O realismo e o fantástico no conto “Sem olhos”, de Machado de Assis: uma investigação cronotópica
Palavras-chave:
Conto, Realismo, Fantástico, Cronotopo, Machado de AssisResumo
O presente artigo analisa o conto “Sem olhos”, de Machado de Assis, e explora as relações entre o realismo e o fantástico com base no conceito de cronotopo, proposto por Mikhail Bakhtin. Nesse sentido, destacamos como o conto questiona a percepção da realidade, ao passo que reflete sobre questões sociais, mantendo a ambiguidade e a incerteza características do fantástico. O nosso estudo identifica no conto uma metadiegese que complexifica os níveis narrativos e evidencia configurações espaço-temporais autônomas, como o cronotopo da reunião noturna e da hospedagem infamiliar, ambos recorrentes na literatura fantástica e gótica. Além disso, nossa pesquisa sustenta que Machado de Assis subverte a dicotomia entre realismo e fantástico, utilizando estratégias discursivas que integram o sobrenatural à construção realista da narrativa. Por fim, destacamos como os paralelismos entre os níveis metadiegéticos moldam uma estética da incerteza, ao passo que questões sociais e psicológicas subjacentes são exploradas.
Referências
AMARAL, Leonardo Brandão de Oliveira. Gárcia Márquez, Cortázar e Rubião: uma caracterologia das representações insólitas da morte em nove contos de autores latino-americanos. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista (Unesp). São José do Rio Preto, 2023. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/6c7acf92-36fc-42c5-96c6-9814ab8ea804/content. Acesso em: 16 jun. 2024.
AMORIM, Marília. Cronotopo e exotopia. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006. pp. 95-114.
ASSIS, Machado de. Sem olhos (1876). In: ASSIS, Machado de. Contos na imprensa – Fase 5 (1876-1877). Editado por Marta de Senna et al. [S. l.]: machadodeassis.net, 2014. Ed. eletrônica. Disponível em: https://machadodeassis.net/texto/sem-olhos/51816. Acesso em: 03 jul. 2024.
BAKHTIN, Mikhail. Teoria do Romance II: as formas do tempo e do cronotopo. Tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018.
BAL, Mieke. Narratologie: les instances du récit. Paris: Klincksieck, 1977.
BORGES, Jorge Luis. O nobre castelo do canto IV. In: BORGES, Jorge Luis. Nove ensaios dantescos & A memória de Shakespeare. Tradução Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. pp. 17-22.
BOSI, Alfredo. Fenomenologia do olhar. In: NOVAES, Adauto (Org.). O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
DRACULA’S Daughter. Directed by Lambert Hillyer. With Otto Kruger, Gloria Holden, Marguerite Churchill, Edward Van Sloan. Los Angeles: Universal Pictures, 1936. 1 MP4 file (71 min), black & white.
FANU, Joseph Sheridan Le. Carmilla: a vampira de Karnstein. Tradução de Giovana Mattoso. Cotia: Pandorga, 2021.
FRANÇA, Julio. Fontes e sentidos do medo como prazer estético. In: FRANÇA, Julio (org.). Insólito, mitos, lendas, crenças. Anais do VII Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional. II Encontro Regional Insólito como Questão na Narrativa Ficcional – Simpósios 2. Rio de Janeiro: Dialogarts, pp. 58-67, 2011. Disponível em: https://www.academia.edu/2002371/Fontes_e_sentidos_do_medo_como_prazer_est%C3%A9tico. Acesso em: 31 ago. 2024.
GENETTE, Gérard. Discurso na narrativa. Tradução de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Editora Vega, 1989.
GONÇALVES, Thamires. Possíveis caminhos para a utilização do medo no conto “Sem Olhos” de Machado de Assis. Machado de Assis em Linha, São Paulo, v. 9, n. 19, pp. 49-63, dezembro, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mael/a/bcz7KCNXFsvnpwQwsw6pZgJ/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 29 jul. 2024.
LOVECRAFT, Howard Phillips. The Dreams in the Witch House. In: LOVECRAFT, Howard Phillips. Tales. Notes and selection by Peter Straub. New York: The Library of America, 2005. pp. 654-691.
MAUPASSANT, Guy de. O Horla e outras histórias. Tradução e seleção de José Thomaz Brum. Porto Alegre: L&PM Editores, 1986.
MORAES, Raíssa; MENEGOTTO, Roberto Rossi. O gótico e o fantástico no conto “Sem olhos”, de Machado de Assis. Miguilim – Revista Eletrônica do Netlli, Crato, v. 13, n. 1, pp. 433-450, jan.-abr. 2024. Disponível em: http://revistas.urca.br/index.php/MigREN/article/view/1303/686. Acesso em: 30 jun. 2024.
PASSOS, Cleusa Rios Pinheiro. Breves considerações sobre o conto moderno. In: BOSI, Viviana et al. (org.). Ficções: leitores e leituras. São Paulo: Ateliê, 2001. pp. 67-90.
ROAS, David. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. Tradução Julian Fuks. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
SHELLEY, Mary Wollstonecraft. Frankenstein: ou o Prometeu moderno. Tradução de Rafaela Caetano. São Paulo: Excelsior, 2019.
SOUZA, Meira Cardoso de Valdira. Sem olhos: uma a narrativa fantástica de Machado de Assis. In: GARCIA, Flavio; PINTO, Marcello de Oliveira; MICHELLI, Regina Silva (org.) Insólito, mitos, lendas, crenças. Anais do VII Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional. II Encontro Nacional O Insólito como Questão na Narrativa Ficcional – Comunicações Livres. Rio de Janeiro: Dialogarts, pp. 175-187, 2011. Disponível em: https://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/vii_painel_ii_enc_nac_comun_livres.pdf. Acesso em: 31 ago. 2024.
STOKER, Bram. Drácula. Tradução de Cássio Yamamura. São Paulo: Excelsior, 2020.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2017.
WAKI, Fábio. O medo en abîme: o fantástico à luz do realismo no conto “Sem Olhos” de Machado de Assis. Études Études Romanes de Brno, Brno, v. 40, n. 2, pp. 25-39, 2019. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/106888/1/Fear-in-Abme-The-fantastic-in-the-light-of-realism-in-Machado-de-Assiss-short-story-Sem-OlhosEtudes-Romanes-de-Brno.pdf. Acesso em: 01 ago. 2024.
WALPOLE, Horace. The Castle of Otranto. New York: Open Road Media, 2014.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. Os autores concedem à revista todos os direitos autorais referentes aos trabalhos publicados. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores.