Genealogias em espiral em Aline Motta

Autores

Palavras-chave:

Aline Motta, Ancestralidade, Memória, Mortos, Atlântico Negro

Resumo

Este artigo analisa processos de ativação, performatização e invenção de uma memória ancestral afrodiaspórica no livro A água é uma máquina do tempo (2022) e no vídeo Filha Natural (2019), produções de Aline Motta, multiartista contemporânea brasileira. Nesses trabalhos, a exumação poética das vítimas do Atlântico Negro precede a ancestralização de mortas relegadas ao esquecimento pelo poder colonial e seu aparato racial fundante que tensiona o presente. Investigando os atravessamentos traumáticos da escravidão em sua genealogia, Motta revisita fotografias, diários, certidões, jornais e espólios de escravocratas, alocando suas antepassadas como protagonistas dessas materialidades. Revolve-se o arquivo colonial na transcriação estética de suas textualidades e por meio de um corpo que performa e atualiza saberes ancestrais. Assim, o manejo insubordinado com o hibridismo formal do arquivo inscreve, nas malhas da História e das espirais do tempo ancestral, mulheres negras que partilham um importante legado cultural, afetivo e político.     

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Publicado

2025-08-16

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Artigos