Carlos Mário Paes Camacho
Doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Contato: carlosmariodegraus@hotmail.com
Resumo: A Bíblia ocupou um lugar importante na obra de Machado de Assis. O artigo tem como objetivo central explicar como o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, obra que marcou o início da segunda fase da produção romanesca do escritor fluminense incorpora uma visão da vida, da morte e do mundo no geral que ecoa o Eclesiastes. Encontra-se aí a base das hipóteses que orientarão o texto que está dividido em duas partes, sendo que a segunda por sua vez está subdividida em duas subpartes. A primeira parte, A literatura sapiencial e o Eclesiastes, buscam compreender o lugar do tema sabedoria no Antigo Testamento da Bíblia. Logo a seguir há uma abertura para a apresentação do Eclesiastes e do seu lugar no cânon bíblico. A segunda parte, O narrador e o Coélet fluminense em Memórias póstumas de Brás Cubas, contém as hipóteses e os argumentos defendidos e se abre inicialmente para uma compreensão do ato de narrar no texto literário, bem como os estudos que se ocuparam em destacar a importância da narração. Posteriormente, serão selecionadas as principais partes do livro publicado em 1881, com vistas ao entendimento da presença e inspiração do Eclesiastes sobre o narrador. Os assuntos tratados no texto bíblico serão ainda estudados nas relações como temas que versam sobre o pessimismo e o sentido da vida.
Palavras-chave: Bíblia; Machado de Assis; Eclesiastes; Memórias póstumas de Brás Cubas; Coélet fluminense
Abstract: The Bible occupied an important place in the work of Machado de Assis. The main objective of this article is to explain how the novel Memórias póstumas de Brás Cubas, a work that marked the beginning of the second phase of the novelistic production of the writer from Rio de Janeiro, incorporates a vision of life, death and the world in general that echoes the Biblical Ecclesiastes. This is the basis for the hypotheses that will guide the text, which is divided into two parts, the second of which is in turn subdivided into two subparts. The first part, Sapiential Literature and Ecclesiastes, seeks to understand the place of the theme of wisdom in the Old Testament of the Bible. Immediately afterwards, there is an opening for the presentation of Ecclesiastes and its place in the biblical canon. The second part, The narrator and the Fluminense Coélet in Posthumous Memoirs of Brás Cubas, contains the hypotheses and arguments defended and initially opens up to an understanding of the act of narration in the literary text, as well as the studies that have focused on highlighting the importance of narration. Subsequently, the main parts of the book published in 1881 will be selected, with a view to understanding the presence and inspiration of Ecclesiastes on the narrator. The subjects addressed in the biblical text will also be studied in relation to themes that deal with pessimism and the meaning of life.
Keywords: Bible; Machado de Assis; Ecclesiastes; Posthumous Memoirs of Brás Cubas; Fluminense Coélet
A linguagem literária traduz modos de percepções de uma certa realidade humana. O texto literário pode apresentar manifestações religiosas de indivíduos e grupos sociais. Por outro lado, o texto religioso contém uma série de símbolos literários relevantes para a apreensão de expressões religiosas das sociedades humanas.
Explicar como a obra ficcional Memórias póstumas de Brás Cubas que veio a lume em 1881 e marcou o início da segunda fase da produção machadiana assimilou uma visão da vida, da morte e do mundo que ressoa o Eclesiastes constitui-se no objetivo do artigo.
Defende-se aqui como uma primeira hipótese, a ideia de que o narrador de Memórias póstumas é o coélet fluminense no plano transcendental que utiliza as mensagens centrais do Eclesiastes para narrar e meditar a respeito da vida de Brás Cubas. A segunda hipótese encontra-se na ideia de que as narrativas construídas pelo coélet fluminense, são imbuídas de uma série de valores que estão em torno da existência humana e sugerem ao leitor refletir sobre o sentido da vida.
O Eclesiastes é um dos mais conhecidos textos da literatura sapiencial do Antigo Testamento. Responsável por uma das mais conhecidas traduções do Eclesiastes, Campos (1990) salienta o aspecto semítico da obra e faz referência ao termo grego ekklesía que originou assembleia e a imagem do Coélet como pregador que interroga os homens em linhas gerais, por meio de uma expressão: O-que-sabe. A fé em Elohim, que expressa o divino e o inescrutável, é vista na sua relação com tudo que ocorre na vida material, ou seja, debaixo do sol. O rei Salomão é usado pelo autor do livro como representação do Coélet em razão da associação imagem à de sábio pela tradição hebraica.
Os temas relativos à fé e Deus são avaliados na sua relação com o tema da imortalidade da alma. Ao discutir o caráter finito da existência humana, o Eclesiastes registra que a morte significa o destroçar da vida, o ponto final. O pessimismo é um assunto que perpassa o livro, pensado na relação com o sentido da vida e a brevidade da vida humana. Esta é exemplificada por palavras como ou expressões, como “sopro” ou “tudo é vaidade”, “névoas de nadas”, na tradução de Haroldo de Campos. Por conseguinte, ao edificar reflexões assentadas em ideias filosóficas e religiosas, o Eclesiastes quer no limite justificar a necessidade da crença em Deus. Gutiérrez (2016, p.475) discute a autoria, o momento, bem como o local de origem do Coélet (a tradução consagrada pelo uso é Eclesiastes)[1]. Redigido em aramaico, a palavra “convocar, reunir a assembléia” está na origem da raiz da palavra Eclesiastes (GUTIÉRREZ, 2016, p. 475). Provavelmente foi escrito por volta do ano 250 a.C. em Jerusalém por um autor que teria vivido no norte da terra de Israel. O coélet, portanto, é orador que se dirige aos homens em uma assembleia para que eles meditem acerca do sentido da vida e a crença em Deus:
Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração vai, uma geração vem, e a terra sempre permanece. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é lá que ele se levanta. O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando e girando vai ao vento em suas voltas. Todos os rios correm para o mar e, rios continuam a correr (Ec 1.4-7).
Ska (2018, p. 146), ressalta que o tom ácido em relação à vida humana fez do Eclesiastes uma obra que causa desconforto entre judeus e cristãos. O refrão “vaidade das vaidades, tudo é vaidade” ecoará de maneira direta ou indireta entre os filósofos e demais pensadores. Ska (2015) ao comparar os livros de Jó e o Eclesiastes afirma que ambos tratam dos impasses e da tragédia humana:
Não está o homem condenado a trabalhos forçados aqui na terra?
Não seus dias os de mercenários?
Como o mercenário espera o salário,
Assim tive por herança meses de ilusão,
E couberam-noites de noites de pesar.
Quando me deito, penso: “Quando virá do dia? (Jó 7. 1-4).
Com efeito, o que resta ao homem de todo o trabalho e esforço com que o seu coração se afadigou debaixo do sol? Sim, seus dias todos são dolorosos e sua tarefa é penosa, e mesmo de noite ele não pode repousar. Isso também é vaidade (Ec 2. 22-23).
Os dois livros que expressam indagações a respeito da dureza e dos infortúnios da vida humana material, ainda que preservem as suas identidades convergem para um mesmo ponto: os caminhos da sobrevivência humana e o sentido da vida. No Eclesiastes, a sabedoria é representada como uma possibilidade de uma vida mais feliz.
Foi a partir da observação da experiência humana das comunidades que muitos escritos que pertencem à literatura sapiencial foram criados. O coélet, herdeiro da literatura sapiencial que investigou tudo que estava debaixo do sol, se beneficiou do contato cotidiano com as sociedades da sua época contribuiu com meditações, verdadeiras fontes da sabedoria que alimentou o debate sobre o sentido da existência humana.
As metáforas contidas no Eclesiastes, como as relativas aos movimentos do sol e do vento reforçam as reflexões sobre os seres humanos, submetidos ao trabalho incessante, rotineiro e cansativo. Líndez (1999) vê ainda o Coélet como um pregador dos ensinamentos de Deus relacionando-os à compreensão do sentido da vida e os principais aspectos que circundam a vida humana.
O Coélet como pregador e sábio que se dirige aos homens para orientá-los serve de referência para se pensar Brás Cubas, como um Coélet fluminense que alerta ao leitor acerca das vaidades, efemeridades e futilidades que tornam a vida sem sentido. As reflexões que giram em torno do Eclesiastes permaneceram ao longo dos tempos encontraram eco em Memórias póstumas de Brás, como por exemplo, em uma passagem bem conhecida do romance que faz referência ao egoísmo e as ambições humanas que chacoalhavam a humanidade.
Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do deliro são outros, eu via tudo o que passava diante de mim – flagelos e delícias – desde essa coisa que se chama de glória até essa outra que se chama de miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos a agitavam o homem como um chocalho, a te destruí-lo como um farrapo (ASSIS, 2015, p. 608).
O Coélet fluminense ao narrar em outro plano a vida de Brás Cubas, utiliza de passagens que dão forma aos seus conceitos delirantes e valores que se contrapõem, mas que dão cuja vida é impulsionara por movimentos efêmeros que criam e destroem coisas e valores rapidamente: o chocalho é uma metáfora que representa o mundo que chacoalha com força os homens e as mulheres que vivem sob o sol. A vida narrada pelo Coélet da Bíblia e o Coélet machadiano que na verdade se dirigiram aos seres humanos nos seus respectivos momentos históricos, desemboca no mesmo lugar: vaidade, tudo é vaidade, névoa de nada.
A busca por um sentido da vida é característica do Eclesiastes. Tal sentido é capturado pelo autor na realidade terrena e não em uma possível dimensão transcendental, por intermédio de temas como a sabedoria, o trabalho e a felicidade. O desconhecimento humano a respeito da vontade de Deus que expressa, a plenitude e o sentido para a vida exibem as debilidades humanas sempre às voltas com as volatilidades da vida que desaparecem como o vento. O Coélet, todavia, é consciente que o homem na sua existência terrena é destinado a conviver com as brevidades e efemeridades da vida, não havendo um sentido pleno da vida e sim momentos de alegrias e felicidades. Diz o Coélet:
Vai, come teu pão com alegria
e bebe o teu vinho com satisfação,
porque Deus já aceitou tuas obras.
Que tuas vestes sejam brancas em todo tempo
E nunca falte perfume na tua cabeça.
Desfruta a vida com a mulher amada
em todos os dias da vida de vaidade que Deus te concede debaixo do sol (Ec. 9. 7-9).
Ao voltar a sua atenção para temas comuns aos seres humanos, o livro justifica exatamente a ideia de que a vida não produz uma felicidade constante e sim momentos de felicidades. A menção a Deus na passagem acima remete o leitor a perceber que ele não está distante e indiferente ao seu comportamento. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador dedica boa parte do livro para narrar o romance entre Brás e Virgília que inspira um possível cotejamento ao Eclesiastes no tocante a momentos de felicidades que emprestam sentido aos homens. Assim, o Coélet fluminense divaga sobre romance vivido pelas personagens:
Sim, senhor, amávamos. Agora, que todas as leis sociais no-lo impediam, agora é que nos amávamos deveras. Achávamo-nos jungidos um ao outro, como as duas almas que o poeta encontrou no Purgatório:
Di pari, come buoi, Che vanno a giogo;
e digo mal, comparando-nos a bois, porque nós éramos outra espécie de animal menos tardo, mais velhaco e lascivo. Eis-nos a caminhar sem saber até onde, nem por que estradas escusas; problema que me assustou, durante algumas semanas, mas cuja solução entreguei ao destino (ASSIS, 2015, p. 657-658).
Esta que não é o sentido pleno da vida permite pensar o cotidiano do homem que está sob o sol e que está confinado à dinâmica apontada pelo Coélet sábio da bíblia: “Vaidade das vaidades –diz Coélet – vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.1-2). Ao descrever o significado geral do romance do protagonista das memórias, o Coélet fluminense permite ao leitor imaginar os momentos de felicidade que ele proporcionou aos amantes, mesmo que a passagem faça veladamente referências ao pecado quando evoca o purgatório que faz parte do imaginário religioso. A noção de sentidos parciais, portanto, pode ser encontrada nos momentos em que o casal se delicia com os momentos de felicidade, mas que são breves e se esvanecem. Posto isso, na segunda parte, o artigo abre-se para uma análise a respeito da relevância do narrador das Memórias póstumas de Brás Cubas para a assimilação dos temas presentes no Eclesiastes.
Narrar ou contar histórias é uma atividade que se confunde com a trajetória humana através dos tempos. Azeredo (2013) destaca a narrativa como constituída por eventos que ganham sequência e em um uma ordem temporal, por intermédio de personagens em uma relação de causa e consequência.
A narrativa ganha destaque no texto ficcional, porque organiza o fluxo da história. Gancho (2006) informa que as narrativas no geral almejam responder questões que envolvem personagens, lugares e acontecimentos. A narrativa se desenvolve, por meio de ações que são organizadas em sequências que ganham sentido, por meio de um problema a ser decifrado, por intermédio das ações das personagens. A partir de um lugar da obra, o narrador é o responsável pela transmissão do enredo e das reflexões ao leitor.
O romance é provavelmente o mais conhecido modelo de narrativa. É importante recordar que a construção de um texto literário não coincide com o real e deve abrir espaço para a imaginação e estimular o interesse do leitor por um enredo que é constituído por quatro partes: a) exposição, b) desenvolvimento, c) o clímax e d) o desfecho da trama. A primeira diz respeito ao momento em que as personagens, os acontecimentos iniciais, o tempo e o espaço são informados ao leitor. O segundo é a parte mais importante da história, visto que é o momento em que se transcorre a história. O clímax ou auge da história, a terceira parte, é resultado dos fatos narrados e representa o ápice do enredo. A quarta parte é o momento em que há o encerramento da trama que varia de história para história. A compreensão de uma narrativa está inegavelmente ligada ao papel desempenhado pelas personagens, porque a eles cabem desenvolver as ações de um enredo.
O tempo é uma dimensão que merece uma atenção dos pesquisadores, pois ajuda situar a narrativa e o próprio personagem. Gancho (2006) avalia-o como a dimensão em que a história se desenvolve, não obstante, não raro o tempo em que a história foi edificada não coincide com o tempo impresso na narrativa. As Memórias póstumas é um exemplo disso, pois a vida de Brás Cubas transcorreu entre os anos de 1805 e 1869, cujas partes inicialmente foram publicadas em momentos distintos, primeiro na Revista Brasileira em 1880 e, depois em livro no ano de 1881. É digno de registro que o narrador, além de contar a história de Brás Cubas em um plano diferente da temporalidade terrestre, narrou-a anos depois.
As narrativas que dinamizam as Memórias póstumas de Brás Cubas, conforme Gancho (2006) obedece a uma dinâmica do tempo psicológico. Este é impulsionado pela imaginação, vontades e desejos do narrador. Este altera a ordem cronológica da narrativa, pois inicia o relato das memórias a partir do momento da morte de Brás que foi antecedida por devaneios ou delírios. Depois disso, ele encaixa e ordena as narrativas desde o nascimento do protagonista da obra e trata de modo célere acontecimentos históricos que a marcaram a história do Rio de Janeiro, tais como a transferência do governo português para o Brasil e a independência de 1822. A conversa com Pandora, a natureza e o posterior fim do devaneio representam o tempo psicológico, importante ainda para o resgate de temas como o pessimismo e o sentido da vida:
Isso dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma coisa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o túmulo dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago (ASSIS, 2015, p. 608).
O narrador conta a história humana em poucos instantes como marcada pelo ódio, paixão, tumulto e destruição. Encontra-se aí, uma aproximação da visão ácida do defunto autor que se torna o Coélet fluminense com o Coélet da Bíblia responsável pelas narrativas do Eclesiastes. Os apetites e as paixões revelam a força de uma dinâmica de vida em que homens e mulheres são movidos por uma força interior e que parece incompreensível que traduzem o sentido da vida retirada da filosofia de Schopenhauer, que animaram muitas narrativas pessimistas sobre os homens no interior da ficção machadiana.
Brayner (1979) afirma que ao deixar de lado o modelo de uma narrativa cronológica e direta que não valoriza os diversos ângulos e percepções dos narradores, Machado abre espaço para o que se convencionou denominar “narrador intruso”. Tal tipo abre espaço para que se pense uma narrativa conduzida por um narrador que mesmo se identificando com o protagonista da história se constitui como outra personagem. Os narradores construídos por Machado em uma perspectiva que refutava um modelo linear de narrativa enriqueceram os romances da segunda fase, a começar por Brás Cubas, o Coélet fluminense que narra e apresenta conclusões inspirado pelas mensagens do Coélet da Bíblia. O plano transcendental, lugar de onde se narra sugere a hipótese de que as Memórias póstumas de Brás Cubas não sejam representadas exclusivamente como um livro que faz o relato e o sentido de uma vida. As digressões ou as interrupções realizadas pelo narrador atestam ainda a capacidade do Coélet fluminense de silenciar em muitas passagens silenciar o narrador.
O pesquisador que se debruça sobre as Memórias póstumas depara-se com uma personagem cuja vida transcorreu sem grandes novidades, a não ser na ocasião da invenção do Emplasto Brás Cubas que deu um grande ânimo a uma existência que pouco ou nada diferia de outras do seu tempo. A vontade de vida ilustra de modo favorável a trajetória de Brás, ou seja, os seus desejos o impulsionavam dentro de uma sociedade escravista do século XIX. O Coélet fluminense ao narrar às agruras da vida indicou a fatalidade à qual estavam submetidos os seres humanos e a perspectiva da religião e de Deus de conferir um sentido a trajetória humana.
As questões que abrem possibilidades de um diálogo entre o Coélet fluminense e o leitor sobre a vida e os seus desfechos animam a história, embora muitas vezes fiquem sem respostas, indicam a convivência do Eclesiastes com as Memórias póstumas de Brás Cubas. O Coélet fluminense foi o grande responsável por retirar da vida do protagonista das memórias as lições sobre o pessimismo e o sentido da vida. O narrador inclui nas suas narrativas, as reflexões de Schopenhauer e Montaigne que se alinham aos temas proferidos pelo Coélet da Bíblia. É interessante salientar que o Eclesiastes parece sem tergiversar responder a Montaigne o sentido da vida vivida e a Schopenhauer, defensor da tese de que a vontade de vida torna as experiências humanas sem sentido. A resposta pode ser encontrada nas linhas abaixo:
Prólogo – Vaidade das vaidades – diz Coélet – vaidade das vaidades, tudo é vaidade.
Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração vai, uma geração vem, e a terra sempre permanece. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é de lá que ele se levanta. O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando e girando vão o vento e suas voltas. Todos os rios correm para o mar e, contudo, o mar nunca se enche: embora chegando ao fim do seu percurso, os rios continuam a correr. Todas as palavras são gastas e ninguém pode mais falar. O olho não se sacia de ver, nem o ouvido se fará de ouvir. (Ec. 1.1-7)
O movimento repetitivo da vida material que se expressa no trabalho ganha robustez em um momento e em outro perde a vitalidade. As gerações passam, mas a dinâmica da vida é igual, porque tudo é vaidade, ou seja, é nevoa e vento que indicam as ilusões pelas quais os homens correm atrás. O percurso humano na Terra tem sempre um mesmo destino: a morte. O Coélet, no entanto, aponta para uma esperança futura para os que acreditarem em Deus. Talvez resida aí, a esperança e provavelmente a sua grande lição que atenua a acidez das páginas do Eclesiastes. O pessimismo e o sentido da vida, simultaneamente às mensagens contidas no Eclesiastes constituem-se na matéria prima usada pelo Coélet fluminense para contar a história de Brás Cubas. Diante disso, o artigo abre-se inicialmente para a apresentação das hipóteses defendidas e a argumentos e, em seguida expor passagens do romance cujo objetivo é o de demonstrar, momentos em que há assimilações de passagens do Eclesiastes pelo narrador.
Defende-se como uma primeira hipótese central, a ideia de que o narrador das Memórias póstumas de Brás Cubas é o Coélet fluminense no plano transcendental, utilizando as mensagens do Eclesiastes para narrar e meditar a vida da personagem Brás Cubas. O primeiro argumento repousa na ideia de que Brás protagonista de Memórias póstumas, não é de fato o narrador que conduz a história, ou seja, há o Coélet fluminense que extrai do Eclesiastes as mensagens que inspiram o romance. A aproximação maior do Coélet fluminense em certas passagens do romance, como aquelas que concernem aos momentos de interrupções da narrativa para a exposição de comentários e visões de mundo, enseja uma aproximação com o escritor que lhe deu a vida e formou a visão de mundo do narrador é o segundo argumento proposto.
A segunda hipótese defendida se encontra na ideia de que as narrativas construídas pelo coélet fluminense são imbuídas de uma série de valores que estão em torno da existência humana e que sugerem ao leitor refletir sobre o sentido da vida. Como primeiro argumento, sustento que o “defunto autor” na condição de coélet fluminense, por intermédio das concepções extraídas do Eclesiastes apresenta ao leitor uma série de lições acerca do pessimismo e do sentido da vida. O segundo argumento reside na ideia de que filósofos como Montaigne, Schopenhauer e Dom Miguel de Unamuno apresentam reflexões filosóficas e religiosas que atestam a importância do Eclesiastes para o romance aqui estudado. Este pode ser dividido em três grandes partes: 1) A primeira parte comporta em linhas gerais o prólogo assinado por Machado, o narrador que tem o primeiro contato com o leitor e os momentos derradeiros da existência de Brás Cubas; 2) O delírio, a visita de Virgília e o momento em que a história é contada, a partir do nascimento do protagonista da trama se constituem como marco inicial da segunda parte; e 3) O retorno de Brás ao Brasil depois de um período em Portugal onde se formou em Direito marca o início da terceira parte da obra.
Após informar sobre a publicação da obra, Machado de Assis encerra o prólogo e sublinha o conteúdo amargo que pode ser considerado como primeiro contato com o Eclesiastes. O escritor incumbe o narrador da responsabilidade de conduzir enredo. A aspereza anunciada e que está em torno da vida de Cubas indica o primeiro contato do texto machadiano com o Eclesiastes. A dedicação aos vermes das Memórias póstumas marca o primeiro contato do narrador com o leitor. A estranha mensagem pautada pela ironia fornece uma ideia da morbidez que caracterizou boa parte do livro. O Coélet fluminense entra em cena, a partir de um espaço transcendental, não obstante o seu interesse seja o de narrar e compreender a vida material.
No primeiro capítulo, o narrador explica o porquê ter iniciado pelos momentos finais que encerraram a vida da personagem e se compara a Moisés e o Pentateuco. Este narra a vida do eminente personagem a partir do seu nascimento. O translado do corpo da personagem para o cemitério revela mais uma sutileza no que diz respeito à apropriação de mensagens religiosas cristãs: tanto Cristo, quanto o protagonista das Memórias morreram em uma sexta feira. O tema da morte apareceu com frequência ao longo da obra e foi alvo de especulações e inspirações para chamar a atenção a respeito do sentido da vida.
Os três capítulos posteriores podem ser avaliados em conjunto, pois ajudam a situar o leitor em razão do papel do Emplasto Brás Cubas para a vida da personagem. A invenção do medicamento que tinha como meta curar a melancolia humana significou talvez a perspectiva de realizar o sonho de alcançar o reconhecimento social. A obsessão em torno do Emplasto faz com que o Coélet fluminense discorra sobre personagens históricos e declare que o seu texto é filosófico, ainda que seja desigual. O autor das Memórias póstumas interrompe a narrativa e aproxima o leitor do escritor fluminense, na medida em que usa as questões acerca do remédio que prometia curar a melancolia humana para familiarizar o leitor com os alicerces do livro.
As narrativas que abrangem os capítulos de cinco a oito formam um conjunto de informações que orientarão o leitor quanto ao rumo do enredo. Inicialmente há a informação de que a pneumonia contraída e que vitimou Brás fora causada por uma forte ventania. Em seguida, mais precisamente no sexto capítulo, Brás recorda a presença de Virgília na porta do seu leito de morte e que aparentava uma fisionomia pálida. O narrador depois de um breve comentário sobre o reencontro dos amantes, evoca a morte na sua relação com o tempo e o seu significado para os seres vivos. As misérias humanas proferidas pelo moribundo são associadas às efemeridades humanas ditadas pelo ritmo do tempo que corrói paulatinamente a vida. O tempo que aniquila a vida humana até levar à morte atesta o quanto que o movimento da vida que é impelido pela vontade humana, responsável pela fugacidade do comportamento do homem resulta no nada: “Vaidade das vaidades – diz Coélet – vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ec. 1. 2)
O delírio da personagem nos momentos finais da sua existência fez com que Brás Cubas encontrasse figuras estrambóticas, como o hipopótamo que o transporta por outras dimensões temporais, dentre elas as que dizem respeito a imagens e símbolos religiosos como o Éden e a tenda de Abraão. Em seguida, ele dialoga e pede alguns anos a mais de vida a Pandora, uma figura da mitologia grega que é uma espécie de poder transcendental que atribui ao personagem uma série de características próprias dos seres humanos que vivem debaixo do sol, como a inconstância e o egoísmo.
- Pobre minuto! – exclamou – Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do espetáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos aflitivo: ao alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da terra, o sono enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota? (ASSIS, 2015, p. 608).
A figura de Pandora foi assimilada como um poder capaz de decidir pela continuidade ou não da sua vida. Ao perguntar sobre o porquê da personagem ambicionar mais alguns anos de vida, Pandora diz que isso não resultaria em nada, em razão da persistência de um movimento que leva continuamente os homens e as mulheres a um mesmo movimento, ou seja, viver em torno da vontade de vida, conforme Schopenheuer (2016). Diante disso, as análises de Barcellos (2000) permitem entender as mensagens tecidas acima pelo Coélet fluminense, como compondo um texto não religioso que potencializa o resgate de visões religiosas.
O final dos devaneios é marcado pela retomada de um movimento que tinha como base a ideia de que o movimento da vida humana era responsável por tudo que ocorria abaixo do sol. As narrativas do Coélet fluminense conduzem os seres humanos até a morte que aniquila o ser interrompe uma vida dirigida pelos impulsos e desejos oriundos da vontade de viver. As reflexões de Manzatto (1994) fundamentadas por um método antropológico que valoriza as vivências humanas auxiliam o pesquisador a encontrar no interior das narrativas ácidas do Coélet da Bíblia e do Coélet fluminense, instrumentos que resgatem visões religiosas, fundamentais para se meditar a respeito do sentido da vida.
Após sublinhar que a presença de Virgília foi provavelmente a personagem que mais impactou a vida do protagonista do romance, o narrador inverte cronologicamente a narrativa, partindo do nascimento de Brás Cubas e justifica tal iniciativa de não orientar de maneira severa a redação da obra. Reside aí mais um momento em que o narrador parece convidar Machado de Assis para assim se pronunciar:
Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir dos seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho (ASSIS, 2015, p. 599).
Ao informar ao público que não se orientou de modo hermético na redação das Memórias póstumas, o Coélet fluminense recepciona de maneira sutil o escritor fluminense e convida-o a participar do diálogo. Machado revela ao leitor o “gosto” amargo das mensagens do romance e as aproxima das que constituem o Eclesiastes e assume o lugar do narrador e se transforma no Coélet fluminense.
Os capítulos em seguida narram a vida da personagem desde a infância até o momento em que ele parte para os estudos na Europa. O nascimento da personagem foi celebrado como uma formosa flor que surgiu da família Cubas. Além de mostrar certas características que marcaram a infância da personagem, remete o leitor a uma ideia de cunho filosófico e que nos auxilia na compreensão sobre o significado da vida humana: “o menino é pai do homem” (ASSIS, 2015, p. 612). Esta passagem indica que as características do Brás Cubas adulto já estavam presentes no adulto, ideia que foi retomada em Dom Casmurro, quando o narrador diz que as características da Capitu adulta já estavam no interior da menina. Ainda que fosse educado, segundo os princípios cristãos da época, Brás cresceu livremente e ficou conhecido por “menino diabo” (ASSIS, 2015, p. 612). A mãe, responsável pelos primeiros ensinamentos cristãos, legou a ele noções como pecado, perdão e Deus. As reflexões de Nogueira (2013) tornam-se importantes aqui, porque elas consideram as linguagens humanas utilizadas para a transmissão de experiências e sentimentos religiosos do momento histórico ao qual pertencia o protagonista. Os primeiros contatos com os símbolos religiosos são importantes, na medida em que permitem ao pesquisador rastrear a formação humana e intelectual de Brás Cubas.
Depois da infância, as narrativas concentram-se na juventude, momento do início da vida afetiva do personagem. Marcela, uma meretriz espanhola, foi o primeiro grande amor do jovem, descrito como um rapaz bonito e arrogante cuja vida desregrada na corte nos seus primeiros anos de juventude terminou com a viagem para a Europa. Ao desembarcar em Lisboa Brás acalentado por novas perspectivas e ambições ingressou na universidade com a expectativa de viver novos desafios. O passar dos anos, contudo, indicaram que a sua vida acadêmica foi percorrida com muita mediocridade e pouco esforço. Na verdade, a vida em Portugal e depois em outros países regadas pela boêmia tornou Brás, segundo o narrador, um acadêmico superficial, arrogante e nada merecedor do diploma ostentado posteriormente.
Após ter acesso ao diploma de bacharel que gerou na personagem uma sensação de liberdade, sentimentos como a vontade de viver o levaram pelas viagens afora a buscar novos prazeres e desejos que ele não conseguia mensurar e que eram impulsionados, segundo Schopenhauer (2016) pela vontade de vida. Brás retorna ao Brasil em razão do falecimento da mãe. Ao chegar ao Rio de Janeiro, as lembranças da infância vieram à tona. O momento da despedida marcado pela dor da perda da mãe foi igualmente o reencontro com parentes e conhecidos, como a irmã Sabina e Dona Eusébia. O desfecho inevitável fez com que o narrador trouxesse para o texto personagens como Sócrates e Catão, que encararam a morte de maneira virtuosa. Assim, o Coélet fluminense apresenta o seguinte trecho acerca da morte:
Conhecia a morte de oitiva; quando muito, tinha-a visto já petrificada no rosto de algum cadáver, que acompanhei ao cemitério, ou trazia-lhe a ideia embrulhada nas amplificações de retórica dos professores de coisas antigas – a morte aleivosa de César, a austera de Sócrates, a orgulhosa de Catão. Mas esse duelo do ser e do não ser, a morte de uma pessoa amada, essa foi a primeira vez que pude encarar (ASSIS, 2015, p. 630).
A suspensão da narrativa em razão de mais uma avaliação sobre o significado da morte e a lembrança de personalidades históricas, conduz o leitor a meditar acerca do sentido da vida na sua relação com a morte. Além disso, os últimos momentos de vida narrados na passagem acima permitem refletir mais uma vez uma recepção do Eclesiastes pelo romance. Conforme o Eclesiastes:
Este é o mal que existe em tudo que se faz debaixo do sol: o mesmo destino que cabe a todos. O coração dos homens está cheio e maldade; enquanto vivem, seu coração está cheio de tolice, e seu fim é junto aos mortos.
Ainda há esperança para quem está ligado a todos vivos,
e um cão vivo vale mais que um leão morto. (Ec. 9. 3-4)
A mensagem acima parte de uma visão pessimista, porque muitos homens carregam em seus corações a maldade, não obstante, a morte acolha a todos. O curioso é que no final da passagem a palavra esperança parece indicar algo de promissor aos vivos. Sendo assim, não seria descabido indicar que o Coélet fluminense, responsável por narrar a existência de Brás Cubas, estivesse indicando ao leitor uma visão menos lúgubre da morte.
Na casa da Tijuca, lugar em que a personagem se confinou após a morte da mãe, as meditações sobre o sentido da vida prosseguem. O narrador teceu ainda considerações acerca de duas figuras femininas: Eugênia e Virgília, já conhecida do leitor desde o início do livro. A descrição de Virgília, que tinha entre quinze e dezesseis anos, revela um Brás impressionado com a beleza da moça que foi caracterizada ainda como “faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos” (ASSIS, 2015, p. 634). O encontro com dona Eusébia permitiu ao personagem conhecer Eugênia que lhe despertou a atenção, embora fosse “coxa” desde o nascimento.
No encontro posterior de Brás com Virgília, o Coélet fluminense faz referência a metafísica do Estagirita para ilustrar o movimento da vida que pôs Marcela e Virgília na vida do protagonista. Elas são representadas como bolas que se chocam com a personagem principal. O reencontro com Marcela já em uma fase de decadência física faz com que Brás seja impulsionado em direção ao seu grande amor, Virgília. As bolas que se esbarram expressam o movimento da vida desenvolvida abaixo do sol que levam homens e mulheres em direção a uma vida sem sentido e pessimista. As bolas que se batem umas nas outras poderiam ainda se assemelhar ao vento que vai de um lado para o outro:
Uma geração vai, uma geração vem, e a terra sempre permanece. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é lá que ele se levanta. O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando e girando vai o vento em suas voltas. Todos os rios correm para o mar e os rios continuam a correr (Ec. 1. 4-8).
Portanto, se em determinado momento Marcela foi uma espécie de símbolo e impulsionadora da vontade de vida de Cubas, por outro lado Virgília se tornou em seguida uma nova inspiradora da vontade viver. No final de tudo, a vida humana que gira e gira como o vento, como o rio desemboca no mar que na sua imensidão poderia representar o nada que engoli os seres humanos.
Depois do casamento com Lobo Neves, Virgília torna-se amante de Brás. Em um capítulo adiante, o narrador faz um balanço dos primeiros momentos da relação entre os dois amantes. Por intermédio do beijo dos amantes, o Coélet fluminense discorre sobre sentimentos humanos atinentes ao movimento da vida, ou seja, a paixão, o ciúme, a cólera e o desespero para conhecer o homem concreto, de “carne e osso” de Unamuno (2013).
As relações entre as duas personagens favorecem ao estudioso captar passagens religiosas que permitem o acesso ao imaginário religioso de uma época. Os encontros com Virgília concretizam momentos de felicidade que superam a dor e o infortúnio provocado pela vontade de viver, ainda que se sentissem transgressores de uma sociedade regida pela visão de mundo cristã. O narrador vê nos encontros de Brás com a amada, satisfações que punham de lado por algum tempo as tristezas e os vazios da existência:
Fui ter com Virgília; depressa esqueci o Quincas Borba. Virgília era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e Bruxelas. Era ali que ele costumava repousar de todas as sensações más, simples enfadonhas ou até dolorosas...Escrófula da vida, andrajo do passado, que me importa que existas, que molestes os olhos dos outros, se eu tenho dois palmos de um travesseiro divino, para fechar os olhos e dormir? (ASSIS, 2015, p. 662).
As marcas do passado do protagonista são sinais de uma vida melancólica ditada pela vontade de vida e que tem como corolário, “Vaidade das vaidades” são contrapostas aos momentos de consolação e de aconchego proporcionados pela relação amorosa com Virgília. O casal de amantes, contudo, foi atormentado com a perspectiva de que o romance fosse descoberto. A figura de D. Plácida, importante para o desenvolvimento do romance ganha mais destaque e suscita reflexões que se aproximam de temas relacionados ao sentido da vida. A mulher, testemunha ocular da relação amorosa, foi recompensada com um “pecúlio de cinco contos” (ASSIS, 2015, p. 670). Em mais uma interrupção da história, o Coélet fluminense confessa estar arrependido por escrever as memórias póstumas. A obra é vista como pernóstica e que exala o odor da morte. O leitor recebe ainda a seguinte acusação:
Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... (ASSIS, 2015, p. 671).
Ao travar mais uma vez um diálogo com o leitor e ofendê-lo, o Coélet fluminense quer na verdade orientá-lo para uma leitura correta do livro. O narrador munido da autoridade da autoria das Memórias póstumas arroga-se no direito de corrigir o público leitor, lembrando-o que ela é portadora de desvios que remetem o leitor a vários caminhos que precisam ser percorridos com atenção. É curioso ainda recordar que ao classificar o seu estilo com a figura de um homem que caminha ora a direita ora a esquerda como se estivesse tonto, o narrador recepciona mais uma mensagem do Eclesiastes que acaba por ilustrar o movimento da vida a mesmo lugar, quer seja a morte. Conforme o Coélet:
O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando vai o vento em suas voltas. Todos os rios correm para o mar e contudo, o mar nunca se enche: embora chegando ao fim do seu percurso, os falar. O olha não se sacia de ver, nem o ouvido se farta de ouvir. (Ec 1. 6-8).
As lições dadas ao leitor pelo narrador objetivam ajudá-lo a compreender o texto sinuoso do romance e mostrar que o desenrolar da narrativa é lento e não linear, porque a vida humana não segue um traçado de linha reta. Ela caminha tendo à frente obstáculos e desvios que se indicam momentos em que ela corre de modo célere ou lento e então, ele faz uma indagação: Qual será o destino do livro depois de pronto e comercializado?
O autor do romance imagina uma figura humana já em idade avançada e aficionado por livros e que o encontrou em um sebo qualquer. A personagem de posse de um exemplar único e independente do conteúdo passaria a tratá-lo como uma raridade que não seria alvo de trocas e de vendas. É possível então um cotejamento: a trajetória de Brás Cubas, contada e alvo de reflexões de um livro com início, meio e fim é também um exemplar único e com sentido.
Adiante, o livro informa um pouco da história de dona Plácida, que nasceu da união de um sacristão da Sé e de uma doceira. Ela contraiu matrimônio com um alfaiate que a deixou viúva com uma filha. Concretamente não conseguiu arrumar nenhum pretendente com vistas para um segundo matrimônio. O Coélet fluminense, inspirado em Schopenhauer, suspende o curso da narrativa que no momento estava centrada no romance dos protagonistas do livro para refletir sobre o nascimento de dona Plácida:
Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou d. Plácida. É de crer que d. Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão a sacristã naturalmente lhe responderiam: “Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faima, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia”(ASSIS, 2015, p. 674).
Depois de se dedicar às atividades da culinária para sobreviver, a personagem torna-se cúmplice de um romance moralmente condenado pela sociedade da época. Dito isso, a parte discriminada acima revela um narrador que se de um lado invoca as reflexões de Schopenhauer (2016) com o fim de explicar a relação entre a vontade de vida e a sobrevivência da espécie humana para entender o nascimento da personagem, de outro há ironia marcada pelo discurso em que se atesta o que a vida reservou a Plácida, ou seja, exercer ofícios manuais preteridos pela sociedade escravista. Não seria despropósito comparar a opressão imposta a Plácida com a opressão apresentada no Eclesiastes:
A sorte dos oprimidos é sem esperança – Observo ainda as opressões todas que se cometem debaixo do sol:
aí estão as lágrimas dos oprimidos, e não há quem os console.
a força do lado dos opressores, e não há quem os console.
Então eu felicito os mortos que já morreram, mais que os vivos que ainda vivem.
E mais feliz que ambos é aquele que ainda não nasceu, que não vê a maldade que se comete debaixo do sol (Ec 4. 1-3).
O Coélet fluminense, mesmo de maneira breve informa o lugar que a ordem escravocrata reservou a D. Plácida, ou seja, viver a opressão “debaixo do sol” da sociedade hierarquizada e elitista do Brasil Império. Depois disso, o Coélet fluminense retoma as narrativas que envolvem diretamente os dois amantes cuja relação passou por momentos de turbulências que foi provocada com a perspectiva de transferência de Lobo Neves para assumir o governo de uma província no norte do País que acabou desistindo da nomeação. A notícia da gravidez de Virgília, interrompida com a morte da criança, marcou o ápice do romance.
O reatamento das relações familiares com Sabina e Cotrim, bem como o encontro com Eulália e a morte de Lobo Neves encaminham a história para o seu final. Neste contexto as interrupções da narrativa tornam-se mais frequentes e indicam a consolidação da morte como assunto vital para se compreender a presença do pessimismo, do sentido da vida e do Eclesiastes nas Memórias póstumas de Brás Cubas. Um capítulo curto e vital para a compreensão do enredo do livro faz uma brevíssima a ação do tempo sobre a existência humana: Matamos o tempo; o tempo nos enterra (ASSIS, 2015, p. 708). O tempo é o grande responsável pelo aniquilamento paulatino da vida humana. Tanto no texto tecido pelo Coélet fluminense, quanto o do que foi criado pelo Coélet das sagradas escrituras, o tempo é fulcral para se pensar as ações humanas:
Tempo de nascer,
e tempo de morrer;
tempo de plantar,
e tempo de curar;
tempo de destruir,
e tempo de construir.
Tempo de chorar,
e tempo de rir;
tempo de gemer,
e tempo de bailar.
Tempo de atirar pedras,
e tempo de recolher pedras;
tempo de abraçar,
e tempo de se separar.
Tempo de buscar,
e tempo de perder;
tempo de guardar,
e tempo de jogar fora.
Tempo de rasgar,
e tempo de costurar;
tempo de calar,
e tempo de falar,
Tempo de amar,
E tempo de odiar;
tempo de guerra,
e tempo de paz (Ec 3. 2-8).
O tempo que dita o ritmo da vida envolve assuntos que fazem pensar na vida debaixo do sol e o sentido da existência humana. O tempo que mensura os acontecimentos que caracterizam as experiências humanas é uma sequência composta de períodos que desaparecem como névoas de nadas, porque o que ocorre debaixo do sol não é duradouro: “é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 6. 9-10).
Eulália, Nhã-Loló, sobrinha de Cotrim animou o protagonista das Memórias a vislumbrar o matrimônio. Filha de Damasceno, homem portador de hábitos rudes, acabou por falecer, vítima da febre amarela. O narrador mais uma vez oferece ao leitor a perspectiva de refletir sobre a morte na relação com o sentido da vida. Assim, em duas passagens a vida e a morte são assim representadas:
Que há entre a vida e a morte? Uma curta ponte. Não obstante, se eu não compusesse este capítulo, padeceria o leitor um forte abalo, assaz danoso ao efeito do livro. Saltar de um retrato a um epitáfio pode ser real e comum; o leitor, entretanto, não se refugia no livro senão para escapar à vida. Não digo que este pensamento seja meu; digo que há nele uma dose de verdade, e que, ao menos, a forma é pinturesca. E repito: não é meu. (ASSIS, 2015, p. 711)
Miguel de Unamuno (2013) crê que os homens e as mulheres ambicionam a imortalidade. A vida, todavia, deve ser refletida como breve na sua relação com os desejos e as coisas materiais perseguidas e animadas pela vontade de vida, conforme Schopenhauer (2016). O Coélet fluminense que no excerto acima acaba por se aproximar do escritor e criador ao orientar o leitor sobre a brevidade da existência humana, por meio do episódio da morte de Eulália que morreu jovem faz lembrar mais uma passagem do Eclesiastes:
Quanto os homens, penso assim: Deus os põe à prova para mostrar-lhes que são animais. Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro, e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre ao animal, por que tudo é vaidade. (Ec3. 18-19).
Ao afirmar peremptoriamente que os homens e os animais estão sujeitos à mesma sorte, o Coélet alerta sobre a finitude que marca a existência dos seres vivos. A consciência da mortalidade humana não traz muita consolação aos seres humanos, visto que ele é destinado como aos animais a se transformar em pó, pois tudo é vaidade, névoas do nada. Tal passagem enseja indicar que na “curta ponte” que envolve a vida e a morte há a vontade de vida que impulsiona os seres humanos a correrem em direção ao vento que gira para lados diversos. Encontra-se aí, mais uma pista para se encontrar e delinear os traços de várias características do sentido da vida e da presença do Eclesiastes em Memórias póstumas de Brás Cubas.
Ao reencontrar Virgília e de posse dos seus cinquenta anos, Brás Cubas acreditou que atingiu o momento crucial da vida, o que sugeria que ele estava prestes a completar o trajeto sobre a ponte. Ele experimentou a sensação de que a vida “descia pela escada abaixo” (ASSIS, 2015, p. 716). Os anos se passaram e o tempo se impõe de maneira inconteste.
O diálogo entre Quincas Borba e Brás a respeito dos cinquenta anos serviu para que ele vencesse momentaneamente a melancolia. Por meio das suas reflexões, Borba assumiu a figura do filósofo capaz de inspirar e incentivar Cubas a prosseguir a sua vida. A sabedoria e a tenacidade sacudiram o espírito abatido da personagem e ele tentou seguir em frente. Diz o coélet:
Também vi essa sabedoria debaixo do sol, e ela me parece importante:
Havia uma cidade pequena com poucos habitantes. Um grande rei veio contra ela, cercou-a e levantou contra ela obras de assédio. Nela encontrou um homem pobre e sábio, que salvou a cidade com sua sabedoria, mas ninguém se lembrou desse homem pobre. E eu digo:
Mais vale a sabedoria do que a força,
Mas a sabedoria do pobre é desprezada
E ninguém dá ouvidos às suas palavras.
Palavras calmas de sábios são mais ouvidas do que gritos
de quem comanda insensatos.
mais vale sabedoria do que armas,
Mas um só pecador anula muita coisa boa (Ec 9. 13-18).
O Coélet fluminense, por intermédio da figura de Borba que encarnou em certas passagens do livro, a figura do filósofo, ensina ao leitor o valor da sabedoria para o alcance de uma vida com sentido. As últimas partes do romance expõem momentos de decadências de personagens que acabam por aproximar o personagem aos momentos finais da sua vida, narrados nos primeiros capítulos pelo Coélet fluminense. Este que no início do livro contou o encontro da personagem com Pandora e sugeriu ao leitor que tantas vezes foi convidado a travar com ele um diálogo sobre o sentido da vida, assim se despede:
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com suor de meu rosto. Mais; não padeci a morte de d. Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e consequentemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este lado a este lado mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria (ASSIS, 2015, p. 732-733).
O Coélet fluminense termina o relato, tecendo em linhas gerais uma visão pessimista e irônica da existência de Brás Cubas. A vida conduzida pela sabedoria, ideia igualmente proposta pelo Coélet, anima os homens e as mulheres a construírem uma vida menos infeliz.
Procuramos demonstrar como o texto de Machado de Assis incorpora uma visão de vida, da morte e do mundo que ecoa o Eclesiastes bíblico. Procuramos ainda anunciar que o escritor fluminense, por meio do Coélet fluminense reflete em seu texto influências de Michel de Montaigne, Arthur Schopenhauer e Miguel de Unamumo.
Os estudos que se acumulam revelam o interesse dos pesquisadores da Teologia e das Ciências da Religião domínios das Ciências pela obra de Machado, porque suas crônicas, contos e romances expressam visões de mundo que levam a refletir a respeito do sentido da vida e da religião. Os debates a respeito da essência e da aparência humana, norteadoras do comportamento humano indicam a preocupação do escritor com temas filosóficos e religiosos.
Os narradores machadianos fornecem caminhos para a compreensão das meditações em torno do sentido da vida, imprescindíveis para o resgate das mensagens religiosas, em especial as do texto bíblico. O Eclesiastes, por exemplo, é portador de uma série de assuntos e reflexões que não raro impacta o leitor. O Coélet bíblico comentou as efemeridades que determinaram a vida material dos homens.
A narração literária que faz parte da História humana transmite organiza e desenvolve o enredo contado para o leitor. Por intermédio das narrativas o público leitor assimila uma série de ensinamentos e ideias valores e ensinamentos. A religião e os temas religiosos ocuparam um espaço na obra de Machado. Este valorizou e utilizou tópicos das escrituras sagradas cristãs para fundamentar a conduta das suas personagens mais célebres. O texto literário machadiano desperta frequentemente a atenção dos teólogos e cientistas da religião.
Dito isso, o narrador recebeu do artigo uma atenção especial para se pensar o Eclesiastes que ressoa no romance examinado. Machado no século XIX preteriu o modelo narrativo cronológico e priorizou uma narrativa mais introspectiva que consolidou e celebrizou os seus narradores. Em razão disso, houve a abertura para a presença do narrador intruso. O Coélet fluminense que narra e tece conclusões inspirado pelas mensagens do Coélet da Bíblia foi concebido pelo princípio da subjetividade crítica se impõe ao leitor. Em vista disso, há o encontro do narrador com o seu criador.
Por derradeiro, cabe reiterar a singularidade de Memórias póstumas de Brás Cubas e de Machado de Assis cuja obra é uma verdadeira chave de leitura para se pensar o universo religioso. Este tem desafiado os pesquisadores a destrincharem os meandros das relações que envolvem a religião e a literatura. O Eclesiastes, por meio do rigor da sua mensagem que sugere uma vida conduzida pela sabedoria e na crença em Deus foi assimilado pelo Coélet fluminense e forneceu aos leitores lições para se pensar o sentido da vida.
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[1] Utilizo na redação do texto a palavra Coélet, conforme a transliteração da Bíblia de Jerusalém.