Resenha do livro: PERISSÉ, Gabriel. Abuso Espiritual: A manipulação invisível. São Paulo: Paulus, 2024, 208 p. ISBN 978-85-349-5473-0

Emerson Sbardelotti
Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor da Faculdade Católica de Rondônia: Contato: sbardelottiemerson@gmail.com


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O autor Gabriel Perissé é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), doutor em Filosofia da Educação pela USP e doutor em Teologia pela PUC RS. Tem pós-doutorado em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É tradutor, conferencista, e autor de mais de 25 livros entre eles: Ele Está no meio de nós: Uma cristologia do encontro. São Paulo: Paulus, 2024.

O livro está dividido com um Prefácio, uma Introdução, 12 Partes, Seções ou Capítulos, uma Conclusão e a Bibliografia consultada, num somatório de 208 páginas.

O Prefácio é apresentado pelo padre salesiano Ronaldo Zacharias, autor de vários livros na área da Teologia Moral e Espiritualidade que afirma: a cultura clericalista e hierarquista, unida ao poder da estrutura da instituição eclesiástica, foi, por muito tempo, responsável por uma espécie de silêncio perverso imposto às vítimas e à comunidade eclesial como um todo. O resultado não podia ser outro senão uma tremenda crise de credibilidade com a qual, até o presente momento, a Igreja tem de conviver e procurar sanar. O abuso espiritual, nas suas mais variadas expressões, revela que, quando ministros e pastores se afastam da lógica kenótica proposta e testemunhada por Jesus, acabam buscando segurança em si mesmos e, consequentemente, tornam-se servos do poder para que possam sustentar o próprio narcisismo e a própria autorreferencialidade. A subversão da lógica kenótica produz sujeitos autocontemplativos, que exaltam e reverenciam o monoteísmo do eu e, desse modo, traem o Deus que dizem tanto ser a razão do que são e dos “milagres” que fazem. Distanciando-se da verdadeira videira, deixam de produzir o que devem e se tornam, assim, infiéis. Passam a ser, mesmo que se autoproclamem ministros de Deus e pastores do povo, expressão mais clara do quanto a infecundidade leva à infidelidade. A manipulação invisível do abuso espiritual dá visibilidade a uma hipocrisia que não tem nada a ver com libertação e salvação, mas muito com os mecanismos dos quais se servem os filhos das trevas quando pretendem dar outros nomes à própria imoralidade.

A Introdução feita por Gabriel Perissé afirma que o abuso espiritual é invisível, como invisíveis são a alma, o espírito e a consciência. E é um problema “silencioso”, como bem observou um escritor. No entanto, produz sequelas tão ou mais dolorosas do que as feridas causadas pelo abuso físico, pelo abuso sexual, pelo abuso de consciência, pelo abuso psicológico e pelo abuso financeiro. Comecemos por uma definição simples e direta: existe abuso espiritual quando alguém se prevalece de sua posição ou de sua autoridade religiosa para dominar e manipular outra pessoa. O abuso espiritual não se verifica somente no contexto cristão, em que pessoas, aparentemente confiáveis, estabelecem relacionamentos destrutivos com suas vítimas. Há relatos sobre lideranças ditatoriais e despotismo em outras tradições religiosas e em movimentos esotéricos, ocultistas e gnósticos, porém foi no contexto das igrejas e comunidades cristãs, a partir das décadas de 1980-1990, que essa forma peculiar de abuso começou a preocupar mais intensamente psicoterapeutas, sociólogos, jornalistas, teólogos, sobretudo nos Estados Unidos. Na Europa, reportagens, artigos e livros sobre esse tipo de abuso gravíssimo têm se multiplicado nos últimos quinze anos. Na América Latina e no Brasil, a tradução de algumas dessas obras estrangeiras e alguns livros pioneiros entre nós deram início à nossa própria tomada de consciência. O autor afirma que é mais importante que você e eu estejamos conscientes de que, muito perto de nós, há pessoas sofrendo nas mãos de abusadores religiosos. Lembrando que, em boa parte dos casos, os abusadores que atuam dentro dos espaços sagrados também se mostram abusadores em outros ambientes. O próprio Jesus denunciava, em seus ensinamentos, o abuso espiritual como um fermento nocivo, capaz de contaminar seus seguidores e transformá-los numa raça de víboras.

Na parte 1: Outros abusos e o Abuso Espiritual, o autor afirma que o abuso espiritual mais refinado faz a vítima esquecer as suas próprias necessidades. Nessa espécie de amnésia existencial, de pane interior, de autoanulação consentida, somos induzidos a não querer pensar em nós mesmos. O abusador ensina à vítima que ela pode libertar-se de todos os seus problemas e preocupações pessoais, se vencer o “egoísmo de pensar em si mesma”. O paradoxo é gritante. O abusador, que só pensa em si mesmo, que só acredita em si mesmo, obcecado por seus planos e desejos, convence a sua vítima de que ela precisa esquecer-se de si mesma, para que obedeça aos comandos abusivos e arbitrários dele.

Na parte 2: A Vítima Perfeita, constata-se que a vítima em potencial não percebe o que está acontecendo e o que vai acontecer, quando entra no campo visual e, a seguir, no raio de ação do abusador espiritual. A alma e o corpo, como assegura o abusador, são dois inimigos inseparáveis e, ao mesmo tempo, dois amigos que não podem conviver em paz. O corpo é visto como o inimigo mais próximo ou como animal selvagem a ser domado. Merece ser tratado “com rédeas curtas”. A violência contra o corpo introduz a pessoa numa situação contraditória. A autoviolência, consentida por motivos de elevado espiritualismo, rebaixa a pessoa. Um dos exemplos de autoviolência espiritual mais curiosos da história do cristianismo foi a autocastração de Orígenes, considerado o maior erudito cristão dos primeiros séculos da Igreja. Em nome da pureza, reduziu-a à mutilação. Não obstante sua clarividência teológica, tornou-se vítima de si próprio. Não devemos nos enganar com discursos cheios de indignação contra o pecado e de narrativas edificantes (e meio absurdas), transbordando de citações bíblicas. Por mais que se use (em vão) o nome de Deus, o abuso espiritual deve ser qualificado com realismo. É exatamente isto: uma forma grave de violência que fere as pessoas na sua autonomia legítima e no mais profundo de suas almas. E as consequências são desastrosas.

Na parte 3: Os Truques da Manipulação, é dito que o abusador não passa de um ilusionista. No caso do abusador espiritual, um perigosíssimo ilusionista. Quando o abusador, pouco a pouco, consegue criar uma cada vez mais forte dependência afetiva entre ele e a vítima, é quase impossível esta perceber que já entrou num longo, vertiginoso e talvez irreversível processo de manipulação e controle sobre sua vida. A manipulação espiritual não se opera do dia para a noite. O abusador tem uma paciência de Jó, e usa a passagem do tempo a seu favor. A cada dia, acrescenta elementos novos, faz pequenas (ou não tão pequenas) indicações concretas que provocam alterações no comportamento das pessoas, sem que elas se deem conta do rumo que estão tomando. Para que a vítima não se dê conta de nada, evitam-se discussões e polêmicas. Isso seria perda de tempo. Isso seria dialogar com o demônio. A manipulação espiritual é uma espécie de mão invisível que penetra em nós e altera por dentro nossa visão de mundo, como se instalasse um “eu” novo, um “eu” diferente, que se sobrepõe ao nosso antigo “eu”. Esse “eu” novo é o próprio abusador dentro de nós, comandando nossa consciência. Passamos a olhar o mundo com os olhos do abusador; a pensar o mundo com o cérebro do abusador. Devemos nos tornar membros manipulados e manipuladores do manipulador-mor.

Na parte 4: A Ideologia do Medo, Gabriel Perissé argumenta que a figura do abusador espiritual não é nova. Para ficarmos apenas no âmbito judaico-cristão, vários ensinamentos de Jesus tinham como finalidade desarmar as estratégias manipuladoras empregadas pelas lideranças religiosas do seu tempo. As “ovelhas perdidas” das quais Jesus falava estavam perdidas porque eram abusadas justamente por aqueles que deveriam protegê-las. Pessoas simples eram mantidas num estado de pobreza espiritual, de cegueira espiritual, de frustração espiritual, de culpabilidade, de “impureza”, escravizadas pelo autoritarismo e pelo legalismo. Jesus se opôs firmemente a este sistema religioso abusivo, que afundava as pessoas no medo e na ansiedade, privando-as da liberdade dos filhos de Deus. Não teríamos como empregar, em relação ao contexto da época, a expressão “abuso espiritual” (seria um anacronismo da nossa parte), mas é, afinal, de abuso que Jesus está falando quando se refere aos doutores da Lei, que colocavam sobre os ombros das pessoas um peso que eles próprios sequer tocavam com um dos dedos. A hipocrisia e a crueldade do abusador são condenadas por Jesus, que, em contrapartida, empenha-se em libertar os seres humanos de toda escravidão espiritual.

Na seção 5: O Complexo de Santidade, para o autor, o abusador espiritual pensa acreditar em Deus e cumprir a difícil missão de salvar o mundo. É alguém que se preocupa com todas as questões institucionais. Além de fazer longas orações e ficar vários dias em retiro, preservará a tradição litúrgica, defenderá os bons costumes, promoverá todas as devoções, comemorará as festas religiosas, apreciará a arte sacra, admirará as vestimentas sagradas. Seu problema nada tem a ver com ritos, regras, doutrinas ou dogmas, mas com a aceitação do amor divino e humano. O abusador espiritual é um fanático que odeia secretamente tudo o que seja verdadeira santidade. Ele é um cristão anticristão. Um cego que diz ter uma visão privilegiada. Um míope que se autodeclara vidente. Dissimula o seu ódio com discursos religiosos de pretensa preocupação pela vitória de Deus no mundo.

Na seção 6: Fanatismo pouco é Bobagem, o autor explica que existe um “fanatismo de baixo”, correlato a um “fanatismo de cima”. O primeiro é o fanatismo da vítima. O segundo é o fanatismo do abusador. O fanatismo da vítima é submisso ao fanatismo do abusador. A vítima tem uma convicção fanática sincera, que, numa possível hora de crise, poderá ser questionada pela própria vítima. A vítima poderá superar sua condição de vítima quando surgirem pequenas dúvidas salutares, quando adquirir nova consciência. Já o abusador tem uma convicção fanática, impiedosa e persistente, que dificilmente poderá ser desarmada e superada. O fanatismo de cima é um ódio obsessivo contra a luz, uma força hostil contra o amor. Foram as lideranças religiosas fanatizadas que odiaram, caluniaram e assassinaram a Jesus. Mas as lideranças precisam dos liderados para fazer o mal. O fanatismo de cima direciona o fanatismo de baixo. Os abusadores fanáticos sabem identificar as almas fanatizáveis. Parecem radiografar a vida psíquica de suas vítimas, detectando suas falhas, carências e aspirações. 

Na seção 7: Nenhuma Seita aceita que é Seita, encontra-se a resposta para a pergunta: Mas o que é uma seita? O termo “seita”, em ambientes católicos, ortodoxos ou protestantes mais tradicionais, refere-se à proliferação de grupos cristãos que se multiplicaram desde o século XVIII, na Europa, e que, para fugir das perseguições, muitas vezes deslocaram-se para outros continentes. As seitas, nascidas dentro de e em oposição a organizações religiosas maiores e mais bem estruturadas, estariam de alguma forma ainda ligadas a essas organizações (ligadas e ao mesmo tempo em briga), diferentemente dos chamados “movimentos religiosos”, nascidos em contextos culturais mais abertos. Nas seitas, em que inicialmente há menos pessoas, seus integrantes se julgam melhores do que as massas sentem-se especialmente escolhidos por Deus para viverem uma experiência única, sagrada, inefável, que ao mesmo tempo os protegerá do “mundo lá fora”, mundo imoral, indiferente à verdade, hostil, impuro, blasfemador. Dentro da seita, você se sentirá escolhido e acolhido por Deus. E mesmo que às vezes haja problemas internos, serão sempre problemas menores, perto das armadilhas demoníacas espalhadas pelos caminhos do mundo, incluindo os caminhos das igrejas de que provieram, corrompidas pelos seus próprios membros e dirigentes.

Na seção 8: Fundamentalismo sem Fundamento, Gabriel Perissé esclarece que o abusador espiritual sente-se, em comunidades fundamentalistas, como peixe dentro d’água. Está no seu elemento natural, pois sabe que ali encontrará muitas pessoas não habituadas ao pensamento crítico, propensas a venerar lideranças que, com uma autoestima digna de canonização imediata, autoproclamam-se “profetas”, “apóstolos”, “missionários”, “bispos” e outras denominações honoríficas. O abusador fala pelos cotovelos e, se necessário, em línguas estranhas. E tem todas as respostas. Respostas curtas e grossas em intermináveis prédicas e sermões. Uma das técnicas manipuladoras mais sutis do abusador fundamentalista consiste em dialogar sem dialogar, ocultando sua pulsão monológica. Por um momento, parece que o abusador deixou de ser intolerante e inflexível. A vítima sente-se ouvida e, de coração aberto, expõe sua visão das coisas, seus sentimentos, sua intimidade, faz novas confidências. Incentivada pela suposta empatia (súbita e milagrosa empatia!) de um abusador cheio de benevolência, a vítima volta a entregar-se voluntariamente ao seu algoz.

No capítulo 9: Novos Elogios à Loucura, afirma-se que existe uma pitada de loucura (ou talvez um saleiro inteiro) nos casos de abuso espiritual, que ocorrem com mais frequência do que talvez imaginássemos até agora. A loucura, neste caso, seria uma fuga radical da realidade e a criação de um mundo paralelo, no qual o fanatismo toma o lugar da fé, a intolerância substitui a misericórdia, e a falsa esperança esconde uma alma angustiada e um coração perverso. O abusador espiritual simula viver acima das leis naturais e do bom senso. Loucura, nesse sentido, significa também anular os apelos da razão, em nome de uma suposta vidência, um chamado inusitado, uma missão arquidivina. É impossível manter um diálogo normal com um abusador, pois ele jamais se renderá a argumentos que ponham em xeque a sua inefável superioridade. No entanto, essa superioridade é simplesmente irreal. É forjada. Não tem o menor fundamento.

No capítulo 10: Deus no Descontrole, o autor reflete que, ao que parece, o fanático fundamentalista acredita que a doutrina de sua seita veio diretamente do céu, e, portanto, tem um conteúdo infalível e inalterável. Confunde ele a doutrina, que considera divina, com o próprio Deus, que resolveu escolhê-lo como porta-voz privilegiado. Convicto de que sabe exatamente o que Deus quer para a humanidade (e talvez até um pouco mais do que Deus...), o fanático fica fora de si quando alguém relativiza algum aspecto da verdade absoluta pela qual ele está disposto a entregar a vida, ou em nome da qual, em último caso, pretende infernizar a vida de hereges e infiéis. Redondamente enganado, e fanatizado, o abusador espiritual deseja ter total controle sobre sua seita e sobre suas vítimas. Quer ter controle sobre tudo, inclusive sobre Deus, cujas intenções conhece melhor do que os próprios serafins, e de cujo nome usa e abusa em seus livros, em suas aulas, palestras e sermões, como se o espírito de Deus pudesse caber numa gaiola, e ele (o abusador) fosse o dono dessa gaiola e, por consequência, gerenciador dos voos divinos.

No capítulo 11: Medo nunca Mais, encontra-se a afirmativa de que buscar a força transformadora do sagrado é algo intrínseco ao ser humano. Essa busca, porém, nunca foi e jamais será tranquila. A busca pressupõe duplo movimento, para dentro e para fora. Para dentro, como autoconhecimento. Para fora, como vontade de abrir-se, de sair de si. Tal abertura nos põe a caminho do desconhecido, trazendo à tona nossas possibilidades mais profundas e nossas fragilidades mais arraigadas. Ao entrar em contato inicial (e indireto) com o sagrado, pressentimos a transcendência. A presença do sagrado e do divino entre nós acarreta sempre um estremecimento interior, e até mesmo alterações físicas. Também nos amedronta o mistério do mal, a presença maligna que, como uma sombra, acompanha os anjos de luz. O abusador espiritual porém, não tem o menor receio em lidar com o divino ou o maligno, porque no fundo, considera-se o legítimo manipulador das coisas invisíveis. Não sente o pavor reverencial (e a imensa alegria) que uma pessoa sente diante do milagre. Tampouco experimenta o temor de perder a Deus, uma vez que, de fato, não o deseja. Só poderia sentir esse temor se em seu coração houvesse verdadeiro amor pelo Deus de amor. Quem ama entende que sua relação com o outro jamais será uma oportunidade de exercer poder e estabelecer domínio. Amor que oprime não é amor. O verdadeiro amor se verifica com acontecimento de entrega (de mútua entrega), e não de violência. Quem ama quer dar espaço para que o outro cresça e se desenvolva. Não precisa infundir medo. Não precisa coagir ou ameaçar as pessoas com uma estadia eterna no inferno. Quem ama quer que o outro amplie a esfera de sua própria personalidade, alegra-se ao ver o outro praticar a liberdade criativa e responsável.

No capítulo 12: Discernimento, Gabriel Perissé esclarece que o exercício da liberdade criativa e a adesão consciente aos valores nos amadurecem. Desse modo, reconheceremos quem são os abusadores espirituais e nos afastaremos deles a tempo. Os abusadores querem infantilizar e dessocializar suas vítimas, privando-as de sua capacidade de diálogo, reflexão crítica e decisão prudente. Devemos, por isso, ganhar em comunicabilidade, em ponderação, em criticidade, em prudência, inserindo-nos em espaços de convívio não fanático onde possamos trocar opiniões, conversar com pessoas que tenham ideias diferentes das nossas, mas estejam, como nós, interessados em escutar os outros. O exercício do discernimento, em toda esta nossa discussão sobre o abuso espiritual, nos ajuda a perceber quais são os verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus. Todos precisamos praticar o discernimento. Para não sermos vítimas, e para não sermos algozes. O discernimento é uma espécie de ciência pessoal, um sistema pessoal de pesquisa e de saberes, que nos conduz a uma consciência maior da ação do Espírito, que sopra onde quer.

Na Conclusão da obra, destaque para a reflexão de que o abuso espiritual é uma das partes podres da história das religiões e da espiritualidade, provocando em suas vítimas efeitos psicomorais que, muitas vezes, fazem com que nunca mais queiram pensar em Deus ou participar de comunidades de fé. Porém, o desejo de acreditar num Deus amoroso, associado a toda lucidez de sejamos capazes, nos fará distinguir o joio do trigo, nos fará distinguir os abusadores da fé dos bons orientadores e mestres, perceber como funcionam os truques manipuladores para desativá-los. Jogar fora o bebê (a religiosidade humana) junto com a água suja do banho (o abuso espiritual) seria a pior solução. Ainda há muita água boa no mundo.

Considerações Finais

Abuso Espiritual – A manipulação invisível de Gabriel Perissé, é um texto corajoso, desafiador e que não nos deixará dormir mais em paz. É uma pesquisa imprescindível para a Teologia, mas também para outras áreas do conhecimento humano: Filosofia, Antropologia Cultural, Literatura, Sociologia e Psicologia. Na Teologia ajudará a discernir melhor como atuar contra o abuso espiritual e todos os outros abusos que o rodeiam. Não podemos ser ingênuos, mas devemos procurar sempre pessoas honestas e loucas, independente das igrejas e das religiões, e conviver com elas, para construirmos relações interpessoais sadias, e assim não seremos vítimas, e viveremos nossa espiritualidade de forma livre e plena, no seguimento de Jesus de Nazaré, colocando em pratica três virtudes-atitudes: o respeito, o diálogo e o encontro.