As relações entre Orçamento Participativo e justiça territorial: uma contribuição teórico-prática

Autores

  • Rodrigo Sartori Bogo Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Presidente Prudente, SP/Brasil. https://orcid.org/0000-0002-2639-738X

Palavras-chave:

orçamento participativo, justiça territorial, inversão de prioridades, análise comparativa, gestão urbana

Resumo

O orçamento participativo (OP) é considerado uma das principais inovações democráticas de gestão urbana criada nas últimas décadas. Hoje, a maioria das experiências está afastada dos valores nucleares da criação do OP em Porto Alegre (Brasil): inversão de prioridades e justiça social. Assumindo o OP como objeto político-institucional de disputa do poder no espaço, argumenta-se que este deve ser estudado sob a ótica da justiça territorial. Realizou-se pesquisa qualitativa (análise documental, trabalho de campo e entrevistas) em duas cidades de porte médio com OPs deliberativos, Araraquara (São Paulo, Brasil) e Vallejo (Califórnia, EUA). Os resultados apontam para significativa discrepância entre os casos, mas relevante potencial do OP como ferramenta de justiça territorial, necessitando contexto de grande apoio institucional e político.

DOI:

https://doi.org/10.1590/2236-9996.2025-6368227-en

https://doi.org/10.1590/2236-9996.2025-6368227-pt

Referências

ABAG – Association of Bay Area Governments (2024). About ABAG. Disponível em: https://abag.ca.gov/about-abag. Acesso em: 5 set 2024.

ALLEGRETTI, G.; COPELLO, K. (2018). “Winding around money issues. What's new in PB and which windows of opportunity are being opened”. In: DIAS, N. (org.). Hope for democracy: 30 years of Participatory Budgeting worldwide. Faro, Oficina.

BAIOCCHI, G.; GANUZA, E. (2014). Participatory Budgeting as if Emancipation Mattered. Politics & Society, v. 42, n. 1, pp. 29-50. DOI: http://dx.doi.org/10.1177/0032329213512978.

BEZERRA, C. P. (2022). Why do political parties promote participatory governance? The Brazilian Workers’ Party case. Critical Policy Studies, v. 16, n. 2, pp. 181-203. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/19460171.2022.2027256.

BEZERRA, C. P.; JUNQUEIRA, M. O. (2022). Why has Participatory Budgeting Declined in Brazil? Brazilian Political Science Review. São Paulo, v. 16, n. 2, pp. 1-33. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981-3821202200020001.

BOGO, R. S. (2020). A evolução e distribuição territorial do orçamento participativo em Portugal. Dissertação de mestrado. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/216542. Acesso em: 22 jan 2025.

______ (2022). O orçamento participativo de Braga sob uma perspectiva territorial. Revista da ANPEGE. Dourados, v. 18, n. 36, p. 278-307. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/13970/8926. Acesso em: 22 jan 2025.

BOGO, R. S.; SILVA, E. A. (2023). Políticas públicas urbanas no Brasil: uma retomada do orçamento participativo sob o olhar da justiça territorial. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL /DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL, 17, Belém. Anais..., Belém, Enanpur, pp. 1-13. Disponível em: https://anpur.org.br/anais-xxenanpur/sessoes-tematicassts/. Acesso em: 22 jan 2025.

BOULDING, C.; WAMPLER, B. (2010). Voice, votes, and resources: evaluating the eff ect of participatory democracy on well-being. World Development, v. 38, n. 1, pp. 125-135. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.worlddev.2009.05.002.

BRAGA, J. R. (2012). Campinas e os desafios da participação intersetorializada e territorializada. Dissertação de mestrado. Campinas, Universidade Estadual de Campinas.

CABANNES, Y. (2015). The impact of participatory budgeting on basic services: municipal practices and evidence from the field. Environment And Urbanization, v. 27, pp. 257-284. DOI: https://doi.org/10.1177/0956247815572297.

______ (2018). Highlights on some Asian and Russian participatory budgeting pioneers. Barcelona, IOPD.

______ (2021). “Participatory budgeting: contributions to reversing social and spatial priorities”. In: CRAWFORD, G.; ABDULAI, A. (ed.). Research Handbook on Democracy and Development. Cheltenham, Edward Elgar Publishing.

CARLOS, E. (2015). Controle social e política redistributiva no orçamento participativo. Vitória, Edufes.

CARVALHO, C. M.; ARAÚJO, G. J. F. (2011). Políticas públicas e cidadania: análise sobre a experiência do orçamento participativo de Araraquara. Húmus. São Luís, v. 1, n. 1, pp. 21-39.

DIAS, N. et al. (org.) (2021). Participatory Budgeting World Atlas 2020-2021. Cascais, Epopeia Books.

DIAS, N.; ENRÍQUEZ, S.; JÚLIO, S. (org.) (2019). Participatory Budgeting World Atlas. Faro, Oficina.

FALANGA, R.; LÜCHMANN, L. H. H. (2019). Participatory budgets in Brazil and Portugal: comparing patterns of dissemination. Policy Studies, v. 41, n. 6, pp. 603-622. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/01442872.2019.1577373.

FEDOZZI, L.; RAMOS, M. P.; GONÇALVES, F. G. (2020). Orçamentos Participativos: variáveis explicativas e novos cenários que desafiam a sua implementação. Revista de Sociologia e Política. Curitiba, v. 28, n. 73, pp. 1-20. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1678-987320287305.

FERREIRA, Á. (2021). A cidade que queremos: produção do espaço e democracia. Rio de Janeiro, Consequência.

FLYVBJERG, B. (2006). Five misunderstandings about case-study research. Qualitative Inquiry, v. 12, n. 2, pp. 219-245.

FUNG, A. (2015). Putting the public back into governance: the challenges of citizen participation and its future. Public Administration Review, v. 75, n. 4, pp. 513-522. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/puar.12361.

GERVAIS-LAMBONY, P. (2017). “A justiça espacial, experiências e pistas de pesquisa”. In: CARLOS, A. F. A.; ALVES, G.; PÁDUA, R. F. (org.). Justiça espacial e o direito à cidade. São Paulo, Consequência.

GILMAN, H.; WAMPLER, B. (2019). The diff erence in design: participatory budgeting in Brazil and the United States. Journal Of Public Deliberation, v. 15, pp. 1-30. DOI: https://doi.org/10.16997/jdd.318.

GÓES, E. M. et al. (2022). “Entrevistas com citadinos: perspectivas para a análise das práticas espaciais sob a lógica fragmentária”. In: GÓES, E. M.; MELAZZO, E. S. (org.). Metodologia de pesquisa em estudos urbanos. Rio de Janeiro, Consequência.

GÓES, E. M.; MELAZZO, E. S. (org.). (2022). Metodologia de pesquisa em estudos Urbanos: procedimentos, instrumentos e operacionalização. Rio de Janeiro, Consequência.

GOLDFRANK, B. (2012). The World Bank and the globalization of participatory budgeting. Journal Of Public Deliberation, v. 8, n. 2, pp. 1-18. Disponível em: http://www.publicdeliberation.net/jpd/vol8/iss2/art7. Acesso em: 10 dez 2023.

GOLDFRANK, B. (2020). La difusión y el diseño de los presupuestos participativos en Brasil y los Estados Unidos. Revista de Ciencia Política y Gobierno. Lima, v. 11, n. 6, pp. 59-80. DOI: https://doi.org/108800/rcpg.201901.003. Acesso em: 14 dez 2023.

HARVEY, D. (1973). Social Justice and the City. Athens, University Of Georgia Press.

______ (2008). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Edições Loyola.

HELD, D. (2006). Models of democracy. Cambridge, Polity Press.

HUNTINGTON, S. P. (1991). Democracy's Third Wave. Journal Of Democracy. Baltimore, v. 2, n. 2, pp. 12-34.

Disponível em: https://www.ned.org/docs/Samuel-P-Huntington-Democracy-Third-Wave.pdf. Acesso em: 11 dez 2023.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020). Região de influência das cidades 2018. Brasília, IBGE.

______ (2022). Cidades: Araraquara. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/araraquara/panorama. Acesso em: 5 set 2024.

LEFEBVRE, H. (1991). The production of space. Oxford, Basil Blackwell.

LEGROUX, J. (2022).Teorias da justiça social e espacial: diálogos com a geografia a partir da década de 1970. Geousp: Espaço e Tempo. São Paulo, v. 26, n. 1, pp. 1-20.

LEHTONEN, P. (2021). Policy on the move: the enabling settings of participation in participatory budgeting. Policy Studies, v. 43, n. 5, pp. 1036-1054. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/01442872.2021.189598. Acesso em: 14 dez 2023.

LIMA, I. (2016). A geopolítica da favela: desafios atuais da justiça territorial no Rio de Janeiro. Cidades. Presidente Prudente, v. 13, n. 22, pp. 5-40.

______ (2020). Em favor da justiça territorial: o encontro entre geografia e ética. Revista Política e Planejamento Regional. Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, pp. 125-148.

LUCHMANN, L. H. H.; BOGO, R. S. (2022). Instabilidade e declínio dos orçamentos participativos em municípios no Brasil e em Portugal. Opinião Pública. Campinas, v. 28, n. 3, pp. 716-749. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/op/article/view/8671950. Acesso em: 22 jan 2025.

LÜCHMANN, L. H. H.; MARTELLI, C. G.; TABORDA, L. (2021). Desafios do Orçamento Participativo: um estudo no Brasil (Araraquara-SP) e em Portugal (Cascais). Estudos de Sociologia. Araraquara, v. 25, n. 50, pp. 213-251. DOI: http://dx.doi.org/10.52780/res.14726. Acesso em: 13 dez 2023.

MARICATO, E. (2015). Para entender a crise urbana. São Paulo, Expressão Popular.

MARQUETTI, A.; CAMPOS, G. A.; PIRES, R. R. C. (2008). Democracia participativa e redistribuição: análise de experiências de Orçamento Participativo. São Paulo, Xamã.

MATTEI, G.; SANTOLAMAZZA, V.; GRANDIS, F. G. (2022). Design of the participatory budget: how to turn citizens into process protagonists. International Journal of Public Sector Management, v. 35, n. 3, pp. 294-316. DOI: http://dx.doi.org/10.1108/ijpsm-02-2021-0045. Acesso em: 25 nov 2023.

MCCANN, E.; WARD, K. (ed.) (2011). Mobile urbanism: cities and policymaking in the global age. Minneapolis, University of Minnesota Press.

NCES – National Center for Education Statistics (s.d.). NCES Locale Classifications and Criteria. Disponível em: https://nces.ed.gov/programs/edge/docs/locale_classifications.pdf. Acesso em: 5 set 2024.

NOVAES, F. S. (2016). Orçamento participativo e gestão pública societal: uma experiência em Vitória da Conquista. Salvador, Edu? a.

PERES, U. D. (2020). Dificuldades institucionais e econômicas para o orçamento participativo em municípios brasileiros. Caderno CRH. Salvador, v. 33, pp. 1-20. DOI: http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v33i0.33972. Acesso em: 13 dez 2023.

PORTO DE OLIVEIRA, O. (2016). Mecanismos da difusão global do Orçamento Participativo: indução internacional, construção social e circulação de indivíduos. Opinião Pública. Campinas, v. 22, n. 2, pp. 219-249.

QUIVY, R.; VAN CAMPENHOUDT, L. (2017). Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa, Gradiva.

RAFFESTIN, C. (1993). Por uma geografia do poder. São Paulo, Ática.

ROLNIK, R. (2011). Democracy on the Edge: limits and possibilities in the implementation of an urban reform agenda in Brazil. International Journal of Urban and Regional Research, v. 35, n. 2, pp. 239-255. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/j.1468-2427.2010.01036.x.

ROTH, Z. (2022). Making participatory work: experiences on the front lines. Brennan Center for Justice. Disponível em: https://www.brennancenter.org/our-work/analysis-opinion/making-participatorybudgeting-work-experiences-front-lines. Acesso em: 14 dez 2023.

SANTOS, M. (2013). A urbanização brasileira. São Paulo, Edusp.

______ (2020). O espaço do cidadão. São Paulo, Edusp.

SCHMÄING, S. (2023). Urban democracy in post-Maidan Ukraine: conflict and cooperation between citizens and local governments in participatory budgeting. European Societies, 5 mar, pp. 1-23, DOI: http://dx.doi.org/10.1080/14616696.2023.2183972.

SCHUGURENSKY, D.; MOOK, L. (2024). Participatory budgeting and local development: Impacts, challenges, and prospects. Local Development & Society. DOI: https://doi.org/10.1080/26883597.2024.2391664.

SHUM, M. (2024). PB adoption across ideological divides:lessons from Brazil. Local Development & Society. DOI: https://doi.org/10.1080/26883597.2024.2313762.

SILVA, R. S. (2017). Orçamento participativo como mecanismo de transformação do espaço urbano. Tese de doutorado. Curitiba, Universidade Federal do Paraná.

SINTOMER, Y. et al. (2012). Aprendendo com o Sul: o Orçamento Participativo no mundo – um convite à cooperação global. Bona, Engagement Global GGMBH.

SIQUEIRA, L. F.; MARZULO, E. P. (2021). Da democracia participativa à desdemocratização na cidade: a experiência do orçamento participativo em Porto Alegre. Cadernos Metrópole. São Paulo, v. 23, n. 50, pp. 399-422. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2021-5016. Acesso em: 13 dez 2023.

SMITH, G. (2009). Democratic innovations: designing institutions for citizen participation. Nova York, Cambridge University Press.

SNYDER, R. (2001). Scaling down: the subnational comparative method. Studies In Comparative International Development, v. 36, n. 1, pp. 93-110.

SOJA, E. W. (2009). The city and spatial justice. Spatial Justice, n. 1, pp. 1-5. Disponível em: http://www.jssj.org/wp-content/uploads/2012/12/JSSJ1-1en4.pdf. Acesso em: 16 dez 2023.

SOUZA, M. L. (2006). A prisão e a ágora: reflexões em torno da democratização do planejamento e da gestão das cidades. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

______ (2010). Mudar a cidade: uma Introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

______ (2013). Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

SPOSITO, M. E. B. (2016). “Oportunidades e desafios da pesquisa urbana comparada”. In: FREITAS-FIRKOWSKI, O. L. C. et al. (org.). Estudos urbanos comparados: oportunidades e desafios da pesquisa na América Latina. San Miguel de Tucuman, Universidad Nacional de Tucuman.

SPOSITO, M. E. B.; SPOSITO, E. S. (2022). A construção de uma pesquisa em ciências humanas. Rio de Janeiro, Consequência.

STAMM, C. et al. (2013). A população urbana e a difusão das cidades de porte médio no Brasil. Interações. Campo Grande, v. 14, n. 2, pp. 251-265. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1518-70122013000200011. Acesso em: 11 dez 2023.

STEINBERGER, M. (org.) (2017). Território, agentes-atores e políticas públicas espaciais. Brasília, LER.

SU, C. (2022). Budgeting Justice: cities must empower historically marginalized communities to shape how public funds are spent. Class & Inequality, Politics. Disponível em: https://www.bostonreview.net/articles/budgeting-justice/. Acesso em: 20 jan 2025.

USCB – United States Census Bureau (2020). 2020 Census Results. Disponível em: https://www.census.gov/programs-surveys/decennial-census/decade/2020/2020-census-results.html. Acesso em: 5 set 2024.

VRYDAGH, J. (2022). Measuring the impact of consultative citizen participation: reviewing the congruency approaches for assessing the uptake of citizen ideas. Policy Sciences, v. 55, pp. 65-88. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s11077-022-09450-w.

WAMPLER, B. (2003). Participatory budgeting in Brazil: contestation, cooperation and accountability. State College, Pennsylvania University Press.

______ (2008). A difusão do Orçamento Participativo brasileiro: "boas práticas" devem ser promovidas? Opinião Pública. Campinas, v. 14, pp. 65-95. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-62762008000100003.

WAMPLER, B.; GOLDFRANK, B. (2022). The rise, spread, and decline of Brazil's participatory budgeting: the arc of a democratic innovation. Cham, Springer Nature.

WAMPLER, B.; MCNULTY, S.; TOUCHTON, W. (2021). Participatory budgeting in global perspective. Oxford, Oxford Academic.

Publicado

2025-04-30