O ano que não terminou

Desengajamento militante e inadaptação na geração de 1968 brasileira

Autores

Palavras-chave:

desengajamento militante, geração de 1968', Inadaptação, Reinserção social, Ditadura civil-militar

Resumo

Embora a geração de 1968 no Brasil, especialmente os que se engajaram na luta armada contra a ditadura civil-militar, tenha sido objeto de considerável estudo, há uma carência de abordagens sobre a “viagem através do tempo” dessa geração. Persiste uma lacuna bibliográfica acerca da reinserção social dos indivíduos que vivenciaram clandestinidade, prisão, tortura e exílio. Este artigo, ancorado na sociologia do engajamento militante, tem por objetivo analisar as trajetórias de Celso de Castro, Gustavo Buarque Schiller e Vera Sílvia Magalhães, evidenciando as dificuldades enfrentadas no retorno à sociedade pós-ditadura. Essas adversidades, que resultaram em suicídios e transtornos mentais, ilustram a incongruência entre os valores da geração de 1968 e a nova configuração social brasileira que emergiu após a Anistia.

Biografia do Autor

Higor Codarin, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense.
Atualmente é pós-doutorando em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas.

Referências

Fontes documentais

Arnaldo Chain. Entrevistador Higor Codarin. 05/2019.

Daniel Aarão Reis. Entrevistador Higor Codarin. 09/2019.

Raimundo Arroio. Entrevistador Higor Codarin. 10/2020.

BRASIL, Leis de nº 6.683/79; 9140/95; 10.536/2002 e 10.875/2004. Disponíveis em: https://www.planalto.gov.br/ Acesso: 10 de set. 2024.

CASTRO, F. de. Diário de uma busca. [Documentário] 2011.

COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS. Processo nº 066/02. Gustavo Buarque Schiller. 187f. 2002. In: Arquivo Nacional, Fundo Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos. Código de referência: BR DFANBSB AT0.0.0.291. Acesso em: 10 set. 2024.

CUNHA GOMES, L. Laudo médico pericial. Mimeo. 10f. 2003. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Fundo Vera Sílvia Magalhães, Caixa 1, Documentos Pessoais II (Relatórios médicos).

DE PAIVA, P. H. Relatório médico sobre Vera. 1f. 1999. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Fundo Vera Sílvia Magalhães, Caixa 1, Documentos Pessoais II (Relatórios médicos).

GEISEL, E. Discurso feito aos dirigentes da Arena. 1974. Disponível em: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/ernesto-geisel/discursos/1974/17.pdf/view. Acesso em: 10 set. 2024.

MAGALHÃES, V. S. Entrevista concedida a Marcelo Ridenti. In: Arquivo Edgar Leuenroth. Militância Política e Luta Armada, 1986.

MAGALHÃES, V. S. Entrevista concedida a Denise Rollemberg. In: Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI-UFF), Política no Brasil: Exílio, 1994.

MAGALHÃES, V. S. Entrevista concedida a Arnaldo Chain, Carlos Zílio, Daniel Aarão Reis Filho, Glória Ferreira, Leilah Landim e Paulo Sérgio Duarte In: Arquivo pessoal de Glória Ferreira, 1998.

O GLOBO, 30 abr. 2002. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/. Acesso em: 10 set. 2024.

O GLOBO, 23 mar. 2003. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/. Acesso em: 10 set. 2024.

O GLOBO, 7 dez. 1997. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/. Acesso em: 10 set. 2024.

SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES (SNI). Informação nº018/16/APA/84. 71f. 1984. Arquivo Nacional, fundo Serviço Nacional de Informações. Código de referência: BR DFANBSB V8.MIC, GNC.GGG.84010036. Acesso em: 10 set. 2024.

Referências bibliográficas

AARÃO REIS FILHO, D. A revolução faltou ao encontro: Os comunistas no Brasil. Brasiliense, 1990.

AARÃO REIS FILHO, D. O governo Lula: das utopias revolucionárias à política como arte do possível. Revista USP, [s.l.], n. 65, p. 64-73, 2005. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i65p64-73. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13410. Acesso em: 10 set. 2024.

ARAUJO, M. P. N. A utopia fragmentada: As novas esquerdas no Brasil e no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.

ARAUJO, M. P. N. “Lutas democráticas contra a ditadura.” In: FERREIRA, J.; AARÃO REIS, D. Revolução e democracia (1964 -...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. v. 3, p. 321-354.

ARAUJO, M. P. N. “Uma história oral da anistia no Brasil: memória, testemunho e superação.” In: ARAUJO, M. P. N.; MONTENEGRO, A. T.; RODEGHERO, C. S. (org.). Marcas da memória: história oral da anistia no Brasil. 1. ed. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco, 2012. v. 1, p. 53-95.

BLOCH, E. O princípio esperança. Tomo I. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.

CAMUS, A. O homem revoltado. 9. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2011.

CAMURÇA, M. A. “A militância de esquerda (cristã) de Leonardo Boff e Frei Betto: da Teologia da Libertação à mística ecológica” In: AARÃO REIS FILHO, D.; FERREIRA, J. (org.). Revolução e democracia (1964 -...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 387-408.

CASTRO, J. P. M. E. Ritos da memória: trajetórias e experiências sobre a ditadura militar. Mana, v. 20, n. 1, p. 7–38, abr. 2014.

CHAMISSO, A. von. A história maravilhosa de Peter Schlemihl. São Paulo: Estação Liberdade, 1989.

COHN-BENDIT, D. 1968. A revolução que tanto amámos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1988.

DELSUEIL, M.-C.; RICHARD, G.; VASQUEZ, A. Psychologie de l’exil. Esprit, n. 30, p. 9-21, 1979.

DA COSTA, H. O novo sindicalismo e a CUT: entre continuidades e rupturas. In: AARÃO REIS FILHO, D.; FERREIRA, J. (org.). Revolução e democracia (1964 -...). 2007, p. 595-636.

DEBRAY, R. Revolução na Revolução? São Paulo: Centro Ed. Latino-Americano, s.d.

FICO, C. Como eles agiam. Os subterrâneos da Ditadura Militar: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.

FICO, C. A negociação parlamentar da anistia de 1979 e o chamado “perdão aos torturadores”. Revista Anistia Política e Justiça de Transição, Brasília, Ministério da Justiça, n. 4, p. 318-333, jul./dez. 2010.

FILLIEULE, O. Le désengajament militant. Paris: Belin, 2005.

FROMM, E. Conceito marxista de homem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1962.

GINZBURG, C. O queijo e os vermes. O cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. 2. ed. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006.

GARAUDY, R. Perspectivas do homem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

GORENDER, J. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: Das ilusões perdidas à luta armada. Expressão Popular/Perseu Ábramo, 2014.

GUEVARA, E. Guerra de Guerrilhas. 10ª ed. São Paulo: edições populares, 1987.

GUEVARA, E. Obras Escogidas. Santiago: Resma, 2004.

LECLERQ, C.; PAGIS, J. « Les incidences biographiques de l’engagement. » Sociétés Contemporaines, n. 84, p. 5-23, 2011/4.

LEVI, G. “Usos da biografia.” In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. (orgs.). Usos & Abusos da História Oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 167-182.

MARCUSE, H. A ideologia da Sociedade Industrial. O Homem unidimensional. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

MARX, K. Manuscritos Econômico-filosóficos (1844). São Paulo: Boitempo, 2004.

McADAM, D. “The Biographical Consequences of Activism.” American Sociological Review, v. 54, n. 5, p. 744–760, 1989. https://doi.org/10.2307/2117751. Acesso: 10 de setembro de 2024

MONTEIRO, T. W. N. G. Como pode um povo viver nesta carestia: o movimento do custo de vida em São Paulo (1973-1982). 2015. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-11032016-132815/pt-br.php. Acesso em: 10 set. 2024.

PATTO SÁ MOTTA, R. As universidades e o regime militar: cultura política brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

POLARI DE ALVERGA, A. Inventário de cicatrizes. 2. ed. Rio de Janeiro: Comitê Brasileiro pela Anistia, 1978.

RIDENTI, M. O fantasma da revolução brasileira. 2ª ed. Editora da UNESP, 2010.

RODEGHERO, C. S. “A anistia de 1979 e as heranças da ditadura.” In: FERREIRA, J.; NEVES DELGADO, L. de A. (org.). O Brasil republicano. (Vol. 4). O tempo do regime autoritário: ditadura militar e redemocratização. 9. ed. (digital) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.

RODEGHERO, C. S. “A Anistia de 1979 e seus significados, ontem e hoje.” In: AARÃO REIS FILHO, D.; PATTO SÁ MOTTA, R.; RIDENTI, M. (org.). A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe de 1964. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p. 172-185.

ROLLEMBERG, D. Esquecimento das memórias. In: MARTINS FILHO, J. R. (org.). O golpe de 1964 e o regime militar. São Carlos: Ed. UFSCar, 2006.

ROLLEMBERG, D. Exílio. Entre raízes e radares. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999.

SALES, J. R. Resistência, revolução e democracia: o debate sobre a luta armada na esquerda brasileira (1969-1985). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 31, p. e0206, 2020. DOI: 10.5965/2175180312312020e0206. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180312312020e0206. Acesso em: 28 nov. 2024.

SAWICKI, F.; SIMÉANT, J. Décloisonner la sociologie de l’engagement militant. Note critique sur quelques tendances récentes des trabalhos français. Sociologie du travail, v. 51, n. 1, p. 97-125, janv./mars 2009. https://doi.org/10.4000/sdt.16032.

SILVA, M. K.; RUSKOWSKI, B. de O. Condições e mecanismos do engajamento militante: um modelo de análise. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 21, 2016, p. 187-226.

SIRINELLI, J.-F. A Geração. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. (orgs.). Usos & Abusos da História Oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 131-138.

SIRINELLI, J.-F. Effets D’Age et Phénomènes de Génération dans le Milieu Intellectuel Français. Cahiers de L’Institut D’Histoire du Temps Présent: Générations Intellectuelles, n. 6, p. 5-18, nov. 1987.

SIRINELLI, J.-F. Os intelectuais. In: RÉMOND, R. (org.). Por uma história política. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 231-270.

VENTURA, Z. 1968. O ano que não terminou. São Paulo: Círculo do Livro, 1988.

Downloads

Publicado

2025-04-27