de Deus por toda a Galileia. Em um momento emblemático na sinagoga de Nazaré, Ele lê o oráculo de Isaías 61,1-2, que fala da libertação e da salvação, e declara: "Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura" (Lc 4,21). Ao dizer isso, Jesus afirma que as antigas profecias de Israel encontram seu cumprimento Nele. Esse "hoje" marca a inauguração da era messiânica, e a missão de Jesus se desenrola sob a força do Espírito Santo, que o ungiu para trazer a Boa Nova aos pobres e aos marginalizados.
O ministério de Jesus, como o Ungido do Senhor, é movido pelo Espírito para levar libertação e cura àqueles que mais sofrem, cumprindo as promessas proféticas de restauração e salvação. No 'ôt de Nazaré, Jesus se identifica com o servo sofredor descrito em Isaías, dedicando-se à missão de redimir os pobres, os prisioneiros, os cegos e os oprimidos. Sua obra de libertação não se resume a palavras; é uma ação concreta, em que Ele se compromete profundamente com os excluídos e marginalizados da sociedade, fazendo da sua missão um testemunho vivo do amor e da justiça de Deus.
Jesus não realiza um anúncio vazio ou superficial. Diferente dos discursos habituais nas sinagogas, suas palavras refletem um compromisso com os necessitados. Ele proclama o amor de Deus de forma tangível e gratuita, e essa proclamação é manifestada não apenas em palavras, mas também em ações. Esta obra de libertação anunciada por Cristo “não é um anúncio propagandístico ou demagógico; é o compromisso de ser fiel aos pobres, oprimidos, afastados e excluídos” (FABRIS, 2006, p. 57). Seus atos, como as curas dos doentes e os sinais de libertação, demonstram que Ele é o cumprimento da esperança messiânica, o 'ôt vivo de que Deus age e está presente entre o seu povo. Dessa forma, Jesus, no poder do Espírito, leva a cabo o projeto salvífico de Deus, libertando aqueles que estavam à margem e oferecendo-lhes a esperança de uma nova vida.
Para realizar o anúncio da Boa Nova, Jesus convoca doze homens para segui-lo, retomando assim tradições do Antigo Testamento. A iniciativa de Jesus ao chamar seus discípulos contrasta com o costume rabínico da época, no qual o discípulo escolhia seu mestre. Nesse contexto, Jesus é quem toma a iniciativa: “chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele. E constituiu doze, para que ficassem com ele” (Mc 3,13-14). O grupo dos doze representa a continuidade com a história de Israel, uma alusão às doze tribos, simbolizando a formação de um novo povo de Deus. Como os profetas de Israel, os discípulos de Cristo são chamados a uma dedicação exclusiva. São constituídos como mensageiros e agentes da vinda do Reino de Deus, recebendo de Jesus a autoridade para expulsar espíritos impuros e curar os enfermos (Mt 10,1). Essa autoridade não é meramente verbal, mas inclui gestos concretos de libertação. G. Barbaglio destaca que a comunidade apostólica “é chamada não só para proclamar o anúncio de libertação, mas também de realizar gestos concretos de libertação” (2014, p. 179).
A convocação dos apóstolos é um ato simbólico que indica a restauração das doze tribos de Israel. Jesus decide-se por doze, o mesmo número das antigas tribos de Israel, para formar o novo povo de Deus. Como um retorno às origens de Israel, a reunião de um novo povo a partir do grupo apostólico é um sinal de esperança em vista da reunião escatológica de Israel. A expectativa da restauração das doze tribos é incorporada no chamado à adesão ao reino dos Céus.
No centro de todo Evangelho está o anúncio do reino de Deus. “Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15), anunciava Jesus. Por trás de suas palavras e seus gestos existe o convite à conversão. É dessa mesma forma que o anúncio de Jesus Cristo irá aproximar o homem de Deus e de seu próximo, gerando uma comunhão que expressa a totalidade da experiência de salvação. J. Jeremias afirma que o anúncio da boa-nova não foi bem recebido pelos membros do judaísmo. Pelo contrário, as reações contrárias ao anúncio foram marcadas por incompreensões (Lc 15,29-30), revolta (Lc 15,2), injúrias (Mt 11,19) e blasfêmias (Mc 2,7). Para J. Jeremias “a boa-nova era um tapa na cara para todo o sentimento religioso da época. O dever mais importante para o judaísmo do tempo era manter a separação com referência aos pecadores” (2008, p. 184). E Jesus entende sua missão de outra forma: o anúncio do evangelho é justamente para os pecadores (Mt 9,11).
O reino de Deus é, de fato, o núcleo da mensagem de Jesus, e todos os seus ensinamentos, exortações, gestos e ações visam revelar a ação divina de maneira concreta tanto no seu tempo quanto nos tempos futuros. Em Jesus, o reino chegou, e, assim, Deus se aproxima do ser humano com amor e compaixão e o homem, por sua vez, é transformado. Com a chegada do reino o homem é provocado a realizar uma mudança completa em sua vida, transformando-se em um novo homem para um mundo novo.
As curas e exorcismos realizados por Jesus são expressões concretas da missão evangelizadora do Filho de Deus e sinais da realização do Reino dos Céus. Esses milagres não apenas demonstram o poder de Jesus, mas também estão diretamente ligados ao cumprimento das profecias do Antigo Testamento, especialmente a de Isaías: “Naquele dia, os surdos ouvirão o que se lê, e os olhos dos cegos, livres da escuridão e das trevas, tornarão a ver” (Is 29,18-19). Os evangelhos interpretam esses atos como confirmações da era messiânica prometida pelos profetas, revelando a intenção de Deus de restaurar e curar a humanidade (MOTTU, 2007, p 137-139).
Por tais milagres, Jesus foi identificado como um profeta poderoso, sua fama espalhava-se rapidamente e “toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía uma força que a todos curava” (Lc 6,19). Esses milagres manifestam a força de Deus, que não está sujeita a nenhum limite, revelando um poder transformador que desafia as expectativas humanas e aponta para a realidade do Reino que se manifesta na vida dos que creem.
A cura realizada por Cristo é uma manifestação poderosa da salvação integral que Ele oferece, abarcando não apenas a dimensão física, mas também a espiritual, atingindo a totalidade da pessoa — corpo e alma. Essa visão de salvação é central para a missão de Jesus, que se apresenta como o Salvador que busca e salva os perdidos, conforme sua própria declaração em Lucas 19,10. Assim, suas curas são respostas diretas à dor e ao sofrimento humano, refletindo o amor e a compaixão de Deus por sua criação.
Os Evangelhos, em vez de retratar Jesus como um Messias onipotente e triunfante, apresentam-no como um que participa das aflições da humanidade. Ele não se conforma às expectativas messiânicas tradicionais, mas se identifica com o sofrimento, tornando-se um salvador que toma sobre si as dores e as angústias do povo. Essa abordagem sublinha a identidade do novo Messias, que, como imagem de Deus, vem restaurar todas as coisas danificadas pelo pecado e pela separação de Deus.
Os exorcismos realizados por Jesus complementam esse entendimento. Eles não são apenas atos de libertação, mas também sinais da instalação do Reino dos Céus. Os demônios, representando a origem do mal, das doenças e do sofrimento, são desafiados pelo poder de Jesus. Ao expulsá-los, Ele demonstra que o mal não possui poder sobre o reino que Ele está instaurando. Essa ação de libertação sinaliza a vitória de Deus sobre todas as formas de opressão e dor, oferecendo uma antecipação do que será a plenitude da salvação e da vida no Reino, onde a dor, o mal e a morte não terão mais lugar. “Os exorcismos davam-lhe (ou confirmavam) a consciência de estar no limiar de um novo mundo, em que o mal é definitivamente vencido” (THEISSEN; MERZ, 2004, p. 317).
O ministério de Jesus é marcado por uma opção clara pelos pobres e pecadores, pessoas marginalizadas e consideradas impuras pela sociedade da época. Essa escolha não é apenas um aspecto da sua mensagem, mas se manifesta de forma concreta através de suas ações, especialmente nas refeições. Ao compartilhar a mesa com aqueles que eram excluídos, Jesus rompe as barreiras culturais e religiosas, comunicando a misericórdia divina e estabelecendo um espaço de acolhimento no Reino dos Céus. Esses momentos de refeição simbolizam reconciliação e inclusão, oferecendo um convite a todos para participar do banquete messiânico.
O milagre da multiplicação dos pães é particularmente significativo nesse contexto. Jesus evoca a memória de Eliseu, que alimentou cem homens com vinte pães (2Rs 4,42-44), e do maná que sustentou o povo no deserto (Ex 16,4-15). Esses eventos do Antigo Testamento não apenas prefiguram a multiplicação dos pães, mas também se conectam com a Última Ceia, onde Jesus se identifica de maneira profunda com o alimento compartilhado Os discípulos descobrirão que essa “ceia” no deserto era a prefiguração da última ceia de Jesus, na qual “o próprio Deus se torna solidário com o povo sem guia, comendo o mesmo pão, distribuído como sinal de uma existência entregue até a morte” (FABRIS, 2014, p. 493). Na multiplicação dos pães, encontramos o ´ôt da generosidade de Deus, através de seu Filho entregue aos homens para que não morram, mas tenham a vida eterna. Este gesto de Jesus revela sua profunda identidade messiânica: Ele reúne os dispersos e abandonados, é o verdadeiro pastor que dá vida a seu rebanho e suscita a esperança de um povo oprimido, que o seguia por ver os sinais que realizava.
Segundo Espinel, as ações proféticas de Jesus nos conduzem a uma única direção: a revelação do reino dos Céus (1976, p. 30-42). Todos os gestos simbólicos realizados por Cristo apontam para o momento culminante da última ceia com seus discípulos. A ceia do Senhor é o último ato simbólico de Jesus, sendo a síntese de toda a sua existência, que terá seu ponto máximo na morte e ressurreição. Os 'ôt proféticos de Jesus alcançam sua plenitude no 'ôt da Última ceia, que se perpetuará nas ações e na vida da comunidade eclesial.
O primeiro gesto de Cristo na ceia, em que a Eucaristia será instituída é o de lavar os pés de seus discípulos. Jesus surpreende a todos por realizar um gesto que deveria ser feito por um servo e não pelo mestre. São João apresenta o lava-pés em substituição ao relato da instituição da Eucaristia, apenas neste evangelho o lava-pés é narrado, que por sua vez não descreve a instituição da Eucaristia como nos outros evangelhos. F. Nault esclarece que a ausência do relato da ceia foi proposital. com “o objetivo de se afastar das tendências sacramentalizantes da Igreja então incipiente. Ele busca descrever a ceia em um sentido de orientação ética com o deslocamento do ‘sacramento do altar’ para o ‘sacramento do irmão’” (2015, p. 39).
Diversos indícios nos indicam que a ceia realizada no cenáculo com Jesus e os apóstolos foi uma antecipação da ceia pascal judaica (ESPINEL, 1976, p. 87). Foi a última páscoa de Cristo, e ele decide comê-la com os seus, encaminhando-se para a nova páscoa. Espinel afirma ainda que antecipar a Páscoa para a véspera não é uma ação extraordinária, entretanto, ao dizer junto: “Isto é o meu corpo” (Mt 26,26), Jesus chama a atenção dos que estavam presentes. A fórmula tradicional da celebração do Haggadah diz: “este é o pão da miséria”, referindo-se à saída de Israel do Egito e ao comer do pão sem fermento. No lugar destas palavras, Jesus muda a fórmula ao entregar o pão, dizendo “Isto é o meu corpo”. Com o vinho, Cristo também pronuncia palavras inesperadas e entrega o cálice aos seus discípulos dizendo: “Isto é o meu sangue” (Mt 26,28). A entrega do pão e do vinho é uma ação profética. O pão da miséria, sinal da libertação do Egito, é entregue como o corpo de Cristo, alimento para a vida eterna, a verdadeira liberdade de Deus. A entrega do cálice se constitui no sacrifício da nova aliança. Um sacrifício agradável a Deus porque é fruto da misericórdia.
Com isso, todas as ações de Jesus encontram o seu ponto de convergência na última ceia no cenáculo. P. Rosato sinaliza que no lava-pés e na fração do pão estão presentes os principais aspectos dos ‘ôt proféticos de Cristo: “de justificação, de esperança, de pacificação e de cura” (2006, p. 74). Na última ceia teve início a nova aliança selada pela entrega de Cristo, marcada pela kenosis do lava-pés e antecipada no sinal do pão e do vinho, a fim de justificar os pecadores. “Com efeito, na mesa do cenáculo, Jesus associou-se à realidade inteira da injustiça pessoal e comunitária, a ponto de sua fidelidade total tê-la cancelado de uma vez por todas” (Ibidem, p. 74).
No cenáculo, o calvário tem seu prelúdio. É o local onde Jesus inicia sua autodoação em vista de realizar a Páscoa da nova e eterna aliança. No ôt profético da última ceia, por meio dos gestos de entrega do pão e do vinho, Cristo antecipa sua morte iminente, que será concretizada no calvário. Na cruz, Jesus se entrega completamente em favor de toda a humanidade. Sua morte deve ser entendida à luz de sua vida, como um ato de autodoação plena. A Bíblia não descreve a cruz como um simples erro judicial ou injustiça humana, mas sim como a expressão máxima do amor radical, que se entrega sem reservas (RATZINGER, 2005, p. 209).
Para H. Schürmann a morte de Jesus é compreendida a partir da sua pró-existência, isto é, a sua capacidade de se doar, de ir ao encontro do outro a fim de instaurar o reino de Deus. É na cruz que Cristo manifesta plenamente a sua pró-existência, na entrega da própria vida nas mãos do Pai em favor da salvação do gênero humano (2003, p. 118). A cruz é o ato profético por excelência. Jesus reconcilia os homens pelo sangue derramado na cruz: é o penhor de que a salvação do gênero humano é restituída ao seu estado original. Além disso, a cruz de Cristo é o sinal da presença misericordiosa de Deus, que perdoa, reconcilia e concede paz ao pecador. No alto da cruz, Jesus clama ao Pai pelo perdão daqueles que o condenaram à morte: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem" (Lc 23,34). Através da misericórdia divina, o injusto se torna justo, o morto encontra a vida. Ao inclinar a cabeça, Jesus entrega o seu espírito, e ao derrotar o mal em sua profundidade, destruindo os laços de inimizade, ele une definitivamente a humanidade a Deus, abrindo as portas para a ressurreição.
Jesus, após morrer na cruz, ressuscita no primeiro dia da semana (Jo 20,1), um dia que simboliza o reinício de toda a criação. Ao vencer a morte, Jesus ressuscita, e Deus se revela definitivamente ao mundo, manifestando sua glória na ressurreição de seu Filho. Na Páscoa, a promessa da salvação é realizada, e tudo se plenifica e eterniza. O poder do amor se mostra superior ao poder da morte. O Cristo ressuscitado é a manifestação suprema da salvação oferecida pelo Pai, o sinal de esperança de um novo mundo.
Ainda no dia da Páscoa, Cristo aparece aos apóstolos e lhes mostra os sinais de seu amor: as mãos marcadas pelos cravos e o lado aberto pela lança, testemunhas de sua paixão. Cristo é o crucificado ressuscitado. A cruz e a ressurreição são inseparáveis, assim como o sofrimento e o abandono que Jesus experimentou na cruz estão profundamente conectados ao evento glorioso da ressurreição. Na ressurreição do crucificado, a injustiça é vencida pela justiça, e a ausência de direitos é transformada pelo dom da graça incondicional. Na cruz, Cristo revelou um Deus que se doa por seu povo, ultrapassando discursos teóricos e demonstrando sua presença ativa frente às dores do mundo. Assim, a ressurreição deve ser compreendida como um ato profético de esperança, capaz de despertar nos seres humanos o compromisso de buscar a justiça em um mundo marcado por tantas injustiças (MOLTMANN, 2011, p. 218).
As ações proféticas de Cristo revelam o mistério salvífico de Deus Pai, que é realizado plenamente na sua ressurreição. Ele é o profeta escatológico do reino. As ações de Jesus se convertem em sinais reveladores e símbolos participativos do reino. Ele “anuncia a chegada do eschaton e faz com que os seus discípulos participem ativamente deste último dom oferecido e pregustem das alegrias do banquete escatológico do reino” (GUIMARÃES, 1988, p. 244).
Os primeiros passos da Igreja, narrados no livro dos Atos dos Apóstolos, mostram a continuidade dos atos proféticos de Jesus. A comunidade cristã primitiva vivia em comunhão de amor e na busca pela justiça do reino de Deus. Além disso, destacava-se por sua coragem profética diante das autoridades judaicas que tentavam impedir os discípulos de anunciar Jesus Cristo. Assim como os profetas de Israel, eles transformavam suas vidas em uma mensagem profética.
Ao ecoar a voz do Ressuscitado no mundo, os discípulos de Jesus, reunidos na comunidade primitiva, participavam do ministério profético de Cristo. Eles se tornaram os novos profetas, que, através do Espírito Santo, proclamavam a Palavra eterna do Pai, sem fim. Enquanto os profetas do Antigo Testamento anunciavam a expectativa da salvação, os novos profetas, surgidos após Pentecostes, trazem a mensagem da salvação realizada em Cristo. No testemunho da comunidade cristã, o evento salvífico de Cristo se estende na história. Ao reproduzir os atos proféticos de Jesus, os cristãos não apenas recordavam seus feitos, mas também os tornavam presentes, como em um rito memorial que une palavra e ação. Assim, a Igreja primitiva perpetuava os atos proféticos de Cristo. Portanto, o profetismo cristão não acrescenta novas revelações além das de Cristo, mas busca comunicar ao mundo a profecia já revelada por Ele (COMBLIN, 2009, p. 84).
A partir de Pentecostes, a Igreja nasce sob o impulso do Espírito Santo. Será ele o grande protagonista que conduzirá as ações dos apóstolos e, por consequência, de toda Igreja. O Espírito Santo prolonga na história a obra salvífica realizada por Cristo. E desse modo, o Espírito profético presente na missão de Jesus permanece na Igreja. Assim como no ´ôt de Nazaré, no dia de Pentecostes, Pedro diante de toda Jerusalém, afirma: “O Espírito do Senhor está sobre nós” (At 2,16). O Espírito que ungiu Cristo para anunciar profeticamente a Boa-Nova, no dia de “Pentecostes aplica à comunidade cristã a obra profética de Jesus” (BONNEAU, 2003, p. 141).
A vida profética da Igreja primitiva se manifesta na forma como as primeiras comunidades se organizam. R. Fabris sintetiza esta estrutura em três características: a escuta da palavra, a comunhão fraterna e as orações (1984, p. 112). Este perfil da comunidade jerosolimitana é apresentado como um modelo de ideal comunitário a ser seguido pelas comunidades que surgirão com a ação missionária dos apóstolos. Assim como acontecia no ministério profético de Cristo, a Igreja primitiva proclamava o Evangelho tanto por meio de palavras quanto por sinais. As curas e milagres serviam como uma confirmação de que o ensinamento e o testemunho dos apóstolos estavam em continuidade com o ministério de Jesus. Lucas, em sua obra, descreve de forma semelhante certos milagres tanto no Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos. Um exemplo é a cura de um paralítico, narrada em Lc 5,17-26 e At 9,32-35, com a mesma ordem: "Levanta-te e pega tua cama". Outro exemplo é a ressurreição de uma jovem, relatada em Lc 8,49-56 e At 9,36-42, com as palavras: "Menina, levanta-te". Diversos outros milagres mencionados nos Atos servem para mostrar que a Palavra de Cristo continuava a ser proclamada e a atuar na vida da Igreja. Afinal, a pregação da Palavra e o anúncio da ressurreição do Senhor transformavam a vida daqueles que acreditavam no testemunho dos apóstolos e abraçavam a fé em Jesus Cristo.
A comunhão fraterna é outra característica da comunidade descrita no início dos Atos dos Apóstolos. O livro dos Atos dos Apóstolos descreve que na comunidade cristã “todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum” (At 2,44). A partilha de bens não era vista como uma obrigação, mas como uma doação voluntária, feita conforme as possibilidades de cada membro. Esse ato simbolizava, no plano econômico, a unidade de coração entre os fiéis, que "vendiam suas propriedades e bens e repartiam o valor entre todos, conforme a necessidade de cada um" (At 2,45). Além disso, o texto ressalta que “não havia entre eles indigente algum, porquanto os que possuíam terras ou casas, as vendiam e levavam o dinheiro e o colocavam aos pés dos apóstolos; e se distribuía a cada um segundo a sua necessidade” (At 4,34-35). Segundo H. Holstein, essa comunhão fraterna era a característica central da Igreja primitiva, e a partilha dos bens era uma expressão natural do amor que unia os fiéis (1977, p. 25). A oração pessoal e comunitária recebe um destaque fundamental na vida das primeiras comunidades de cristãos. Em comunidade, os cristãos se reuniam para a fração do pão e para as celebrações do batismo dos novos membros da Igreja. Desse modo, Lucas relata a vivência sacramental da Igreja primitiva no livro dos Atos dos Apóstolos.
O batismo é mencionado logo no início do livro dos Atos dos Apóstolos, quando Pedro, ao ser questionado sobre o que deveria ser feito para seguir a Cristo, responde: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo" (At 2,38). Nesse contexto, o batismo é apresentado como o primeiro passo para aderir a Cristo, realizado após a escuta da Palavra e a ação do Espírito Santo no coração do fiel. O ôt do batismo no Jordão e a ordem de Cristo para batizar todas as nações permaneciam vivos na memória dos apóstolos. Na comunidade primitiva, o batismo simbolizava um novo começo na vida da pessoa. Não se tratava apenas de um banho ritual, mas de uma profunda transformação interior. Era um ato de fé em Jesus Cristo, no qual o indivíduo buscava o perdão dos pecados e expressava o desejo de seguir a Cristo. A novidade desse batismo, em relação ao de João, era a "adesão a Jesus, à comunidade cristã e, sobretudo, à experiência do Espírito Santo." (FABRIS, 1984, p. 120).
O batismo introduz o fiel na vida de Jesus, unindo-o à sua morte e ressurreição, garantindo-lhe o perdão dos pecados e a entrada no novo povo de Deus. Esse rito exterior reflete uma conversão interior: o desejo de seguir a fé cristã e de ingressar na comunidade de crentes. Ao aceitar o batismo e acolher Cristo em sua vida, o fiel se compromete a viver plenamente o Evangelho – é o sinal visível da fé em Jesus concretizado no sacramento. Por meio do batismo, a pessoa é inserida no mistério pascal de Cristo, tornando-se parte do povo messiânico, e passa a compartilhar do múnus profético, régio e sacerdotal de Jesus. A partir desse momento, o batizado deve prolongar em sua vida e em suas ações as obras de Cristo, testemunhando sua fé em todos os aspectos da existência.
A Igreja apostólica desenvolveu suas primeiras expressões de fé a partir das ações de Jesus Cristo, baseando-se nos rituais do povo judeu. Os cristãos mantiveram uma vida de oração enraizada nos textos do Antigo Testamento, salmos e cânticos bíblicos (NEUNHEUSER, 2007, p. 39). Em momentos difíceis, como quando Pedro e João foram ameaçados pelo sinédrio, eles se uniam à comunidade para orar, recitando salmos (At 4,23-31). A prática religiosa dos primeiros cristãos incluía a participação no templo e na sinagoga, além de se reunirem em casas para partir o pão, ato comum nas refeições judaicas e na celebração do shabat, que se torna a celebração da memória de Cristo – “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24).
O gesto simbólico lembrava o de Jesus no dia da multiplicação dos pães e na noite da última ceia. A fração, mencionada nos dois episódios pelos evangelistas, é como que o sinal do amor do Senhor que se dá a todos e a cada um daqueles que ele chama “seus amigos” (Jo 15,14), como distribuíra à multidão o pão que anunciava a eucaristia (Jo 6). Esta fração se realiza num clima de eucaristia; como na Ceia (Mc 14,22s), a “benção é pronunciada” no momento de partir o pão e de começar a circular o cálice (HOLSTEIN, 1977, p. 23-24).
A benção de Jesus sobre o pão e o cálice com vinho foi além do que prescrevia o rito judaico. O pão nas mãos de Cristo torna-se o sinal do seu sofrimento, que culminaria com sua morte para a libertação de toda a humanidade. O vinho no cálice torna-se a expressão da nova aliança selada pelo seu sangue. Na fração do pão, celebrada pela Igreja, por meio de gestos rituais, expressava-se de modo oportuno o ato profético de Cristo na última ceia, na qual anunciou o sacrifício de si mesmo em favor da humanidade.
No livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas relata uma única ceia eucarística na cidade de Trôade (At 20,7-12), onde a fração do pão é associada à memória da ressurreição do Senhor. No primeiro dia da semana, Paulo estava reunido com a comunidade para a fração do pão, quando um jovem chamado Êutico adormeceu, caiu de uma janela e perdeu a vida. Paulo desceu, abraçou o rapaz e o trouxe de volta à vida. Segundo R. Fabris, a intenção de unir a ceia do Senhor à ressurreição do jovem é destacar que Jesus ressuscitado, presente na Palavra e na fração do pão, é a fonte da vida eterna para os fiéis (1984, p. 123).
Além do batismo e da Eucaristia, é importante ressaltar outros atos proféticos realizados por Cristo e que foram prolongados no testemunho litúrgico da comunidade cristã. O cuidado aos enfermos não era ignorado. Da mesma forma que Jesus tinha “predileção” pelos doentes e pelos mais necessitados, a comunidade apostólica os ungia e lhes dava todo o auxílio necessário (Tg 5,13-16). O agir reconciliador de Jesus Cristo para com os pecadores e os distantes de Deus também era reproduzido na comunidade dos fiéis. A missão de anunciar o Evangelho não é encerrada com a comunidade apostólica que foi escolhida diretamente por Cristo. Por meio da imposição de mãos e da oração, os apóstolos conferem serviços e funções públicas em favor da comunidade (At 6,17; 2Tm 1,6), de modo que, assim, não se interrompe a propagação do evangelho. Impor as mãos sobre o próximo é um gesto bíblico que demonstra uma ação espiritual: implora a cura, transmite uma função e invoca o dom do Espírito Santo.
Os atos proféticos de Cristo não foram esquecidos pela Igreja. Esses, por sua vez, foram prolongados na história por meio dos apóstolos e de toda a comunidade cristã. Pelo Espírito Santo, homens e mulheres tornam-se profetas e profetisas; testemunham a fé no Ressuscitado e vivem de acordo com o projeto de Deus para a humanidade. Moldaram uma identidade comunitária a partir da compreensão que eles tiveram da fé anunciada por Cristo. Com palavras e ações, os homens levaram a salvação conquistada por Jesus a todo o mundo. Por esses sinais proféticos, a Igreja realiza o “anúncio” e o “acontecimento” da obra de salvação.
Inspirados na teologia bíblico-patrística do Concílio Vaticano II que resgatou o diálogo entre a exegese e a teologia, foi o nosso interesse oferecer um contributo à teologia sacramental a partir do diálogo entre a teologia bíblica e a teologia sistemática. Com base na teologia conciliar, destacamos a conexão profunda entre as ações simbólicas dos profetas de Israel e de Jesus com a natureza histórico-salvífica que fundamenta a teologia sacramental. O conceito de sacramento, à luz das ações simbólicas dos profetas de Israel e de Jesus, ainda não é amplamente compreendido por toda a comunidade teológica. Como consequência, a relação entre sacramentos e profecia é ainda menos conhecida. No entanto, com o desenvolvimento das pesquisas na área da exegese bíblica, os atos dos profetas de Israel se destacaram na teologia bíblica como uma maneira singular de anunciar a mensagem dada por Deus. Esses sinais proféticos não apenas ilustravam a Palavra de Deus, mas também manifestavam uma nova realidade na vida do profeta e da comunidade, a partir da força de Deus que atuava neles. O profeta era reconhecido como um homem que vivia uma intimidade com o Senhor; era o “homem-palavra” que com a própria vida anunciava os desígnios de Deus para o povo de Israel.
No Novo Testamento, os atos proféticos de Jesus recordavam as ações dos profetas de Israel. Desde o início de seu ministério, Jesus foi reconhecido como um profeta que possuía o poder de Deus (Mc 5, 25-34, Jo 6,14). Contudo, diferentemente dos atos dos profetas que anunciavam o futuro, os atos de Cristo cumpriam as antigas profecias e inauguravam o reino de Deus. Os atos de Cristo são ações divinas que possuem força de salvação, neles torna presente o reino de Deus, cumprindo o futuro profetizado. Com a morte e ressurreição de Cristo, a Igreja nascente passou a repetir seus atos proféticos. Impulsionados pelo Espírito Santo, os primeiros cristãos continuaram a missão de Jesus, proclamando o reino de Deus por meio de palavras e ações. A comunidade primitiva vivia o amor fraterno e a busca pela justiça do reino, anunciando Jesus Cristo e seu evangelho com palavras e gestos que ecoavam as ações de Cristo. Dessa forma, os cristãos não apenas recordavam os feitos de Jesus, mas também buscavam atualizá-los na história. Inaugurava-se um cristianismo profético fundamentado na escuta da palavra, na comunhão fraterna, na perseverança na oração e na fração do pão, modelo que ainda hoje deve orientar a Igreja em sua missão profética.
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